O LinkedIn
é incrivelmente poderoso
Aos
44 anos, Reid
Hoffman está milionário.
Considerado
um visionário, fundou uma rede social de sucesso, o LinkedIn, e foi dos primeiros
a ver o potencial do ‘Facebook’, que hoje vale mais de cinco mil milhões de euros.
Tornou-se,
então, um guru de questões laborais
em sociedades ligadas em rede.
Em
Fevereiro, lançou nos Estados Unidos um polémico livro sobre o mercado do
emprego: “Start-Up_Um
Novo Futuro”, cuja edição portuguesa saiu agora, pela Clube do Autor.
Hoffman
preferiu dar esta entrevista à “Sábado” por email.
Não respondeu a
várias perguntas, devolvendo-as com um traço por cima. Numa delas,
perguntávamos-lhe como as amizades pessoais tinham sido importantes no início
da sua carreira.
Sábado – Escreve que as pessoas devem
encarar as suas carreiras como empresas e adoptar estratégias empresariais. E a
paixão? E a lealdade?
Reid Hoffman
– Ser empresarial não exclui a paixão – na verdade, as pessoas devem ser apaixonadas
pelo que fazem.
(…)
Sábado – Diz que devemos escolher certas
pessoas dos nossos relacionamentos e investir nelas porque podem ser úteis no
futuro. Isso não é ser interesseiro?
Reid Hoffman –
Não. Investir em relações não é apenas generoso, é essencial na carreira
profissional e pessoal. Nós devemos olhar para essa rede de conhecimentos e
questionarmo-nos “o que significa para nós?”, e não “o que significa para
mim?”. Construir
uma relação genuína com outra pessoa depende de pelo menos duas
coisas: empatia
(ver o mundo a partir da perspectiva do outro)
e ajuda
(pensar como podemos ajudar a outra pessoa
em vez de como ela nos pode ajudar).
Sábado – Defende por isso que cada pessoa
tenha um “Interesting
People Fund” (fundo para pessoas interessantes). Ou seja: devem
investir nessas relações no sentido literal…
Reid Hoffman –
O “Interesting People Fund” é uma táctica para ficar em contacto com as pessoas que são
importantes. Significa que pré-reservamos tempo e dinheiro para investir na nossa
rede de conhecimentos, para levar um colega a almoçar, para ir tomar um café
com uma pessoa de outra empresa, para assistir a uma reunião ou uma conferência
fora da cidade. No início de cada ano, a pessoa deve
definir a quantidade de dinheiro que pode gastar em pessoas
interessantes com quem se quer manter em contacto.
Sábado – Não estou registado como
LinkedIn. O meu emprego está em risco?
Reid Hoffman –
As redes profissionais como o LinkedIn são incrivelmente poderosas: Não
interessa qual é o seu emprego agora – a sua carreira numa economia tão
conectada depende cada vez mais de conseguir alavancar o poder da sua rede,
quer a acumular informação sobre o ramo de actividade, quer a construir
relacionamentos com outras pessoas.
Sábado – Não é anti-ético procurar emprego
quando já se tem um emprego?
Reid Hoffman –
Não. Não é anti-ético continuar a investir na sua rede e ter os olhos abertos
para uma nova oportunidade. Às vezes, fazer estas coisas pode de facto ajudá-lo
a si e à sua empresa.(…)
Sábado – Queria ser um intelectual,
estudou filosofia e política, mas tornou-se empresário. O que o mudou?
Reid Hoffman –
As minhas aspirações pessoais passavam por ter um grande impacto em milhões de pessoas,
mas isso ruiu com as realidades do mercado académico. Percebi suficientemente
cedo que os académicos acabavam a escrever para uma elite escolarizada de cerca
de 50 pessoas. Por isso adaptei a orientação da minha carreira para a
tecnologia e nunca voltei atrás.
Sábado – Em Dezembro, o primeiro-ministro
português sugeriu aos professores desempregados que saíssem da sua zona de
conforto e emigrassem para países de língua portuguesa, onde há falta de
professores. Concorda com ele?
Reid Hoffman –
Há factores – pessoais, familiares e profissionais – que entram em jogo quando
se toma a decisão de mudar para outra empresa, outra cidade, ou mesmo outro
país. E essa é uma das razões por que ter uma rede
é valioso. Não creio que as empresas ou os países possam esperar mais
fidelidade aos indivíduos, tal como estes não podem esperar
que a estabilidade e as garantias da era industrial regressem. As pessoas
devem procurar
oportunidades e riscos e devem estar sempre atentas às realidades do
mercado que afectam a sua posição.
Marco
Alves
Revista
SÁBADO,
02:VIII:2012, pp.28-30