SALÁRIO MÉDIO
DEVE CAIR 452 EUROS/ANO
Abebe Selassie |
Segundo as suas estimativas, até ao
final do programa de ajustamento, em 2014,
cada empregado estará a ganhar, em média, entre 452
e 491 euros a menos por ano, face a 2011.
No ano passado, cada trabalhador por
conta de outrem teve uma remuneração média anual de 20,3 mil euros. Para 2014,
a Comissão Europeia espera que o ganho anual caia para 19 809 euros, enquanto o
FMI antecipa uma redução para 19 848 euros. Ou seja, terminada a intervenção,
serão menos 491 e 452 euros/ano, respetivamente. No Documento de Estratégia
Orçamental, o Governo estima uma quebra mais leve: 293 euros.
O desfasamento entre as previsões
concentra-se sobretudo em 2013, ano em que o Executivo de Passos Coelho espera
um crescimento da massa salarial de 0,7%.
Por seu lado, a troika estima que o
movimento de contração salarial na economia se
deverá prolongar-se por mais um ano, iniciando a recuperação apenas
em 2014.
Esta quebra salarial é, não só
prevista, como desejada pela troika. “Com a necessidade de uma melhoria rápida
da competitividade [para as empresas exportadoras lucrarem mais e crescerem],
serão necessárias mais medidas para suportar um ajustamento salarial em linha com a produtividade”,
escreve a Comissão.
Apesar do repto, o FMI reconhece que os salários estão a cair mais que o
estimado. Um efeito especialmente sentido entre os trabalhadores do
Estado, mas tem também no setor dos serviços. Isto é, os salários, não só estão
a descer mais do que o esperado, como ainda terão de cair mais.
“Os desenvolvimentos dos últimos trimestres
apontam para uma maior redução das remunerações do que tem ocorrido
historicamente, o que seria expectável devido à forte recessão”, explicou Abebe Selassie,
numa conferência pelo telefone.
Contudo, o líder da troika
acrescentou que “este programa não pode ser bem sucedido apenas com cortes
salariais” e que espera que o défice de competitividade nacional seja reduzido,
“tanto com mais produtividade como com um crescimento mais baixo dos salários”.
Como se pode
pressionar mais os salários do privado?
Até final de Setembro, o Governo
deverá avançar com duas alterações legislativas decisivas. Por um
lado, reduzirá o valor das indemnizações por despedimento para 8 a 12
dias por ano de trabalho, aplicando a medida a novos e antigos contratados
(quem já está no mercado de trabalho conserva os direitos adquiridos). Por
outro lado, irá rever o regime de definição de salário em contratação
colectiva, procurando impedir “extensões quase automáticas de
acordos salariais a setores inteiros” e favorecendo negociações empresa a empresa.
Luís
Reis Ribeiro
Nuno
Aguiar
Jornal
de Notícias,
18:VII:2012