teologia para leigos

23 de maio de 2015

PRECÁRIOS EM PORTUGAL 8 [de como PS-PSD-CDS produziram e eliminaram os pobres]

Precariedade, desemprego e protecção social
– caminhos para a desigualdade?




Introdução

Pretende-se neste texto[1] promover um olhar sobre a evolução das dinâmicas de emprego nos países da União Europeia num passado recente, com especial atenção para as tendências registadas em Portugal desde o período anterior ao deflagrar da crise económica e financeira até ao final de 2013[2]. Através da articulação entre um nível europeu e nacional de análise debater-se-ão os processos de precarização do emprego, de aumento do desemprego e do desemprego desprotegido e dos efeitos que algumas destas dinâmicas poderão estar a exercer na estrutura de distribuição do rendimento.

Na primeira parte deste texto iremos abordar, por intermédio de dados em média anual, a evolução das dinâmicas de emprego e desemprego, bem como da incidência da precariedade laboral, em Portugal e na UE-27. Seguidamente, analisaremos a evolução do desemprego estimado e registado em Portugal nos últimos anos, do fenómeno da inactividade desencorajada e da desprotecção dos desempregados. Na terceira parte, esboçamos uma análise exploratória em torno da correlação existente entre a desigualdade de rendimento e indicadores de precariedade laboral e desemprego.


[CLICAR NO GRÁFICO PARA AMPLIAR]




Emprego, desemprego e precariedade

A figura 6.1 apresenta informação para a taxa anual de emprego e desemprego nos anos de 2000, 2008 e 2013, em Portugal e na EU-27. Em relação à taxa de emprego, o valor deste indicador para Portugal, nos anos de 2000 e 2008, é de 68%, significativamente acima do apurado para a média dos países da EU-27. Nesse período, o valor médio para os países da EU aumenta mais três pontos percentuais. Desde 2008, ano que marca o início da crise financeira e económica nos Estados Unidos, a taxa de emprego em Portugal diminuiu mais de sete pontos percentuais – situando-se em 2013 em 60,6%. Ou seja, a população empregada do país, com idade entre os 15-64 anos, passou de 4785,7 mil em 2008 para 4158,0 mil em 2013, menos 627,7 mil empregados, uma queda de cerca de 15%. Como é óbvio, boa parte da explicação desta destruição de emprego está relacionada com o aumento significativo da taxa de desemprego em Portugal para valores verdadeiramente excepcionais. Veja-se que em 2000 a taxa de desemprego em Portugal era relativamente negligenciável e situava-se bastante abaixo da média da União. Entre 2000 e 2008 o valor deste indicador em Portugal duplicou, ultrapassando o da EU-27. Contudo, é entre 2008 e 2013 que se dá o salto mais expressivo da taxa de desemprego: um aumento de nove pontos percentuais, para os 17%.[3]

O aumento brutal da taxa de desemprego verificado nos últimos anos em Portugal foi mais acentuado em certas categorias sociais e implicou que os tempos de desemprego se dilatassem. Entre as várias categorias sociais que revelaram maior exposição ao aumento do desemprego, o grupo etário dos jovens é porventura aquele em que a incidência dessa realidade foi mais intensa. Entre 2000 e 2008 a taxa de desemprego jovem em Portugal duplicou, passando de 8,2% para 16,7%. Em 2000, o valor desse indicador em Portugal era muito inferior ao verificado no conjunto de países da EU-27, mas, em 2008, essa relação já se tinha invertido. Embora a taxa de desemprego jovem tenha conhecido um aumento expressivo na EU entre 2008 e 2013, em Portugal essa tendência foi muito mais acentuada: nesse período, o valor deste indicador cresceu mais de 20 pontos percentuais, atingindo em 2013 os 38,1%.

O aumento da taxa de desemprego em Portugal foi acompanhado pelo crescimento da proporção da população desempregada que se encontrava nessa situação há um ano ou mais. Novamente, o valor deste indicador para Portugal era em 2000 inferior em relação ao apurado para o conjunto de países da EU-27, em 2008 existia já uma inversão dessa realidade e daí até 2013 o país regista um aumento muito acentuado da grandeza do indicador em causa. Em 2013, 56% da população desempregada encontrava-se nessa situação há um ano ou mais (nove pontos percentuais acima do valor apurado para a EU-27).


[CLICAR NO GRÁFICO PARA AMPLIAR]




[…]

Conclusão

Apesar do cariz exploratório da abordagem realizada na secção anterior, importará não negligenciar os efeitos que o desemprego e a precariedade laboral podem exercer sobre a estrutura de distribuição interna dos rendimentos. Carlos Farinha Rodrigues, Rita Figueiras e Vítor Junqueira (2012[4]) demonstraram que o mercado de trabalho em Portugal tem funcionado como um catalisador do aumento das desigualdades nas últimas décadas. O hiato entre os mais bem remunerados e os trabalhadores que ocupam a base da distribuição acentuou-se até 2009. Tal decorreu, em grande medida, do aumento acentuado da parte do rendimento dos trabalhadores que se posicionam na parte superior da hierarquia dos salários. Mas até que ponto a crise económica e a crise de emprego dos últimos anos poderá estar a assumir-se como um novo pólo de agravamento das desigualdades económicas? Em Portugal, o aumento do desemprego, nomeadamente do desemprego desprotegido, mas também de situações mais ou menos próximas do sub-emprego, parece estar a assumir-se como um canal gerador de desigualdades de rendimento pela exclusão da participação (plena) no mercado de trabalho. No caso português, essa exclusão laboral tem vindo a acumular-se com a exclusão do sistema de protecção social de uma parte crescente da população desempregada, o que implica uma pauperização aguda das suas condições materiais e subjectivas de existência.

Os dados da mais recente vaga do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento apontam para um aumento da desigualdade existente entre a parte superior e a parte inferior da distribuição do rendimento, entre 2011 e 2012, tendência já verificada em 2010 (INE, 2014c). Tal deve-se, em grande medida, à perda de rendimentos dos grupos que formam a base da distribuição dos recursos económicos. A incidência da pobreza aumentou e o limiar da pobreza pauperizou-se. Cerca de 40% da população desempregada estava, em 2012, numa situação de risco de pobreza relativa (mais 1,9 p.p. face a 2011). A análise dos efeitos das políticas de austeridade sobre a distribuição do rendimento disponível não pode alhear-se das consequências que as mesmas exercem sobre o mercado de trabalho. Ao estimar que Portugal foi um dos países em que as políticas de austeridade foram mais progressivas, o estudo do FMI, «Fiscal policy and income inequality» (FMI, 2014), ignora este mesmo facto. E parece ignorar também que o aumento das despesas sociais foi insuficiente em relação à dimensão das necessidades de protecção social decorrentes da crise económica e do aumento brutal do desemprego. Enquanto o desemprego aumentou duas vezes mais em Portugal do que na média dos países da OCDE, os recursos adicionais alocados às despesas sociais representaram apenas 1/3 da média registada nos países dessa organização (OCDE, 2014b[5]).

Renato Miguel do Carmo e Frederico Cantante
Respectivamente, Sociólogo e Investigador Auxiliar do CIES-IUL e do Observatório das Desigualdades; Sociólogo, licenciado em Direito, Assistente de Investigação do CIES-IUL e membro da equipa permanente do Observatório das Desigualdades.


[pp. 15]



Um em cada três utentes de instituições de solidariedade ainda diz passar fome

Jornal «Público» (26 Maio 2015)


VÍDEO - Publicado por Vítor Fernandes – 29 de Maio 2015


O Presidente da República garante a unidade do Estado.

«A unidade do Estado implica uma atenção ao todo nacional, um combate à desertificação e ao despovoamento do interior. Não há coesão territorial sem um poder local forte, capaz de se agregar regionalmente em torno de causas comuns. A experiência das autonomias dos Açores e da Madeira merecerá sempre um acompanhamento e uma atenção especial por parte do Presidente da República.

«Não há unidade do Estado sem integração nacional, o que requer mais coesão social e o reforço do Estado Social. Não me resignarei perante o número cada vez maior de pessoas, em particular de crianças e idosos, que vivem no limiar da pobreza. Não serei insensível perante o sofrimento das pessoas que estão a ser privadas de direitos e liberdades fundamentais. Não aceitarei, como se fosse uma fatalidade, que haja cada vez maiores desigualdades no nosso país.

«A minha magistratura será de solidariedade nacional, com uma atenção especial a todos aqueles que foram marginalizados ou excluídos e que devem ser respeitados na sua dignidade. Não posso deixar de dirigir uma palavra de solidariedade às pessoas mais idosas, aos reformados e pensionistas, que, nos últimos anos, viram os seus direitos e planos de vida fortemente postos em causa pelas políticas de austeridade. […]

«As portuguesas e os portugueses devem saber que defenderei o Estado Social, um elemento essencial para que todos tenham as condições básicas para uma vida digna, com sobriedade. Ao Estado cabem responsabilidades primárias, que não são passíveis de transferência ou de delegação.» […]

in "CARTA DE PRINCÍPIOS" – Candidatura a Presidente da República de António Sampaio da Nóvoa, Teatro Rivoli, Porto, 25 de Maio de 2015.




[1] Texto base apresentado no colóquio «Conversas sobre as Oficinas de Segurança Social no âmbito do Observatório sobre Crises e Alternativas / CES», realizadas a 25 de Março de 2014, na Fundação Calouste Gulbenkian.
[2] Uma primeira versão deste texto foi publicada online no "Observatório das Desigualdades", 19-06-2014:
[3] A taxa de desemprego mede o peso da população desempregada sobre o total da população activa; a taxa de emprego permite definir a relação entre a população empregada e a população com 15 e mais anos de idade (neste caso analisou-se apenas a população empregada e desempregada com idade entre os 15-64 anos).
[4] Carlos Farinha Rodrigues (Coord.), Rita Figueiras e Vítor Junqueira, «Desigualdade Económica em Portugal», Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), 2012.
[5] OCDE (2014b), «Society at a Glance  2014 - Highlights: Portugal - The Crisis and the aftermath», disponível em:


18 de maio de 2015

PRECÁRIOS EM PORTUGAL 7 - [REALIDADE E CAUSAS DA CATÁSTROFE]

HOJE, QUEM É O ELO MAIS FRACO?





1844:
«O salário é determinado pela luta hostil entre capitalista e operário.
A necessidade da vitória para o capitalista.
O capitalista pode viver mais tempo sem o operário, do que este sem aquele.
Ligação entre os capitalistas: habitual e com efeito; a dos operários [entre si]: proibida e com más consequências para eles. […]
Para o operário, portanto, a separação entre capital, renda fundiária e trabalho [é] mortal.
A procura [Nachfrage] de homens regula necessariamente a produção de homens como de qualquer mercadoria. Se a oferta [Zufhur] for muito maior que a procura, então uma parte dos operários cai na situação de miséria ou na morte pela fome. A existência do operário é, portanto, reduzida à condição da existência de qualquer outra mercadoria. O operário tornou-se uma mercadoria e é uma sorte para ele quando consegue encontrar quem o compre. E a procura, da qual a vida do operário depende, depende do capricho do rico e capitalista.
Se a quantidade da oferta excede a procura, então uma das partes constitutivas do preço – lucro, renda fundiária, salário – é paga abaixo do preço, portanto uma parte destas prestações subtrai-se a esta aplicação e o preço de mercado gravita para o preço natural como ponto central. Mas, 1) se, com uma grande divisão do trabalho, para o operário é dificílimo dar ao seu trabalho um outro rumo, então, 2) na sua relação subalterna para com o capitalista, cabe-lhe antes de mais a desvantagem.
Com a gravitação do preço de mercado para o preço natural, o operário perde, portanto, ao máximo e incondicionalmente.» (Karl Marx, "Manuscritos Económico-filosóficos de 1844", Edições Avante, pp. 13.14)




Contratos Emprego-Inserção

Sabem o que significa «Responsabilidade Social?»

RTP, Sexta às 9 - 21 Fev. 2014


A ingenuidade dos europeístas portugueses…
O EURO E A UE COMO FÁBRICA DE POBREZA
«Porque é que o Euro não merece ser salvo»


PROF. JORGE BATEIRA, FEC
[a convite do MAS]
Debate «Portugal e o Euro»
Maio 2015
(Vídeo)

(c) Copyright 2015 William Mitchell. All Rights Reserved.


Eurozone Dystopia
Modern Monetary Theory … macroeconomic reality

«Há uma discussão detalhada que derruba os mitos que fizeram da austeridade a única alternativa. Essa parte do texto oferece ao leitor a incursão numa nova maneira de pensar a economia, exigindo dos economistas a tomada de consciência de que o actual paradigma falhou e precisa de ser substituído. Essa tarefa encontrará uma resistência maciça dos interesses instalados que sustentam o seu poder com a manutenção do status quo na economia, pouco lhes importando o quão desastroso ele tem sido para o cidadão comum. Neste momento, a Europa está presa num pensamento de grupo neoliberal, destrutivo, o que representa um estado de negação em grande escala. É necessária uma grande fuga da prisão para restaurar a prosperidade e a esperança.» [tradução de J. Bateira]
FONTE: Jorge Bateira, «LADRÕES DE BICICLETAS» - 20 MAIO 2015



«Eurozone Dystopia traces the origin of the Eurozone and shows how the historical Franco-German rivalry combined with the growing dominance of neo-liberal economic thinking to create a monetary system that was deeply flawed and destined to fail.

«William Mitchell argues that the political class in Europe is trapped in a destructive groupthink. Based on a flawed understanding of macroeconomic fundamentals, groupthink extols the virtues of the erroneous concept of the self-regulating free market and prevents Europe from seeing its own policy failures. As a result, millions are unemployed, with imperiled member states caught in a cycle of persistent stagnation and rising social instability.

«Providing a detailed historical analysis of the evolution of the Eurozone and its failings from the 1940s to the present day, the book argues that the Eurozone lacks the necessary monetary architecture, particularly the existence of a federal fiscal function which could have resolved the economic crisis quickly.

The author examines the options available to Europe and concludes that an orderly abandonment of the euro and a return to national currencies is the superior option available. The justification for this conclusion is exhaustively argued within a Modern Monetary Theory framework. This thoughtful and accessible account of Europe’s economic woes will appeal to all those who are seeking an explanation for the crisis and are receptive to sensible and credible alternatives to the current scenario.»

FONTE:


DESEMPREGO DEIXOU DE CAIR
Entre Janeiro de 2013 e Setembro de 2014, o desemprego em Portugal conseguiu cair dos máximos atingidos durante a crise. Mas nos últimos seis meses, essa tendência deixou de se sentir.



Pelo segundo trimestre consecutivo, a taxa de desemprego em Portugal agravou-se, atingindo os 13,7% nos primeiros três meses deste ano. De acordo com os dados publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de desemprego, que tinha passado de 13,1% no terceiro trimestre de 2014 para 13,5% no quarto, voltou agora a agravar-se. São mais cerca de 14.600 desempregados que são agora detectados, que conduziram a uma subida da taxa para 13,7%. (…) Nos segundo e terceiro trimestres do ano, em particular, a evolução da taxa de desemprego pode ser positivamente influenciada pelo facto de serem criados muitos empregos temporários em Portugal na época do Verão, especialmente no sector da restauração e turismo. (…) Para já, durante os primeiros três meses deste ano, o que aconteceu foi um aumento do número de desempregados, uma redução do número de empregos existentes e uma estabilização dos valores da população activa e passiva.

O número de pessoas empregadas, por seu lado, voltou a cair, também pelo segundo mês consecutivo. Desapareceram 14.500 empregos durante o primeiro trimestre deste ano [2015]. (…) uma tendência que se mantém desde o início da crise da dívida soberana por conta de uma deterioração do saldo natural na população portuguesa e do aumento da emigração. No primeiro trimestre, a taxa de desemprego entre os jovens (15 a 24 anos) subiu de 34% para 34,4%. E o desemprego de longa duração voltou a agravar-se, com 8,9% da população activa, ou seja cerca de 462 mil pessoas desempregadas há mais de um ano.(…)

Estas duas camadas da população [subemprego, isto é, que trabalham a tempo parcial + desencorajadas, isto é, que se declaram disponíveis para trabalhar, mas não procuraram activamente emprego], a serem consideradas para o cálculo da taxa de desemprego, fariam o seu valor subir em quase 10 pontos percentuais [cifrando-se aquela taxa perto dos 23,7%...].

PÚBLICO, on-line, 07-05-2015; FONTE:





O que explica o “aumento desproporcional” do desemprego jovem?
Pedro Crisóstomo, in Público on-line


Há 15 anos, era 50% menos provável um jovem ser desempregado de longa duração. Um quarto dos trabalhadores entre os 35 e os 44 anos tem contratos a prazo. Há um número que sobressai a cada vez que se olha para a evolução recente do mercado de trabalho: um terço dos jovens entre os 15 e os 24 anos não encontra lugar no mercado de trabalho.

Os últimos números trimestrais do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que a taxa de desemprego jovem está em 34,4%. O problema não é novo. Mas o que explica o “aumento desproporcional” do desemprego nesta faixa etária depois da eclosão da crise financeira internacional? O Banco de Portugal (BdP) lança a questão no último Boletim Económico, publicado nesta quarta-feira, e procura algumas pistas de resposta analisando o comportamento do mercado de trabalho depois da recessão e as alterações na área laboral desde 2011.

Antes da resposta, alguns números e tendências

No início deste século, diz o banco central, “era 50% menos provável que um trabalhador jovem estivesse desempregado há mais de um ano relativamente à média, enquanto para trabalhadores mais velhos esta situação era 1,5 vezes mais provável”. Hoje, a probabilidade de se ficar no desemprego de longa duração (um ano ou mais tempo) está mais próxima entre os mais novos e os mais velhos. E é mais alta tanto num caso como noutro. “É normal que os jovens tenham taxas de desemprego mais altas do que a média da população activa, uma vez que muitos deles estão à procura do primeiro emprego e têm por isso taxas de rotação mais altas enquanto procuram um emprego mais estável”, lê-se no boletim do BdP. O banco central chama a atenção para o facto de “a maioria da parcela” dos jovens que não têm trabalho estarem estatisticamente classificados “como [população] inactiva e não como desempregada”.

Mais um dado: “Por cada 100 jovens empregados no fim do século passado, actualmente há só 52 jovens na mesma situação. Dos restantes, três quartos estão inactivos e só um quarto está desempregado”. Segundo o BdP, a maioria destes fluxos tem a ver com o aumento da escolaridade obrigatória, do número de estudantes universitários e com programas de formação.
A leitura do banco central é mais abrangente. A instituição liderada por Carlos Costa lembra que os trabalhadores jovens são, desde logo, “mais sensíveis ao ciclo económico, dado que o seu custo de oportunidade de um emprego difere do dos trabalhadores mais experientes (podem voltar a estudar ou ter apoio familiar, por exemplo)”. Mas vinca que a resposta ao problema está “também intimamente ligada ao aumento da utilização de contratos a prazo e à sua incidência particularmente alta entre trabalhadores jovens”. Para o Banco de Portugal, a possibilidade de um trabalhador jovem “experimentar diversos empregos na fase inicial de uma carreira traz benefícios tanto para os trabalhadores como para as empresas”. A introdução de contratos a prazo, considera, “deveria ter melhorado este mecanismo”, mas a rotatividade nos contratos “vai muito além da que seria de esperar deste processo”. É que hoje constata-se que “os trabalhadores, em geral, demoram muitos anos para efectuar essa transição [para um emprego permanente] e nem sempre a conseguem fazer: a percentagem de trabalhadores entre 35 e 44 anos com contratos a prazo subiu de 15% em 1998 para 25% em 2014, excedendo o aumento desta faixa etária em termos de emprego total”.

O banco central considera que o nível de rotatividade é “excessivo” e que “tem implicações negativas para o resto do percurso profissional do trabalhador”. Com a crise, “as empresas contraíram a contratação, e em particular sob a forma de contratos permanentes”. Uma das leituras do Banco de Portugal é que o aumento do desemprego “não está a pôr pressão suficiente” nas vagas do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) para que estas diminuam. A razão, diz o departamento de estudos do BdP, pode estar no facto de o processo que junta trabalhador e emprego “se tenha tornado menos eficiente”. Isto tanto porque as empresas podem não estar “a encontrar candidatos adequados entre os desempregados” (e aqui conta o próprio factor desemprego de longa duração, que implica “perda de qualificações” e “erosão do capital humano), como por causa daquilo a que o BdP chama de “mudanças institucionais no mercado de trabalho”.

Posted by EAPN, 07-05-2015 - Observatório de Imprensa. FONTE:

Observatório de Imprensa. FONTE:





Diante desta catástrofe humanitária, consequência do «resgate e da recapitalização do sistema bancário» (e, fruto, não de nenhuma orgia despesista do Estado nem de termos vivido acima das nossas possibilidades, como P. Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque sempre quiseram fazer passar…, mas fruto - isso sim - de decisões órfãs de um estudo sério, e prenhes de ideias muito perigosas - Mark Blyth), o que é que deve mudar na Igreja católica?

Manter-se submissa ao [clicar] «memorando do desajustamento», pactuar - no terreno [vide/CLICAR: IPSS's, União das Misericórdias, Obras Diocesanas Sociais, Universidade Católica, etc.] [CLICAR AQUI fazer da pobreza um vergonhoso negócio] - com as políticas de destruição da classe média (verdadeiras fábricas de terror e pobreza) e com a ideologia neoliberal que visa a maior transferência de capital - jamais observada em Portugal - dos bolsos dos trabalhadores por conta de outrem para o sistema financeiro e especulativo; deve a Igreja católica não querer ir além da "caridade individual" filha do Código de Hammurabi e do Livro dos Mortos; resistir à política (com P grande) como o primeiro e mais importante instrumento de discernimento, de decisões globais e de transformações estruturais por onde tudo deve começar; deve fazer vista grossa ao Êxodo, o «modelo [teológico] mais alternativo possível a qualquer realidade de injustiça e sofrimento, modelo que também o foi para Jesus» [Bernardo Pérez Andreo], que pôs em causa o modelo de que «o rico é o protector do indefeso» (Lc 16,19; Rute 2,1-3)? Terá a Igreja coragem evangélica para lhe contrapor o modelo da «insurreição» (vide os Profetas de Israel, Frei Bento Domingues e outros), o único modelo que pode mudar a situação global e estrutural da injustiça criada pelo bloco PS-PSD-CDS? O do Êxodo, o único modelo que pode desautorizar a expressão que diz que a "religião é o ópio do povo"?

A Igreja católica necessita de se converter a Jesus e, para isso, pastoralmente, deve refocar o seu desígnio número um numa "eclesiologia de comunhão" (JI González Faus, «El dilema de la Iglesia: servicio al Reino de Dios o institución religiosa?», Sal Terrae; J. Moingt, «Faire bouger l'Église catholique», DDB; «CER41 - Chrétiens en Recherche 41») e numa ousada "teologia do Povo de Deus" (Juan Antonio Estrada, sj, «El cristianismo en una sociedad laica», DDB) com a "Figura do Servo de Yahvé"  no centro da Liturgia (Is 52,13-15;53,1-12; G. Faus, «Cj/96 - Servir para una espiritualidad de la lucha por la justicia en los "Cantos del Siervo" de Isaías»).


http://cer41.blogspot.pt/2012/08/faire-bouger-leglise-catholique.html

Para isso, são nucleares as seguintes palavras de I. Ellacuría:

«O carácter absoluto dos pobres na Igreja»

[…] «Se levarmos a sério o facto de que os pobres são o "lugar teológico", no sentido em que o acabamos de definir, é claro que os pobres se convertem não apenas numa prioridade, mas, inclusivamente, numa realidade absoluta à qual se devem subordinar muitos outros elementos e actividades da Igreja. Portanto, a designação «Igreja dos pobres» (cf. «Per una Chiesa Povera», Don Andrea Gallo & Papa Francesco, Imprimatur Editore 2013) deve ser encarada como uma formulação dogmática que deve ser acrescentada à de «Corpo Místico» e outras similares. Aquilo que nela se pretende expressar não é algo meramente acidental ou algo pertencente à perfeição eclesial: trata-se de algo essencial e constitutivo, cuja ausência faria com que a Igreja deixasse de ser a Igreja de Cristo, na medida em que deixasse de ser a Igreja dos pobres.

«E deixaria de ser Igreja dos pobres não apenas – gravemente − porque não prestasse atenção aos pobres e aos seus problemas, mas − muito pior ainda – quando os pobres deixassem de ser a sua opção preferencial na hora de nomear a sua hierarquia, de marcar o rumo do seu ensino magisterial, de criar estruturas, de estar no centro de toda a sua estratégia pastoral… bem como na hora de se pronunciar dogmaticamente.

«A razão última destas afirmações reside no facto de o Reino de Deus ser o valor máximo para a Igreja e que a Igreja está subordinada ao Reino (e não o inverso). Ora, acontece que os pobres são por múltiplas razões, a parte essencial do Reino de Deus, e nele gozam de prioridade e de supremacia, já que é neles que se torna presente, de modo insubstituível, o Deus dos cristãos, o destino da Humanidade e o caminho da conversão.

«Por isso, há que deixar bem claro, e brandi-lo energicamente, que o recurso aos pobres como "lugar teológico" não se faz com a intenção directa e imediata de revitalizar a pastoral e, muito menos ainda, revitalizar a teologia como uma prática intelectual. Antes de tudo, e primeiramente, é um serviço à causa da fé, que é a causa dos pobres. Faz-se em função do Reino de Deus e por causa de Deus, na medida em que o Reino de Deus conecta estruturalmente a "coisa dos pobres" com a "coisa de Deus", e mantém, indissoluvelmente unidos, os caminhos de Deus e os caminhos dos pobres deste mundo.» [Ignacio Ellacuría, UCA Editores]

Perguntava-se: diante desta catástrofe humanitária, o que é que deve mudar HOJE na Igreja? Em suma, para a Igreja católica se 'aggiornamentar', terá de colocar não «O Homem no Centro», (assim, em abstrato...), como recomenda a Conferência Nacional de Apostolado dos Leigos [CNAL], mas terá de colocar, no centro da sua/nossa aflição cristã, O Pobre (o que não é bem a mesma coisa...).




«CADERNOS FUNDAMENTOS-6»
[Livraria Fundamentos – Braga]
"Os pobres: uma interpelação à Igreja"
Carta Pastoral dos Bispos do país Basco