O choque social
e o ponto de viragem
Mal foi anunciado qual seria, no governo francês, a pasta de Arnaud Montebourg, pasta de pomposo título («Ministério da Recuperação Produtiva»), a sua pobre pessoa pôs-nos a sofrer por antecipação. (…) Se foi uma vilania de François Hollande destinada a ornamentar um incómodo rival político, é melhor avisá-lo desde já que irá ser abocanhado pela sua própria máquina e que sairá disso também esfrangalhado. Porque o ministério da transformação do capitalismo globalizado sem nenhum desejo de transformação do capitalismo globalizado faz parte das turbinas de estalos que prometem deixar as bochechas vermelhas aos seus desgraçados engenheiros.
Entre planos eleitoralmente fechados a cadeado pelo sarkozismo terminal e a explosão das forças da recessão, Arnaud Montebourg, de vela na mão e coroa de espinhos só um tanto de esguelha, dispunha-se a penetrar na série de planos sociais como nas etapas de um calvário anunciado: Doux, Technicolor, Arcelor, Fralib, LyondellBasell… E, subitamente, aparece a Peugeot Sociedade Anónima (PSA). Mistério da política entendida como via passional colectiva: um belo dia dá-se um acontecimento que apenas parecia prolongar uma série de outros acontecimentos mas que tudo precipita no sentido de uma ruptura qualitativa em que nada é visto como antes.(…)
Trabalhadores da PSA |
Precisamente: o que a PSA vem mostrar, na cara de tais socialistas, é que eles serão, em breve, os últimos que ainda querem este mundo.
1. Políticas económicas austeritárias sob vigilância dos mercados financeiros;
2. «Comércio livre» - ou seja, concorrência terrivelmente distorcida entre países com padrões socioeconómicos inexistentes, prolongada através duma liberalização das deslocalizações extrema;
3. Constrangimento accionista;
É este o quadro triangular do capitalismo globalizado, onde a PSA ocupa o baricentro.
É por isso que a denúncia dos ‘patrões canalhas’ da Peugeot provavelmente se equivoca. (…)