Um populismo afável
e não xenófobo
A globalização das bases está em marcha.
A indignação, a que o escritor francês Stéphane Hessel apelou e que seduz a juventude desencantada do mundo desenvolvido, está em expansão. […]
A indignação e a raiva dos manifestantes virou-se contra o sistema no seu todo:
1. Contra os políticos e os partidos (…).
2. Contra os sindicatos, nos quais os desempregados e os jovens privados de de futuro (em Espanha, o desemprego jovem chega aos 40%) não se sentem representados.
3. Contra os bancos e a sua influência na política.
4. Contra a subida dos juros que contribui para um cenário ainda mais sombrio.
5. Contra a precariedade no emprego.
6. Contra a pressão salarial sobre os menos qualificados.
7. Contra a catástrofe do ensino(…).
8. Contra o fosso cada vez maior entre ricos e pobres.
9. E, sobretudo, contra a corrupção patente a todos os níveis da administração.
Os que se concentram nas praças de todo o país (Espanha) têm um inimigo em comum: a democracia dos partidos tradicionais e a classe política que a encarna.
Nas sondagens, o sistema partidário aparece em terceiro lugar, atrás do desemprego e da economia, mas antes da emigração e do terrorismo, na lista das maiores preocupações dos cidadãos. Neste ponto, tanto a esquerda como a direita têm a mesma ideia estereotipada do inimigo.
A geração do Twitter e do Facebook não é a única a ocupar as praças. Estão envolvidas pessoas de todas as idades e de todas as formações. Cidadãos de todas as origens profissionais responderam aos apelos das rádios (…).
Pessoas cujos percursos reflectem múltiplas dificuldades, muitas vezes marcadas pela experiência do desemprego de longa duração. Todos desprezam os políticos que, segundo eles, só se interessam pelo poder – um fim em si que não se apoia em nenhum projecto. (…)
Os porta-vozes do movimento querem prosseguir a acção. Mas de outra forma mais organizada e em rede. Estes manifestantes são mais do que simples «cidadãos encolerizados» unidos por um único objectivo: que «isto acabe».
Poderiam tornar-se num contrapeso aos antidemocratas de extrema-direita, hostis aos consensos. E impediriam os dirigentes tradicionais dos partidos de se encontarem uma vez mais entre si.
Quem, senão os indignados tão queridos a Stéphane Hessel, poderá evitar que não derrapemos na pós-democracia?
Werner A. Perger
Die Zeit, 19:V:2011, Hamburgo
[trad. ANA MARQUES, para Courrier International, ed. em português, Julho 2011, p.48-49]