teologia para leigos

6 de julho de 2012

ROMPER COM O TEMPLO E O SACERDÓCIO [J.A. ESTRADA]

COMO SURGIU A IGREJA?
A rotura com o Templo e com o sacerdócio judaico





Conjuntamente com a expansão missionária, que criou igrejas mistas de judeus e gentios, desempenhou um papel importante a aniquilação do poder sacerdotal e o surgimento de um judaísmo farisaico, rabínico e laico. A destruição do Templo de Jerusalém na guerra judaica, não só produziu um choque no judaísmo, como também teve consequências para o cristianismo. A religião judaica era essencialmente cultual, caracterizava-se por uma grande quantidade de sacrifícios e estava centrada no único templo de Jerusalém, ao qual peregrinavam os judeus do Império. A importância do segundo templo, depois da destruição do (outro) de Salomão, ampliado e enriquecido por Herodes e amplamente descrito por Flávio Josefo (Ant. XV,11,3) era indiscutível. O santuário era o lugar por excelência de Deus no mundo (1Rs 8), a chave a partir da qual se percebia a primazia de Israel sobre todos os outros povos. A guerra judaica terminou com a destruição do templo e em Jerusalém instalou-se uma legião romana. Segundo Flávio Josefo, houve uma confiscação de todas as propriedades dos judeus a favor de César. O poder imperial aniquilou o sacerdotal, o imposto do templo foi integrado nos tributos a César e os romanos tomaram conta do tesouro do templo. Levaram tal quantidade de metais preciosos para Roma, a tal ponto que, ao colocá-los em circulação, baixou o valor do ouro e isso produziu uma inflação no Império.

Israel era o povo eleito e consagrado por Deus, isto é, face aos pagãos, era um povo sacerdotal.

A tribo de Levi era a porção eleita (o «clero») que Deus reservara dentro de Israel, e as grandes famílias sacerdotais referiam-se ao sacerdote Aarão [Ex 4:14] para legitimar o seu poder. Por outro lado, o Templo, como lugar de Deus na terra (Mt 12:5-6; 21:12-14; Lc 2:27.37; 18:10; Act 21:26-30), era o centro da vida cultual judaica e era a base do comércio e da economia, assim como era um elemento de indiscutível influência política. As famílias sacerdotais, concorrentes entre si e controladas pelo governo romano, tinham, à custa das suas funções sagradas, um grande domínio sobre o povo que, por sua vez, dependia do culto e do templo. As correntes proféticas foram sempre muito críticas para com o templo, o culto e os sacerdotes, valorizando a ética e a interiorização da religião, o mesmo fazendo, depois, o próprio cristianismo (Mt 19:13; 12:7; 15:4-9).

A passagem duma religião do templo para a religião ‘do Livro’, a passagem do governo sacerdotal para o dos laicos (fariseus e rabinos), do culto sacrificial para o monopólio da sinagoga transformou a identidade judaica. Foi uma autêntica refundação do judaísmo, graças à qual o Império romano sobreviveu. Após a guerra judaica conservaram-se alguns elementos da velha teologia no que diz respeito ao monte e à cidade santa como lugares santos de peregrinação, e persistia ainda a esperança da vinda dum messias restaurador do templo. Houve também uma adaptação da legislação cultual anterior em favor da sinagoga, agora transformada em centro da piedade e doutrina judaicas. O poder sacerdotal perdeu definitivamente a sua base social: por causa da sua corrupção, por causa do colaboracionismo romano e pela ilegitimidade das famílias sacerdotais reinantes. O binómio Lei-Templo, dentro do contexto da aliança entre Deus e Israel, permitiu a concentração na Thora e no rabinismo, factor fundamental para a subsistência de Israel como povo.

Este é o contexto em que se deve avaliar a postura dos cristãos de proveniência judaica, os quais provavelmente nunca participaram na guerra judaica (66-70) contra os romanos. Muitos autores defendem que a rotura entre o cristianismo e Israel se deveu à dupla acusação (de heresia e traição à pátria) por parte dos judeus contra os judeo-cristãos. É certo que as tradições cristãs remetem para a crítica profética ao templo com a qual o próprio Jesus sintonizava (Mt 11:15-19; Lc 24:53), templo que Jesus usou como lugar habitual de ensino (Mt 21:23; Mc 12:35; Lc 2:46), como lugar de curas e milagres (Mt 21:14-15) e como lugar de confrontação teórica e prática com as autoridades judaicas (Mc 12:41-44; Mt 21:23-27; Lc 19:47). À luz do anúncio da ressurreição, ganhou força a teologia que anunciava o final dos tempos como sinal da superioridade de Jesus (Mt 12:6).

Aconteceu, porém, uma evolução das relações entre os judeo-cristãos e os judeus-judeus, desde as visitas iniciais dos judeo-cristãos ao templo (Act 2:46-47; 3:1; 5:12.20-25; 21:26; 22:17) até ao distanciamento final fruto da crítica dos helenistas (e grupos afins), que anunciavam o fim definitivo do Templo  de Jerusalém (Mc 11:15-19; 13.1-14; Mt 21:12-17; 23:34-38; 24:1-2; Jo 2:13-22; 4:19-26; Act 7:48-50).

Com o advento dos primeiros judeo-cristãos, aconteceu uma superação do Templo em favor da comunidade [de primeiros cristãos]. Cristo e a sua Igreja passaram a ser o novo lugar da presença divina no mundo. Deus estava presente no novo templo comunitário (Mt 18:20; 28:20; 1 Cor 3:16-17) segundo uma linha já apontada pelas comunidades de Qümran (1QS 8,7; Act 2:13; 2 Cor 6:16-17), reforçada, ao mesmo tempo, pelas críticas dos samaritanos contra o templo de Jerusalém (Jo 4:21-26). Esta interpretação serviu para dar significado teológico à destruição do templo. O acontecimento (a destruição do Templo de Jerusalém) foi relacionado com Jesus, não sabemos se como prophetia ex eventu ou porque Jesus previu de facto a destruição final do templo (Mc 13:2; Mt 26:61; Jo 2:19; Act 6:13-14). Proclamou-se que Jesus havia anunciado a sua reconstrução em três dias (Mc 14:58; Mt 26:61; Jo 2:19) e que a ressurreição confirmava que o seu corpo era o novo templo. Não só se apresentava Jesus como um profeta crítico, mas também como o novo referente da presença divina no mundo.
Desta forma radicalizava-se a crítica profética e dava-se uma nova ênfase à transcendência divina, fazendo da cruz o centro da revelação. A comunidade [dos primeiros cristãos] via-se como o lugar da presença de Deus (Mt 18:18-20; 24:1-2.30-31; 28:20). Os cristãos colaram as críticas proféticas ao templo às críticas do próprio Jesus e fizeram da comunidade a alternativa ao templo destruído. Combinavam assim crítica e apologética para sustentar que o cristianismo era o herdeiro da história sagrada judaica.

Dentro do cristianismo havia diversas tradições a respeito de Israel. Seja como for, a destruição do templo foi lida como o fim duma época salvífica (Mt 27:51-54; Act 7:41-50). A partir daí iniciava-se uma nova época em que o corpo ressuscitado de Jesus substituía o templo e em que a sua vida marcava um novo modelo de culto e de sacerdócio (Jo 4:21-24; 6:62-63). A morte de Jesus era o novo sacrifício que anulava os restantes, sendo Jesus o novo sacerdote, que com a sua vida inaugurava uma nova forma de relação com Deus. A própria presença de judeo-cristãos procedentes da Samaria favoreceu esta concepção: estes atacavam o núcleo das prerrogativas dos hebreus e, dentro destas, o poder sacerdotal. O cristianismo juntou-se às correntes proféticas e críticas do judaísmo através duma cristologização do reino de Deus, do templo, do culto e do sacerdócio, o que lhe permitiu distanciar-se das concepções anteriores.



a 'domus' romana


Inicialmente, o cristianismo surgiu como uma religião sem templo, sendo, as casas, os lugares de reunião e de culto ao longo de quase todo o século II (Act 10:22-23; 11:3.12-14; 16:15.31-32; 17: 5-7; 18:7-11; 20:7-8; Rm 16:5; 1Cor 1:16; 16:19; Col 4:15).
Foi também uma religião de leigos, apesar de haver cargos e funções; o cristianismo foi-se desenvolvendo numa linha convergente com o judaísmo do pós-guerra (66-70) no que diz respeito à ausência de poder sacerdotal.

As igrejas domésticas foram a alternativa cristã às sinagogas do judaísmo, acentuando mais as relações interpessoais comunitárias que a dimensão geográfica. Esta interpretação teológica, radicalizada por Estêvão e Paulo, porta-vozes das correntes helenísticas e gentílica, atacava frontalmente o judaísmo proclamando o seu desfasamento face à história de salvação e sublinhando a superioridade das novas comunidades cristãs. Elas não só criticavam o sacerdócio e o culto judaicos recentemente reformulados segundo os novos moldes dos fariseus e rabinos do pós-guerra (66-70), como também questionavam a necessidade da instauração do templo salomónico e a necessidade da existência dum sacerdócio consagrado intra-judaico.

Esta foi uma das causas do enfrentamento entre ambas as comunidades (judaica e judeo-cristã), do linchamento de Estêvão (Act 7:54-60), da perseguição dos seus seguidores helenistas (Act 8:1-5.14; 9:1-2.26-31) e da hostilidade contra Paulo.

O cristianismo procedeu também a uma dessacralização dos cultos e santuários pagãos (Act 19:24-29.34-35). O baptismo e a eucaristia foram as novas marcas da identidade cristã, ambos remetendo para a cruz de Cristo (Mc 10:39; Mt 20-22-23), da qual deduziam uma nova forma de entender o culto, o templo e o sacerdócio. Do ritual de sacrifícios habituais passou-se a um novo culto existencial a partir da interpretação sacrificial da morte de Cristo (1Cor 5:7; Rm 3:25; 5:6.9; Jo 2:22; 4:10; Heb 9:11-15.23.25-28; 13:11-12). A ideia joânica de que Cristo é o Cordeiro de Deus, bem como a interpretação sacrificial da morte de Jesus facilitou a superação da concepção judaica. Não só se criticou o culto e o sacerdócio, tal como o fizeram os profetas anteriores, como se alterou a ideia acerca do sacerdócio. Colocou-se a ênfase no culto das pessoas que faziam do seguimento e da solidariedade com os outros a base da sua relação com Deus (Rm 12:1-2; 15:16; Flp 2:17; 4:18; Heb 12:3-4). Isto foi visto como um novo culto, em espírito e em verdade (Jo 2:19-22; 4:21-24; 1Pe 2:5) centrado no baptismo e na eucaristia (Jo 3:5; 6:51-55; 19:34-55), os quais remetiam para o significado martirial da vida de Jesus (Ap 5:8-14; 21:22-27). Neste contexto, adquiriu uma grande importância a liturgia da palavra, que recolhia textos do Antigo Testamento, da vida de Jesus e os comentários dos grandes apóstolos e de personalidades cristãs.

Surgiu, assim, um movimento paralelo à sinagoga, com um novo corpo de escritos fundacionais, a que chamamos Canon do Novo Testamento, paralelamente ao canon do judaísmo (Ef 5:19-20), os quais eram a base da nova liturgia. A Bíblia cristã foi feita a partir dos textos judaicos, chamados Antigo Testamento, e textos do cristianismo primitivo o Novo Testamento ambos subordinados à ideia da aliança entre Deus e o povo. A isto acrescentou-se a importância do novo sacerdócio, o qual já não era entendido como uma consagração ritual à maneira tradicional judaica que produzia uma casta sacerdotal e a separava do povo, mas segundo uma forma de vida solidária e comum com os demais igualmente assim foi interpretado o sacerdócio de Jesus.


levitas



No Antigo Testamento e no judaísmo posterior existe ampla teologia acerca de Israel como ‘povo sacerdotal’ (Ex 19:6), como ‘mediador’ num contexto de aliança entre Deus e a humanidade. Moisés era, por excelência, o legislador das funções sacerdotais (Ex 24:4-11; 40:29-31); a tribo de Levi era considerada à parte (Nm 3:1-4.6-13.49) e as famílias sacerdotais estavam vinculadas a Aarão (Ex 29:1-37; Lv 6:8), que era o protótipo do sacerdócio. Podemos, portanto, falar dum povo sacerdotal e, dentro de Israel, de uma tribo e de famílias sacerdotais apartadas do povo.

As tradições hebraicas sobre o sacerdote têm o seu núcleo no Livro do Levítico, documento que recolhe a legislação de distintas épocas e determina com minúcia as leis, as funções, as obrigações e os direitos do sacerdote dentro de Israel. Eis o porquê do carácter assimétrico e separado do sacerdócio judaico (Dt 33:8-11), constituído por pessoas sagradas (Lv 9:3; 21:1-24), pessoas consagradas (Ex 29:1-37) com competências exclusivas no que diz respeito às relações com Deus. O «pontífice» é o que estende a ponte entre Deus e os homens e que, na época de Jesus, exerce domínio sobre um colégio de famílias sacerdotais, entre as quais se destacava Ananías e o seu genro Caifás. A esses pontífices se faz referência 62 vezes nos evangelhos e no Novo Testamento. Após a guerra (66-70) houve uma mudança passando os rabinos a liderar o povo e a apresentarem-se como sucessores de Moisés e dos profetas. A literatura posterior culpou os sacerdotes pela destruição do templo, culpou-os de avareza e de exploração do povo, bem como de interpretações abusivas da Escritura. O judaísmo transformou-se numa religião de leigos cuja liderança estava a cargo dos chefes de família patriarcais e de rabinos. Mantiveram o carácter sacerdotal de Israel vocacionado para a salvação do conjunto das nações, mas perdeu-se a tradição cultual levítica e sacerdotal, até que chegassem os finais dos tempos, altura para um sacerdócio e culto messiânico com a chegada do messias.

Os cristãos fizeram da necessidade virtude.
Jesus de Nazaré era um leigo, sem participação no sacerdócio judaico (Heb 7:13-14); morreu profanamente, sem consagração alguma (Heb 11:26; 13:12-13). Novidade novidade era o seu estilo de vida (Heb 2:14-16), a sua solidariedade e a sua semelhança com os homens comuns (Heb 2:9-11.17-18; 4:15-16), estando em contraste com a distanciação e os privilégios que o clero hebraico exigia. Os cristãos viam Jesus como o novo homem caracterizado pela proximidade existencial para com todos, lugar a partir do qual se faz juiz e intercessor diante de Deus (Heb 8). No lugar da dignidade do cargo colocava-se a dignidade da vida, na qual coincidiam sacerdote e vítima (Heb 7:24-27; 5:9). O que os cristãos apresentaram foi um estilo de vida, ao qual chamaram sacerdotal, mas que já não se baseava numa consagração à parte, nem numa pertença a uma colectividade separada. O sacerdócio deixou de ser uma dignidade para se transformar numa forma de ser e de viver que a todos dizia respeito.

A novidade, no que às correntes críticas judaicas diz respeito, era que deixara de haver mediadores e sacerdotes dentro da comunidade, nem sequer era admitida uma inicial consagração sacerdotal distinta do baptismo. Os cristão assumiram o papel sacerdotal de Israel, num contexto universal, reclamando-o para si, mas acrescentando um sacerdócio igualitário para todos no qual não existiam privilégios como os dos levitas e os das famílias sacerdotais. Esta tendência era diferente, ainda que convergente, no que respeita ao judaísmo dos finais do século. Uma diferença fundamental radicava na distância crítica face ao próprio sacerdócio moisaico, o qual consideravam ultrapassado. Acabavam, assim, as expectativas quanto à restauração do sacerdócio intra-judaico, pois não esperavam messias algum. Consideravam Jesus como messias, o qual não veio para restaurar o legítimo sacerdócio por oposição às mais que corrompidas famílias sacerdotais, mas veio para o abolir em favor do igualitarismo de todos os membros da comunidade. Como Jesus era o mediador final entre Deus e os homens, já não fazia mais falta pontífices (pontes), pois todos tinham acesso a Deus já que foram ungidos pelo Espírito (1Jo 2:1.20.27).





A partir deste ponto, o sacerdócio foi outorgado a todos os seguidores, integrando-os no modelo de seguimento de Jesus. A Igreja pós-pascal considerava-se toda ela sacerdotal (1Pe 2:5.9; Ap 1:6; 5:10; 20:6; 21:22). Nos escritos do Novo Testamento não existem sacerdotes separados consagrados a Deus, sendo toda a comunidade laica e sacerdotal ao mesmo tempo, sendo o baptismo a consagração cristã por antonomasia. O sacerdócio entende-se como uma forma de relação entre Deus e os homens, na qual predominam os aspectos éticos e existenciais, e não os cultuais e sagrados. Como movimento comunitário, carismático e laico, não tinha templo, nem sacerdotes, pois a comunidade era ambas as coisas. Todos eram sacerdotes, no entanto, não havia nenhum cargo nem dignidade sacerdotal dentro da comunidade. O sacerdócio universal de Israel para com as outras nações, os cristãos o reclamavam para si, porém sem a assimetria sacerdotes/leigos.

Estas características, que mudaram progressivamente a partir da segunda metade do século II, explicam a rejeição que inicialmente os cristãos provocaram nos judeus, tal como entre os cidadãos do Império romano. Eram acusados de ateus, de gente sem religião, de ímpios precisamente pela rotura que introduziam nas tradições religiosas da época.

A partir daqui há que explicar o progressivo processo de sacralização, de sacerdotização e de rejudaização que se deu na comunidade cristã. Passou-se da comunidade aos ministros, criou-se um clero e uma hierarquia não só diferenciada da comunidade, mas, na prática, superior a ela, acumularam-se privilégios e funções em analogia com o sacerdócio judaico e pagão romano. A partir do século II, nota-se uma crescente tendência para tomar o Antigo Testamento como referência inspiradora e uma outra tendência para sacerdotizar os cargos.

A evolução consistiu numa perda de conteúdo do carácter sacerdotal de todos os cristãos. A comunidade, no seu todo, perdeu protagonismo os leigos, sobretudo em favor duma crescente sacerdotização dos ministros, estes cada vez mais influenciados pelos modelos do Antigo Testamento e das religiões do Império. A originalidade e a especificidade do cristianismo primitivo foi-se diluindo com o passar do tempo, impondo-se uma inculturação que fez com que o cristianismo se parecesse cada vez mais com as outras religiões do Império e, sobretudo, com o monoteísmo judaico.

Quanto mais se sacerdotizava a hierarquia, mais laica se tornava a comunidade.

O dualismo consagrados/profanos começou a equiparar-se com o de clero/leigos e as ideias de consagração, de segregação e de superioridade configuraram uma nova teologia dos ministérios. Este longo processo faz parte da helenização do cristianismo, faz parte da sua inculturação e faz parte de uma crescente judaização, sobretudo a partir da segunda metade do século III. O cristianismo lutou contra os judeus, mas apropriou-se das suas escrituras, das suas tradições e das suas instituições. A apologética defensiva era uma das faces da frente anti-judaica, a outra face consistia em assimilar as suas influências, porque os cristãos consideravam-se seus herdeiros.

O Antigo Testamento e as tradições judaicas serviram de modelos e de referente para o processo crescente de institucionalização e de eclesialização das comunidades cristãs. Essa herança manteve-se até hoje.


Juan Antonio Estrada, sj
‘Las Primeras Comunidades Cristianas’, Ed. Trotta 2006, pp. 138-144.