teologia para leigos

24 de junho de 2017

O SURPREENDENTE REGRESSO DA ÉTICA DE ARISTÓTELES [ALBERTO DE MINGO KAMINOUCHI]

Parece uma livraria, no Porto! E não é? Não é não. É um "clic… e já está!" (no papo)
Hoje, a dieta (o sentido) da vida humana é assim: uma angustiante fome de clic’s... e de adelgaçantes 'dilites'.
Passemos, agora, ao que importa − “food for thought” − e viremos as costas à comida que querem que comamos à força (cf. Sónia Sapage, Público, 19-06-2017)©pb



O CONTRIBUTO DA ÉTICA ARISTOTÉLICA
PARA A ÉTICA CRISTÃ DOS TEMPOS MODERNOS


(…) «Grande parte da filosofia política da Modernidade assumiu como missão sustentar a legitimidade das regras do jogo, as quais protegem a liberdade e a igualdade de oportunidades para todos, só que, agora, constatamos que há que levar o diálogo ético para lá dum simples acordo acerca de regras e procedimentos. Dito de outro modo, temos de falar também dos conteúdos do bem comum, o qual não pode ser entendido apenas como propriedade material. A asserção que diz «o dinheiro não faz felicidade» aplica-se também ao âmbito social. A verdadeira felicidade da qual falam, quer Aristóteles, quer os seus intérpretes judeus, muçulmanos e cristãos na Idade Média consiste em partilhar um projecto social e não em produzir mais e mais e em que cada um consuma, a seu bel-prazer, o que conseguiu adquirir. O individualismo da nossa cultura tem causas estruturais e tem de ser analisado também do ponto de vista político.

«Não queremos nem podemos permitir que o Estado imponha coercivamente um modelo de felicidade obrigatório para todo o planeta, mas isso não impede que os cidadãos possam fazer do espaço público um espaço de diálogo onde exponham, conversem e discutam as suas convicções acerca do que é, para eles, uma «vida boa».

«Analistas de sensibilidades diversas diagnosticaram uma crise de solidariedade nas nossas sociedades. Um filósofo tão comprometido com a tradição da secularização ilustrada como é Jürgen Habermas defendeu recentemente que «também é do interesse do próprio Estado constitucional tratar com respeito e cuidado de todas as fontes culturais [especialmente a religião] donde se alimenta a consciência normativa da solidariedade dos cidadãos»[1]. Numa sociedade verdadeiramente plural e solidária, não basta tolerarmo-nos mutuamente: temos de dialogar sobre a finalidade, os propósitos, quer da nossa vida pessoal, quer da nossa vida social. Perguntas como "Que sentido dou à minha vida?" ou "Qual é a minha ideia de sociedade feliz?" devem regressar ao fórum público, e aí, então, os cristãos — com a máxima humildade, sem arrogância verbal alguma, e sem a mínima intenção de impor o que quer que seja a ninguém — temos meia dúzia de coisas a propor. (…)»

Alberto de Mingo Kaminouchi, redentorista




[1] J. Habermas, «Entre naturalismo y religión», Barcelona 2006.