teologia para leigos

6 de julho de 2011

SAIR DA CRISE AOS TRAMBOLHÕES?


Quatro cenários




Primeiro. O actual plano de austeridade PSD/PP funciona. O défice é reduzido, a recessão acaba dentro de um ano e meio e os mercados recebem de braços abertos o refinanciamento de dívida a preços marginalmente superiores aos praticados antes da crise. O crescimento económico mundial recupera em força, inundando os mercados de capitais e absorvendo ondas de emigração portuguesa. Portugal volta assim ao seu estado ex-ante de medíocre performance económica, já que vive com um estado manietado pela necessidade de saldos primários positivos (continuação da austeridade) impeditivos de qualquer reestruturação económica que não a que é feita pela redução dos salários directos e indirectos. Um país onde dificilmente se conseguirá uma vida decente.

Segundo. Depois de um provável incumprimento (e saída do euro) da Grécia, a Europa decide-se a mutualizar a dívida pública europeia através de euro-obrigações. Associado vem obrigatoriamente um “ministro” das finanças europeus, como propõe o Sr. Trichet, que impõe a continuada austeridade na periferia, agora traumatizada pelo que aconteceu na Grécia. As economias da periferia entram em declínio face ao centro, até aos periféricos se fartarem da perda contínua de soberania e dos custos associados.

Terceiro. A Europa não chega a acordo e deixa os pequenos países da periferia entrar em incumprimento desorganizado. Devido às suas necessidades de financiamento público, são forçados a sair do euro. A banca colapsa e o crédito congela. Forte contracção do produto e instabilidade social. À Argentina. A recuperação depende de aparecer um governo à Kirchner. Os países do centro recapitalizam o BCE e assumem as perdas do Fundo europeu através de transferências fiscais. Politicamente, é mais fácil convencer os eleitores que tal pagamento é o custo de se terem livrado dos países “mal comportados”.

Quarto. Os países da periferia negoceiam uma saída organizada (e secreta) do euro com a EU. Dá-se um default através da desvalorização cambial subsequente, introduzem-se controlos de capitais e a banca é imediatamente nacionalizada e recapitalizada através da emissão monetária, prevenindo os efeitos de uma crise bancária. Os governos tomam as provisões necessárias anteriores ao anúncio para prevenir problemas de pagamentos e aprovisionamento de bens essenciais (da alimentação ao petróleo). Numa segunda fase, as reservas de ouro são utilizadas para estabilizar o câmbio. Adopta-se uma política industrial virada para a resolução do défice externo.

Nenhum dos cenários é agradável. Os cenários 1 e 4 são mais improváveis. O primeiro pela racionalidade económica (acho que é mais provável ganhar o Euromilhões); o quarto por ser politicamente impraticável. No actual rumo, estamos a caminho do terceiro.

Nuno Teles
06:VII:2011