Clandestinos
morrem de sede após 15 dias à deriva
Dos 55 emigrantes que largaram do porto de
Tripoli na Líbia, num barco insuflável com destino à costa italiana, só um
escapou com vida: um cidadão da Eritreia, recolhido ao largo de
Tunes, e que ontem contou como a embarcação andou à deriva no mar Mediterrâneo
durante duas semanas, com os passageiros a morrer, um a um, de desidratação –
incluindo três familiares seus que também seguiam a bordo.
O náufrago,
identificado como Abbes Settou, foi avistado na segunda-feira à noite, em alto-mar,
por um barco de pescadores tunisinos, que alertaram a guarda costeira.
Estava agarrado a um bidão e à “carcaça”
vazia da embarcação,
onde 55 clandestinos, metade dos quais eritreus e outros somalis, se meteram
para chegar a Itália, no final de Junho. Sem água potável a bordo, e ao fim de três
dias à deriva, os passageiros
começaram a morrer – de fome, de sede, de exaustão.
Settou, que está
hospitalizado na Tunísia à guarda do Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Refugiados, disse que o barco alcançou a costa italiana logo no primeiro dia,
mas o vento voltou a empurrá-los para alto-mar. Durante os 15 dias
seguintes, permaneceu à deriva, incapaz de comunicar porque o telefone satélite
que levava a bordo não funcionava. (…)
Ontem, uma barca de 23 argelinos a bordo foi
resgatada pela Guarda Civil de Almeria ao largo daquele porto espanhol.
O “trânsito” de
emigrantes que arriscam cruzar o Mediterrâneo a partir da Líbia para vir
trabalhar ilegalmente na Europa já trouxe mais de
1300 pessoas à costa italiana desde Janeiro. Em 2011, 1500 pessoas
perderam a vida na travessia, e este ano já se registaram 170 mortes.
Rita Siza
Jornal
PÚBLICO,
12 Julho 2012, p. 21