CATÁLOGOS
O programa do governo é um conjunto de quatro catálogos.
1. O primeiro catálogo é para a maioria da população e promete viagens, em turística, com um único destino: a Grécia do círculo vicioso de austeridade, recessão, desemprego, nova ronda austeridade, até ao estoiro final.
2. O segundo catálogo é para grupos económicos, sobretudo estrangeiros, em busca de rendas e promete vender, com desconto, activos estratégicos do Estado, com excepção de uma CGD diminuída.
3. O terceiro catálogo promete dar um novo impulso ao inventivo e gradual processo de fragilização, em parceria com privados, dos serviços que constituem o núcleo central do Estado social: centros de saúde à venda, contratos de associação nas escolas, concessões, fornecimento de mão-de-obra grátis para o assistencialismo. Na segurança social pública serão feitos todos os investimentos intelectuais e políticos para a reduzir a um programa assistencial.
Haja imaginação neste parque de diversões que fará as delícias de grupos financeiros bem graúdos e de algumas instituições de caridade miúdas.
4. O último catálogo promete criar todas as condições para que os trabalhadores vendam a sua força de trabalho por um salário directo e indirecto mais baixo e com condições de trabalho menos seguras: precariedade renovada, trabalho temporário incentivado, despedimento mais fácil e barato, horários cada vez mais baralhados. É um catálogo para patrões medíocres.
Quatro catálogos que compõem um país socialmente ainda mais injusto e uma economia ainda menos civilizada. O que fazer? Dar uma olhadela aos quatro catálogos, perceber a sua lógica global, e deitá-los fora. Na reciclagem, não se esqueçam.
João Rodrigues
blog, Ladrões de Bicicletas, 29:VI:2011