teologia para leigos

27 de julho de 2011

«BANQUEIROS DE TODO O MUNDO UNI-VOS!»

                Banqueiros vão pedir à troika
que alivie as exigências feitas ao sector




O presidente do BPI lançou o tema e os banqueiros dos grandes grupos financeiros alinharam.
A troika chega em Agosto e a banca não escapa à avaliação de activos.

Os banqueiros das cinco maiores instituições nacionais - CGD, BCP, BES, BPI e Santander Totta - uniram-se nas críticas às exigências da troika para o sistema financeiro e, mais uma vez, apelaram a que o Estado pague o que deve à banca, cerca de 61 mil milhões de euros. A equipa da troika vai avaliar, em Agosto e Setembro, os planos de liquidez e capital dos bancos, bem como o valor dos activos em balanço. Será o primeiro contacto directo do sector com os técnicos e a oportunidade para os banqueiros pedirem à troika um programa mais leve.

Ontem avançaram com o apelo público. No fórum da banca e mercado de capitais, organizado pelo "Diário Económico", o presidente do BPI foi o mais combativo, ao afirmar que "o programa da troika para o sistema financeiro não faz sentido e tem de ser repensado de alto a baixo". Para Fernando Ülrich, "é preciso dar instruções à equipa da troika que lida com Portugal para adaptar o programa ao que foi decidido na quinta-feira pela União Europeia". Fernando Ülrich garante que "mais capital não serve para nada e é um confisco aos accionistas", referindo-se ao aumento para 9% este ano e 10% em Dezembro de 2012 dos rácios de capital, uma das imposições da troika.

O banqueiro diz mesmo que o BPI não vai voltar a ter uma grande carteira de crédito à habitação, nem de parcerias público-privadas financiadas por obrigações. "De repente, o mercado desaparece e voltamos à situação que temos hoje. Aliás, enquanto me lembrar do que o mercado de capitais me fez não vou querer voltar ao mercado."

O banqueiro foi mais longe na sua intervenção e sugeriu três adaptações ao programa. Primeiro, o fundo de 12 mil milhões destinado à capitalização da banca devia ser transferido para o sector público e servir para o Estado saldar dívidas ao sector financeiro. Ülrich defende que o reforço dos capitais para 10% deverá funcionar apenas como "uma almofada para fazer face ao reforço das imparidades que resultem de dois anos de recessão económica e às reformas antecipadas no sector". Por último, devia ter-se apostado numa linha de financiamento directo de dívida sénior. No cenário mais imediato, Ülrich quer que "a avaliação dos activos da banca seja cancelada". "Não depende dos métodos utilizados, mas da atitude. Se a troika quiser ser credível, e se para isso fizer sangue, vai dizer que os bancos precisam de muito mais imparidades. Nesse caso, até a credibilidade do Banco de Portugal pode ficar comprometida."

Também o presidente do BES pede ao Banco de Portugal que "impeça que sejam utilizados métodos de avaliação de crédito fundamentalistas, como os que foram usados na Irlanda". Ricardo Salgado diz que está "perfeitamente confiante na qualidade dos créditos do BES". O presidente do Santander Totta, Nuno Amado, junta-se aos apelos, pedindo "consistência na avaliação dos activos" e ajustamento dessa análise à realidade do país. Já Carlos Santos Ferreira revelou que o BCP fez contas à dívida do Estado à banca, que, incluindo a dívida pública, é inferior à dependência do sector junto do BCE. "O Estado deve à banca cerca de 61 mil milhões de euros", sublinhou. "O Estado que pague aquilo que deve" foi uma ideia repetida por todos os banqueiros, à excepção do presidente do banco público.

Faria de Oliveira acredita que uma linha de recapitalização para as empresas seria uma solução, mas admite que tal é "difícil na actual conjuntura”.

por Sandra Almeida Simões
i-on line, Publicado em 26 de Julho de 2011