teologia para leigos

5 de julho de 2012

OPUS DEI, BANQUEIROS E CRIMES

«’Fugiu’ do PREC,
aderiu ao OPUS DEI
e recebe do BCP 175 mil euros/mês»

Eng. Jardim Gonçalves

CARREIRA Jardim Gonçalves esteve 37 anos na banca. Tornou-se num dos mais reputados banqueiros, mas foi envolvido em diversas polémicas e coleccionou inimigos.


Jardim Gonçalves era engenheiro no Porto de Leixões quando decidiu (em 1970) iniciar uma longa carreira na banca, que durou até 2007. Mas muito se passou nesses 37 anos. Em 1974, quando já se tinha tornado administrador executivo sente-se forçado a ir para Madrid, na sequência do PREC Processo Revolucionário em Curso. Em Madrid torna-se director do Banco Popular Espanhol e cria uma ligação umbilical ao Opus Dei, que dura até hoje. Acaba por regressar em 1977 a convite do então ministro das Finanças Medina Carreira e do Presidente Ramalho Eanes. Mantém-se no sector, sendo administrador de várias entidades bancárias. Em 1985, funda o Banco Comercial Português e faz dele o maior banco privado português. Nos 22 anos que esteve à frente do BCP envolveu-se em diversas polémicas.


Joe Berardo
Dr. Paulo Teixeira Pinto



As guerras com o ‘delfim’ e o comendador

No cargo que ocupou esteve, naturalmente, sempre debaixo de fogo. Mas houve dois braços de ferro que coincidiram com a sua saída do BCP: um travado com Paulo Teixeira Pinto e outro com Joe Berardo. O antigo Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros Paulo Teixeira Pinto até chegou a ser visto como o “delfim” de Jardim Gonçalves, tendo-lhe sucedido na liderança do BCP. Porém, as coisas azedaram quando Jardim Gonçalves tentou reforçar os poderes enquanto presidente do Conselho Geral de Supervisão. Teixeira Pinto estava enfraquecido por ter falhado a tentativa de adquirir o BPI (OPA). Os dois, ainda por cima, tinham de conviver no centro do Opus Dei em Lisboa, como se nada se passasse. Pois, na altura, eram ambos supranumerários. Teixeira Pinto acabou por ser afastado do banco. Meses mais tarde foi a vez de Jardim Gonçalves. Para isso muito contribuiu o empresário Joe Berardo um dos maiores accionistas do BCP que não deu tréguas ao fundador do banco. Acusou-o de ser incompetente e de ter roubado dinheiro aos accionistas. As divergências entre os dois chegaram a tribunal, onde ainda hoje se arrastam.


Reforma de 2,45 milhões/ano e jato privado

Jardim Gonçalves saiu do BCP com uma reforma “dourada” de 175 mil euros por mês, o que significa 2,45 milhões de euros por ano. A administração do BCP até já tentou, por via judicial, baixar a reforma do fundador, mas no final de maio de 2012 o Tribunal de Sintra julgou-se incompetente para se pronunciar sobre o caso. Ou seja: Jardim Gonçalves vai continuar a receber mensalmente 175 mil euros. Tal como o DN avançou em junho de 2009, há diversas outras regalias a que o fundador do BCP tem direito. Uma delas é a possibilidade de viajar pelo mundo num avião privado (Falcon) pago pelo BCP. Além disso, tem também direito a contar com cerca de 40 seguranças privados, que são igualmente suportados pelo banco privado. Na altura, o DN apurou que Jardim Gonçalves fez inclusive várias viagens a título pessoal.

Rui Pedro Antunes
Diário de Notícias, 5 de julho de 2012, p. 3.

13 DE MAIO DE 1010 O Banco de Portugal condena seis ex-administradores do BCP no âmbito do processo de contra-ordenação sobre prestação de informação falsa relativa a mais de 17 offshores, sedeadas em paraísos fiscais. Jardim Gonçalves, Filipe Pinhal, Christopher de Beck, António Rodrigues, Alípio Dias e António Castro Henriques foram condenados a pagar coimas entre os 230 mil e o um milhão euros e inibidos de exercer cargos na banca entre os três e os nove anos. A Jardim Gonçalves foi aplicada a coima máxima.

15 DE JULHO DE 2007 A Comissão de Mercados de Valores Mobiliários multou não seis, mas nove ex-administradores, num total de 4,325 milhões de euros. A multa mais elevada foi também de um milhão de euros e foi aplicada a Jardim Gonçalves. Além dos condenados pelo Banco de Portugal, a CMVM também condenou Paulo Teixeira Pinto, Luís Gomes e Miguel Magalhães Duarte.

Diário de Notícias, 5 de julho de 2012, p. 3 [caixa ‘Cronologia’]

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