Oração para tempos de crise
Em estes tempos de crise e aflição,
quando o mundo parece depender de banqueiros
e de seus lábios suspensos estamos,
ou, ávidos, escutamos o que dizem sobre o nosso futuro
os todo-poderosos observadores financeiros,
os todo-poderosos observadores financeiros,
e o mundo se classifica pelo ranking da confiança económica,
e alguns compram ouro
como quem segurasse o definitivo «para sempre».
Agora que os profetas são
futebolistas, pontífices famosos e líderes malabaristas-da-mentira,
diz-me alguma coisa, Senhor.
Quebra os códigos dos poderosos,
os critérios da publicidade
os modelos dos media, os interesses do mercado.
Senta-te aqui a meu lado sobre a erva
agora que a tarde cai e me invade
o peso que é viver como um ladrilho,
o medo do futuro e a imensa incerteza.
Agora que não sei como ajudar meu irmão a sair do buraco
ou me dou conta que este mesquinho mundo contagiou
meus amigos, minha família, até a minha comunidade
- cristã budista muçulmana -
agora que deusecos de barro se agigantam,
senta-te a meu lado e olha-me como outrora olhavas na Galileia,
e fala-me daqueloutro que quis garantir a vida à custa de celeiros,
ou do que construiu sobre areia,
ou dos lírios, dos pássaros... Diz-me
do inefável que vai para lá do tempo rumo a uma vida sem tempo,
ou eterna,
e do que irromperá de minhas próprias entranhas.
Ajuda-me a limpar meus olhos
e a olhar, mais do que ver, o que se esconde por detrás de tudo isto.
A olhar os crânios dos investidores, cujas cabeças os ocultam,
ajuda-me a imaginar os políticos a jogar ao arquinho,
a arriscar um rosto infinito para lá das estrelas.
Que eu possa reclinar a cabeça sobre as tuas palavras
e confiar em ti
por que não te envaideces com a tua viatura, nem com domótica,
nem em apareceres na tê-vê,
ou viveres de uma fantástica ilusão, vestir fashion,
mas apenas por possuíres entranhas,
seres humilde e manso de coração
para a nós nos acolheres, tristes e aflitos.
Permite que
o meu pequeno eu descubra o seu grande eu
nesse coração infinito, e que renasça como o exigias
a Nicodemos, e que, diante da tua Igreja obcecada com
dogmas normas prescrições
te veja entre
publicanos ciganos imigrantes
em barcos de refugiados sem rumo
entre os homens que te buscam em qualquer religião ou o.n.g.
Sobretudo, que eu me saiba olhar como
ressuscitado salvado resgatado
quando em ti me perco. Amén!
Pedro Lamet
06:X:2010
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