teologia para leigos

31 de março de 2011

A IGREJA COMO VIZINHANÇA - PADRE TOLENTINO MENDONÇA



«Passemos para a outra margem» [Mc 4:35]


Penso muitas vezes na sugestão que Jesus faz aos discípulos, mais do que uma vez: "Passemos para a outra margem" (Mc 4,35)


Há um sonho do qual não podemos desistir: o sonho de que a Igreja, em cada uma das suas comunidades, se pareça também com uma família alargada em gozo de férias e não apenas a um laborioso centro de prestação de serviços, sobretudo se anónimo ou impessoal.


Nessas férias seria diferente! Saberíamos o nome uns dos outros e mais: daríamos tempo para saborear a história e a presença que cada um é. Não seria o relógio a presidir aos nossos encontros, nem a utilidade imediata a emprestar justificação às nossas procuras. Pelo contrário: estar em comunidade seria como caminhar junto ao mar, sem nenhuma pressão de horários (exteriores e interiores), entregues ao prazer da contemplação e da companhia. Ou como passear pela montanha, entusiasmados por visões alargadas onde a paisagem refulge numa transparência que quase havíamos esquecido.


Nessas férias seria diferente! Aboliríamos o rotineiro fast food religioso, que apenas serve para enganar a fome, deixando que a alma se alimente e revitalize como precisa: no silêncio e na palavra, no encontro e no dom, na escuta e na prece. Buscaríamos juntos, como peregrinos experimentados, a abundância ainda intacta das fontes que nos irrigam, sentindo-nos depois reconciliados e gratos pela fantástica vizinhança delas. E faríamos o mesmo com a beleza dos lírios, da qual Jesus falou, com o dourado apaziguador que podem ter os campos à nossa passagem ou com o canto dos pássaros cada vez mais alto.


Nessas férias seria diferente! A Refeição constituiria o centro, mas como deliberado espaço de multiplicação para a vida: partilhando o pão que expande a graça, bebendo o vinho que amplia a festa.


José Tolentino de Mendonça




MORREU JOSÉ COMBLIN - C. MESTERS TESTEMUNHA

Como o profeta Amós, Padre José Comblin incomodava – por Carlos Mesters
Terça-feira, 29 de março de 2011 - 21h20min

 [José Comblin, em camisa azul, ao lado de D. Helder Câmara] 

Padre José Comblin morreu. Um bispo o criticou, como: "Comblin, homem cansado e pessimista". O pessoal das Comunidades por onde ele andava não o chamava de Comblin, mas sim de "Padre José". Padre Comblin incomodava as pessoas de poder, mas era amado pelos pobres que o acolhiam carinhosamente como Padre José.
Padre José Comblin nasceu na Bélgica nos anos 20 do século passado e nos anos 50 veio trabalhar e anunciar a Boa Nova aqui no Brasil. O profeta Amós era de Judá no Sul e foi trabalhar e anunciar a Boa Nova de Deus em Israel no Norte, no santuário de Betel. Amasias, o sacerdote de Betel, não gostou e denunciou o profeta junto ao rei Jeroboão, dizendo que já não se podia tolerar as palavras de Amós. E mandou dizer ao próprio Amós: "Ó, seu profeta, vá embora daqui. Retire-se para sua terra Judá. Vá ganhar sua vida por lá com suas profecias. Mas não me venha mais fazer suas profecias aqui em Betel, pois isto aqui é o santuário do Rei e o templo do Rei". Amós mandou dizer: "Eu não sou profeta nem filho de profeta. Sou camponês, criador de gado e cultivador de sicômoros. Foi Javé que me tirou de trás do rebanho e me ordenou, ‘Vá profetizar ao meu povo Israel'!" (Amós 7,10-15).
Como o profeta Amós, Padre José Comblin incomodava aos homens do poder no tempo da ditadura e foi expulso várias vezes. Incomodava também aos que exercem o poder na Igreja. Alguns deles chegaram a dizer que já não se podia tolerar as coisas que ele dizia, e eles proibiram a fala dele várias vezes em vários lugares.
Como o profeta Amós, Padre José, ele mesmo, nunca se apresentou como profeta. Ele se apresentava como ser humano cristão e sacerdote, cumpridor fiel do seu dever. Posso testemunhar: convidado para falar nas comunidades e nos grupos do CEBI, Padre José convencia as pessoas pela simplicidade do seu jeito de conversar e dialogar, pelo testemunho da sua sinceridade e profundidade de vida e pela quantidade enorme de informações de que dispunha para confirmar as coisas que dizia e as denúncias que fazia.



Mesmo ausente, ele continua presente. Como o profeta Amós, "seu corpo foi sepultado em paz, mas o seu nome viverá através das gerações" (Eclo 44,14). Eternamente grato.

Carlos Mesters.

Frei Carlos Mesters,
Ordem dos Carmelitas, Convento do Carmo, São Paulo,
28 de março-2011.

Biblista popular, Carlos Mesters é um dos fundadores do CEBI.
É autor de:

30 de março de 2011

O CEGO DE NASCENÇA



Carta ao cego de nascença que passou a ver

           
          Amigo dos olhos abertos!

          Não sei como te chamar porque não nos chegou o teu nome mas o evangelista João deixou-nos um retrato teu que impressiona sempre que o escuto e ficou-me uma vontade de te escrever. Ao contrário de outros cegos dos evangelhos parece que não pediste nenhum milagre a Jesus. Não gritaste nem se ouviu a tua voz. Talvez nem tivesses ouvido falar dele. De facto foi Jesus que te encontrou no caminho e depois de tentar libertar as mentes dos discípulos do preconceito de que a doença e o sofrimento eram castigo dos pecados, pôs-te “na berlinda”. Deves ter ficado surpreendido com aquele lodo feito de saliva e terra que Ele te pôs nos olhos e com a ordem para te ires lavar à piscina de Siloé. E foste, e ainda bem que foste!

Gostava tanto de te ouvir contar como foi o teu abrir de olhos e começares a ver! Sabes, às vezes, andamos com os olhos desfocados ou cheios de escamas que já nem nos maravilhamos com o dom de ver. Como se andássemos doentes dos olhos e só vemos o que é feio, o mal dos outros e do mundo, a escuridão. Imagino o teu olhar como o das crianças, encantado com tudo, maravilhado com o insignificante e com o grandioso, espantado quando viste o teu rosto pela primeira vez e o daqueles que só conhecias pela voz, pelas mãos. Estavas a nascer de novo!

E como isso te transformou. Já não fazia sentido pedir esmola mas era preciso dizer que eras o mesmo e também outro. No meio de acesa polémica foste questionado, levado aos fariseus, quiseram manipular-te, insultaram-te, mas foi crescendo em ti uma voz, uma coragem para até ironizar com os que te julgavam. Não aceitavam que tivesses nascido “inteiramente em pecado” e estivesses a ensiná-los! Continuamos a ter dificuldade em acolher as surpresas de Deus. É tão fácil espalhar o preconceito e viver em condomínios fechados do pensamento. Julgamos ver melhor e talvez estejamos cegos para o essencial. Mas também há modos refinados de prolongar “cegueiras”, de esconder verdades, de manipular pessoas e multidões. Na política, na economia e até na fé há “sábados” intocáveis de inércia e acomodamento, de poderes apetecíveis, de tradições vazias, de injustiças prolongadas. Continua a ser verdade: “o pior cego é aquele que não quer ver”.  

Mas foi o olhar de Jesus que mais te impressionou, não foi? Há uma canção brasileira que diz assim “Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem-se encontrar…”. Ver e acreditar foi um enorme passo. Como se transformou o teu caminho? Como se transformam os nossos que também acreditamos em Jesus? Pode ver-se nos nossos olhos a luz que passou a habitar os teus? Obrigado pela tua paciência em me leres.


Um abraço a Jesus e vemo-nos por aí!


À PROCURA DA PALAVRA
P. Vítor Gonçalves, Lisboa

DOMINGO IV DA QUARESMA

“Nunca se ouviu dizer que alguém
tenha aberto os olhos a um cego de nascença.”
Jo 9, 32

25 de março de 2011

PEC'S - 2 VÍDEOS


«O seu ar insolente depõe contra eles…»
[Isaías 3]

1 «Eis que o Senhor Deus do universo
tirará de Jerusalém e de Judá o sustento:
- todo sustento de pão e todo sustento de água,
2 o capitão e o soldado,
o juiz e o profeta,
o adivinho e o ancião,
3 o oficial e o nobre,
o conselheiro e o artesão,
e o entendido em feitiçaria;
4 em vez de príncipes dar-lhes-ei meninos
e serão governados por crianças.
5 Os homens hão-de maltratar-se uns aos outros,
cada um contra o seu próximo;
o jovem insultará o idoso
e o plebeu o nobre.
6 Assim falará um irmão a outro irmão,
na casa paterna:
"Já que tens pelo menos um manto,
serás tu o nosso chefe,
para governares esta ruína!"
7 Quando chegar aquele dia um outro protestará:
"Eu não sou médico,
e na minha casa não há pão nem tenho manto,
não me façais chefe do povo".
8 Porque Jerusalém, com efeito, ameaça ruína
e Judá vai caindo…
9 O seu ar insolente depõe contra eles…» [Isaías 3]

[Em cima da hora… 2 vídeos]




24 de março de 2011

MEDITAR SOBRE A FRAGILIDADE HUMANA - P. MIGUEL LAMET

MEDITAÇÃO SOBRE A FRAGILIDADE HUMANA


Chile 2010

“O coração do Rei é como água nas mãos do Senhor.

Prepara-se o cavalo para o dia da batalha,
mas o Senhor é quem dá a vitória.” 
[Prov 21:1.31]


«Tal facto (o tsunami do japão) desperta uma enorme meditação sobre o homem e sobre a sua vida na terra. Fazemos viagens espaciais e conseguimos jubilar um Discovery, trazemos no bolso maravilhas tecnológicas de comunicação, conseguiremos, sem dúvida, obter novas fontes de energia e lutar contra doenças até agora incuráveis. Mas continuamos sendo um cisco de impotência poisado sobre este mundo quando ele se encabrita sob a forma de um tsunami, uma erupção vulcânica, um tufão, um tornado ou uma tempestade.» (…)
« Há saída?
A única saída é quebrar a cápsula, olhar de frente o olhar, descobrir a dimensão aparente da matéria, desvelar aqui e agora o nosso lado eterno, aprofundar o mistério não conceptualmente mas enternecidamente, graças a uma intuição que contemple o mundo a partir do alto e do profundo, como parte de um todo em transformação e não a partir do meu portfolio ridículo, da minha casa, do meu jardim, do meu escritório ou do meu calendário.
Há um Tsunami diário na fome que leva milhares de crianças no instante dum suspiro. Há um Tsunami de miséria, violência, guerra, exploração que a muitos tornaria a morte apetecível. São Tsunamis habituais que a ninguém ou a poucos desperta interesse, mas que fazem parte deste modo frágil e quebradiço tão próprio da nossa existência.
Um instinto de sobrevivência faz-nos pensar que nunca nos acontecerá a nós. Mas é chegada a hora de sempre permanecermos despertos, de ter a almotolia cheia e a lâmpada acesa caso o noivo surja. Sendo certo que, na verdade, a morte faz parte do filme e o noivo até já chegou.»


Pedro Miguel Lamet, 15-03-2011, blog: «El alegre cansancio»
(amavelmente cedido por Comunidade Cristã da Serra do Pilar)




«a prática da Justiça e da Equidade é mais agradável ao Senhor que a religião»
«os tesouros adquiridos nas jogadas financeiras são vaidade passageira e laço de morte»
[Prov. 21:3.6]


O Medo, sempre o Medo (do «fim do mundo» e outros)

ORAÇÃO DA MANHÃ

Salmo 131 (130)

Senhor, o meu coração não é ambicioso
nem os meus olhos são altivos
não corro atrás de grandezas
ou de coisas superiores a mim.
Pelo contrário, estou sossegado e tranquilo.
Espero no Senhor,
desde agora e para sempre.

O POBRE, SE DESCANSA É UM PERDIDO - Poema do Perú


PRIVILÉGIOS DO POBRE


Se se cala, o pobre é parvo;
um maçador, se é palreiro;
bisbilhoteiro, se sabe;
se afável, é embusteiro;
se é gentil, intrometido,
se não atura, é soberbo;
cobarde, quando é humilde,
se é audaz, não possui tento;
se é valente, é temerário;
presunçoso, se é discreto;
adulador, se obedece,
se algo recusa, é grosseiro;
com pretensões, atrevido;
com méritos, não ganha apreço;
sua nobreza é oculta,
sua veste sem esmero;
se trabalha, é ambicioso,
e, pelo contrário extremo,
um perdido, se descansa...

Vejam bem que privilégio!


Juan Del Valle Y Caviedes [Perú, 1652-1696]
in “Rosa do Mundo, p. 965

21 de março de 2011

PEC - ENTREVISTA A JOSÉ GUSMÃO

o PECado capital-4
que esta «Geração à Rasca» cometeu…

 
José Gusmão_entrevista


CORTAR, CORTAR, CORTAR...

«Espremendo, espremendo, espremendo…»


 A «Geração à Rasca» precisa de torcer o dedo que, erradamente, o desespero de alguns estupidamente lhe aponta a ela...
Meus amigos: não haverá luz ao fundo do túnel a menos que… encontremos a tesoura e o tosquiador ANTES QUE ELES ALCANCEM O REBANHO que somos nós!



por Alex Jones



20 de março de 2011

AMARTYA SEN - ÉTICA ANTI-AUSTERIDADE

?sangue, suor e lágrimas?



Na sua comunicação ao simpósio sobre justiça, valores e economia política, realizada na passada segunda-feira (dia 13 de Março) na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), o prémio Nobel da Economia Amartya Sen referiu-se de passagem à intransigente abordagem de "sangue, suor e lágrimas" subjacente à política de austeridade europeia.

No seu trabalho sobre
ética e desenvolvimento económico, Sen sempre defendeu, pelo contrário, uma abordagem “amigável” da política económica, centrada na promoção das liberdades, incluindo a expansão, tanto quanto possível igualitária, das oportunidades e das capacidades que as pessoas têm realmente para alcançar funcionamentos genuinamente humanos. Isto requer uma pluralidade de instituições, mercantis e não-mercantis, mercados regulados e incrustrados numa democracia vibrante e num Estado social robusto, o que aliás é consistente com a insistência de Sen na necessidade de se alargar o leque de motivações humanas reconhecidas na economia para lá do estreito interesse próprio, passando a incluir a simpatia e o compromisso com causas e valores que as pessoas têm boas razões para apoiar. Uma análise mais robusta. Não fiquei por isso admirado ao ler a entrevista de Sen no Público:

As reduções de défices gigantes que ocorreram no passado, como por exemplo a dívida contraída por vários países europeus junto da América durante a Segunda Guerra Mundial, foram possíveis apenas numa situação de grande crescimento económico, que é sempre uma altura propícia à redução da dívida (…) Um dos problemas que fazem com que, agora, o corte da dívida seja tão severo é que vai levar à redução do crescimento económico. E isso torna muito difícil amortizar a dívida. Por isso,
como economista, acho que é preciso que os Governos ajam de uma forma mais cuidadosa e não apenas nervosamente devido à dimensão da dívida. Deviam esperar pelo momento certo para reduzir a dívida pública (…) Criar uma união monetária sem união política é um erro.

As comunicações ao simpósio da FEUC, incluindo a notável comunicação de Emma Rothschild e as comunicações que vários de nós fizemos sobre a obra de Sen, podem ser encontradas
aqui.

Retirado de:

KURZARBEIT - O MODELO ALEMÃO DE CONCERTAÇÃO

?

do Porto:
a Ponta Delgada, «Geração à Rasca»:

Mudar de vida económica

A irracionalidade de um sistema económico sem mecanismos sociais e políticos de coordenação robustos está à vista na indicação de Manuel Esteves no excelente blogue do Negócios: em Portugal, "são cada vez mais os que trabalham de mais e os que trabalham de menos". Apesar dos retrocessos neoliberais, a variedade renana de capitalismo ainda oferece pistas a explorar: a Alemanha tem um esquema de protecção do emprego em épocas de recessão que assenta na redução pactuada e subsidiada publicamente do horário de trabalho, o que obviamente é facilitado pela tradição de negociação colectiva e pelos seus sindicatos ainda com alguma força; este modelo de partilha, o chamado Kurzarbeit, tem sido parcialmente responsável pela menor destruição de emprego neste país. Já em Portugal, os patrões querem que os funcionários trabalhem mais horas com o mesmo salário, ou até com um salário menor, num dos países onde mais se trabalha na Europa. Em altura de desemprego de massas, esta é uma prescrição vitoriosa para o desastre, só possível porque cheira a medo na economia. A redução do horário de trabalho não resolve por si o problema do desemprego e não substitui a necessidade de uma política económica de estímulo que tem de ter escala europeia. Num país com salários tão baixos em tantos sectores os obstáculos são enormes. No entanto, a redução do horário de trabalho tem de ser parte do esforço para instituir uma economia mais decente. Por exemplo, na New Economics Foundation há quem não desista de pensar num outro futuro: 21 horas... 


João Rodrigues



MÚSICA CONTRA A HIPOCRISIA POLÍTICA - VÍDEO ÁUDIO

Ai eve a drime
[foto "PORTUGAL E A EUROPA - I had a dream": no Largo do Moinho de Vento - Porto - há um sonho que habita um beco sem saída; está escrito em inglês correcto e o verbo está no presente, mas não passa de um sonho de vento...]

«Às segundas, quartas e sextas sou Ministro das Finanças. Às terças, quintas e sábados sou Ministro da Economia… Aos Domingos, os dois almoçam juntos» - Teixeira dos Santos

http://www.youtube.com/watch?v=kH--ud3F4Tw&NR=1


Uns vão bem e outros mal – Fausto Bordalo Dias

 [foto: Praça Guilherme Gomes Fernandes - Porto]

"Ministro das Finanças é o único que vê estrelas neste país"


Uma cantiga de desemprego – Fausto Bordalo Dias

A Guerra é a Guerra / Fausto no CCB

http://www.youtube.com/watch?v=eB0AMTBhoRk&feature=related

 

19 de março de 2011

TAMAYO - A «GUERRA SANTA» VEIO DO JUDAISMO


'Islam. Cultura, religión y política'.
Ed. Trotta

JUAN JOSÉ TAMAYO


Juan José Tamayo, teólogo, ensayista y director de la Cátedra de Teología y Ciencias de las Religiones "Ignacio Ellacuría", de la Universidad Carlos III de Madrid. Presenta 'Islam. Cultura, religión y política'. Entrevista, 29:IV:2009, por Jesús Bastante de Periodista Digital aqui,: http://www.webislam.com/?idv=1590

«HÁ 5 PILARES NO ISLÃO: A PROFISSÃO DE FÉ, A ORAÇÃO, A ESMOLA, A PEREGRINAÇÃO A MECA E O JEJUM.

MAS NÃO PROFESSAM A «GUERRA SANTA» EM NOME DE DEUS… NEM AFIRMAM: “FORA DO ISLÃO NÃO HÁ SALVAÇÃO”!, como a Igreja Católica já chegou a afirmar.

A TRADIÇÃO DA ‘GUERRA SANTA’ VEM DO JUDAÍSMO E NÃO DO ISLÃO.

MAIS TARDE SERIA O CRISTIANISMO A TOMAR ESSA HERANÇA (do Judaísmo) COM VISTAS À RECONQUISTA DA TERRA SANTA…»

OUTROS ASSUNTOS (nesta entrevista): A História do Islão em Espanha, o Fundamentalismo Islâmico, a realidade islâmica HOJE em Espanha, seu acolhimento e integração, Relações Islão-Ocidente, com 4 SUGESTÕES para a integração dos muçulmanos na Europa, (etc etc etc).


pb\

«O HUMANO É ANTERIOR A TUDO» [CASTILLO]

José Maria Castillo, ex-sj



Entrevista:


«O HUMANO É O MAIS BÁSICO, O ANTERIOR A TUDO…».

«COMUM A TODOS OS SERES HUMANOS É: A SAÚDE, A COMIDA E AS BOAS RELAÇÕES INTER-HUMANAS».

«ANTES DA RELIGIÃO VEM O HUMANO, O HUMANO ELEMENTAR».
«O CRISTIANISMO, ANTES DE MAIS, VEM PARA HUMANIZAR-NOS, TORNAR-NOS PERFEITOS EM HUMANIDADE».

«AFIRMAR CATEGORICAMENTE QUE ‘JESUS É SEGURAMENTE DEUS’ É UMA PRETENSÃO PRÓPRIA DE QUEM SABE QUEM É DEUS E COMO DEUS É …»

«’CREIO EM DEUS PAI TODO-PODEROSO’ - 'Pantokrator' - DEVE SER SUBSTITUÍDO POR CREIO EM DEUS TODO MISERICORDIOSO’…».

«O VATICANO EXPRESSA UM PODER SIMBÓLICO DESCONCERTANTE E ANTI-EVANGÉLICO».
«O MUNDO DO VATICANO É UM MUNDO ENIGMÁTICO, MESMO PARA OS QUE LÁ TRABALHAM».

«JESUS FOI PROFUNDAMENTE TOLERANTE, MAS TAMBÉM PROFUNDAMENTE INTOLERANTE PARA COM OS INTOLERANTES».

«JESUS NUNCA ORDENOU NINGUÉM: NEM MULHERES, NEM HOMENS…». A «ordenação» era um ritual simbólico civil interno ao Império Romano.

«JESUS NUNCA FOI UM REVOLUCIONÁRIO PERIGOSO, MAS TAMBÉM NÃO FOI UM CINZENTÃO…» ETC ETC ETC



«LA HUMANIZACIÓN DE DIOS», Ed. Trotta, 2009, ISBN978-9879-063-4

José María Castillo, en Religión Digital, 03:XII:2009

Entrevista em:




12 de março de 2011

LIBERDADE, SÓ A DE ESTAR PRESO - LUIS CERNUDA



Si el hombre pudiera decir lo que ama,si el hombre pudiera levantar su amor por el cielo
como una nube en la luz;
si como muros que se derrumban,
para saludar la verdad erguida en medio,
pudiera derrumbar su cuerpo,
dejando sólo la verdad de su amor,
la verdad de sí mismo,
que no se llama gloria, fortuna o ambición,
sino amor o deseo,
yo sería aquel que imaginaba;
aquel que con su lengua, sus ojos y sus manos
proclama ante los hombres la verdad ignorada,
la verdad de su amor verdadero.
Libertad no conozco sino la libertad de estar preso en alguiencuyo nombre no puedo oír sin escalofrío;
alguien por quien me olvido de esta existencia mezquina
por quien el día y la noche son para mí lo que quiera,
y mi cuerpo y espíritu flotan en su cuerpo y espíritu
como leños perdidos que el mar anega o levanta
libremente, con la libertad del amor,
la única libertad que me exalta,
la única libertad por que muero.
Tú justificas mi existencia:si no te conozco, no he vivido;
si muero sin conocerte, no muero,  porque no he vivido.






Luis Cernuda




9 de março de 2011

A NARRATIVA DA DES-SOLIDARIEDADE NEOLIBERAL


 A era da precariedade


De repente, a precariedade chegou à generalidade dos meios de comunicação social, ocupando as manchetes e o horário nobre. O rastilho que impôs a sua visibilidade foi um encontro. De um lado estava uma canção, Que parva que eu sou, dos Deolinda, que parece um álbum de fotografias. Mas, em vez de registar momentos de felicidade, esse álbum mostra-nos imagens do pior que está a acontecer na vida de uma juventude que só conhece, ou só perspectiva, o trabalho precário. Entre o sarcasmo e a auto-ironia, a canção regista a aceitação passiva da situação, mas também a insuportabilidade e a revolta. Do outro lado estava um público que imediatamente reconheceu essa condição como sendo a sua. Apropriou-se da canção de forma política, isto é, como veículo de denúncia e de protesto, e fê-la percorrer as redes sociais, entrar pelo debate público e sair para a rua, em protesto marcado para 12 de Março. Saberiam eles que estavam a suscitar a identificação, directa e indirecta, de tantas outras gerações, de tantos outros trabalhadores, mais ou menos escolarizados?

O fenómeno da precariedade laboral, que a partir do mundo do trabalho metastiza todo o viver com incerteza e insegurança, não é novo. Começou na década de 1980 [1], quando o projecto neoliberal se lançou ao ataque de direitos associados ao mundo do trabalho, direitos esses que vinham sendo decisivos na eliminação de desigualdades socioeconómicas e na construção de sociedades mais decentes.

 
Dessa recomposição do «mercado de trabalho», desde então empreendida, fizeram parte a flexibilização da «oferta» e da «procura» de mão-de-obra; a alteração de dispositivos legais que traduziam formas de protecção e dignificação do trabalho; e as múltiplas desregulações dos contratos que, com a ameaça do desemprego, facilitaram diminuições de vencimentos, o aumento de ritmos e tempos de trabalho, a extensão de contratos a termo, a aceitação de trabalho a tempo parcial e outros vínculos precários.

O aumento da precariedade, da exploração e das desigualdades − que a crise e a austeridade ainda vêm agravar − afecta quem está hoje a sair das universidades, mas já afectou quem há vinte anos, senão mais, começou a receber as primeiras bolsas de investigação ou a «passar recibos verdes» e nunca mais abandonou os vínculos precários. Vinte anos depois, muitos desses precários têm já filhos que não sabem o que é ter pais com direito a férias, subsídios de doença ou de desemprego, tal como têm pais cujas legítimas expectativas de tempo de reforma foram já muito «precarizadas» pela ajuda (financeira e não só) que os filhos são forçados a pedir-lhes. Outros têm pais que nem sequer chegaram a ter reformas minimamente decentes − e não têm como os ajudar. Décadas passadas, a precariedade afecta também aqueles que, aproximando-se da reforma, tenham passado por experiências de desemprego ou tenham tido carreiras contributivas tão precárias que nem podem sonhar com a aposentação.

A precarização do emprego, fenómeno comum a todos os países da União Europeia mesmo que tenha especial incidência em Portugal, não é de facto um problema que atinja apenas uma geração. Os dados hoje comprovam-no. Basta olhar, por exemplo, para a evolução do trabalho temporário que, entre 1995 e 2008, cresceu em todas as classes etárias. Mas a tendência geral de aumento é acompanhada de um outro padrão: a da manutenção da classe mais jovem, entre os 15-24 anos, como a que apresenta os valores mais elevados, seguindo-se a dos 25-49 anos e, menos afectada, a dos 50-64 [2].

Todas estas situações, do desemprego à precariedade e ao salário, tendem a agravar-se quando o nível de escolarização é menor. Isto é particularmente grave se pensarmos que Portugal é um país que tem ainda reduzidas taxas de escolarização superior e que tem vindo a assistir, na década posterior ao aumento das propinas no ensino superior e agora com a crise (e na ausência de alterações significativas no apoio escolar), a uma preocupante reelitização da frequência desses graus de ensino. A maior visibilidade que a era da precariedade hoje vai tendo no espaço público e mediático, transbordando dos âmbitos associativos e sindicais, decorre também, sem dúvida, da extensão e aprofundamento do fenómeno, da consciência de que ele não é passageiro. Mas com a visibilidade pública torna-se também um campo em disputa.

As narrativas que apostam na quebra de solidariedades intergeracionais ou interprofissionais vão fazer tudo o que estiver ao seu alcance para dizer que mais vale a instabilidade da precariedade do que a estabilidade do desemprego; para opor os direitos dos mais velhos à flexibilidade dos mais novos; para fazer apelos paternalistas ao realismo assumindo culpas próprias nos ultrapassados utopismos − para onde atiram toda a geração de direitos socioeconómicos que o Estado social e os serviços públicos devem assegurar.

As narrativas que consideram que a precariedade, bem como o desemprego, são formas moralmente inaceitáveis, e além disso economicamente insustentáveis, de organizar as sociedades têm de desmontar os discursos que apenas apresentam «soluções» individuais para o emprego precário (da cenoura dos casos de sucesso ao bastão da falta de «boa atitude» ou «pró-actividade») e desenvolver formas de actuação colectiva que possam trazer transformações sociais. Nesse sentido, abrir brechas na era da precariedade terá de passar pela articulação de lutas comuns, da defesa dos serviços públicos e do emprego até todos os combates pela igualdade. Março anuncia-se como um bom mês para essa articulação: depois do protesto contra a precariedade a 12 vem o protesto contra a austeridade e o desemprego, dia 19.

segunda-feira, 7 de Março de 2011

Notas
[1] Cf. José Nuno Matos, «Precariado: de condicionado a condicionante político», Le Monde diplomatique − edição portuguesa, Setembro de 2007. O tema da precariedade vem sendo há anos regularmente tratado nestas páginas. Alguns artigos estão disponíveis em http://pt.mondediplo.com/.
[2] Ver Renato Carmo (org.), Desigualdades Sociais 2010. Estudos e indicadores, Mundos Sociais, Lisboa, 2010, p. 191 ss.


Foto: Anselm Kiefer [1945-.]

8 de março de 2011

NO PERFIL DO TEU ROSTO HÁ UMA URGÊNCIA - POEMA


DIA INTERNACIONAL DA MULHER




No perfil do teu corpo
há uma palavra de promessa
uma terra onde uma casa mora

Acode-me um sentimento
mas é um horizonte largo
que me pedes

No perfil do teu rosto
há um Nome sem urgência,
a justa janela
com vistas para um arrepio

(suspeito que sei quem és
- belo apontamento do meu orgulho)