teologia para leigos

20 de novembro de 2010

1.ECONOMIA - PENSAMENTO DOMINANTE

 Esquecer os «Nobel», vencer o desemprego
1. Desemprego – um problema de «acasalamento»…

«Como é que a política económica pode lutar contra o desemprego?» «Porque é que tantas pessoas estão no desemprego quando há empregos disponíveis?»[1]

«Dificilmente encontraríamos questões mais urgentes e pertinentes, no momento em que o número de desempregados atinge novos recordes na maioria das economias desenvolvidas. Distinguindo os economistas Peter Diamond, Dale Mortensen e Christopher Pissarides pelos «novos contributos» que trouxeram para a compreensão do «funcionamento dos mercados», o Banco Central da Suécia – que imita todos os anos os comités Nobel[2] concedendo a sua própria versão do célebre prémio no domínio da economia – parece ter acertado no alvo. Contudo, não é impossível que tenha também desejado vir em socorro de um pensamento dominante à deriva e cujos timoneiros tentam fervorosamente defender em contracorrente com a realidade económica.

Os economistas recompensados situam-se na tradição dita «neoclássica», segundo a qual os mercados, entregues a si próprios, favorecem a realização do equilíbrio entre a oferta e a procura, através do mecanismo da evolução espontânea dos preços. Aplicada ao mercado de trabalho, esta doutrina promete-nos que o livre jogo das forças concorrenciais será suficiente para assegurar o pleno emprego. Se as engrenagens de uma tal esplêndida mecânica geram, a pesar disso, o desemprego, é porque diversas formas de «rigidez» as entravam: em particular, os sindicatos e as legislações constrangedoras (salário mínimo, direito do trabalho, etc.). Os trabalhos distinguidos este ano pelo Banco da Suécia interessam-se pelas imperfeições do «mercado de trabalho». Mortensen e Pissarides, retomando as análises de Diamond respeitantes às «fricções» sobre os mercados, debruçam-se sobre a dificuldade que as empresas e os desempregados sentem em «encontrar-se»: no jargão destes economistas, o desemprego teria origem num «problema de acasalamento». Com efeito, sendo imperfeita a informação de que uns e outros dispõem, o processo de procura de emprego consome tempo e origina sobrecustos. O que provoca – explicam – desemprego. Tais conclusões parecem ser, a priori, sensatas. Quanto mais a procura de emprego se revela difícil ou dispendiosa, mais elevado é o desemprego. Da mesma forma, para as empresas, quanto mais problemas são colocados pelos recrutamentos ou pelos despedimentos, tantos menos postos de trabalho serão criados. (…)».

Dany Lang [Centro de Economia da Universidade de Paris XIII]
e
Gilles Raveaud [Instituto de Estudos Europeus da Universidade de Paris VIII]
Docentes, Membros da Associação Francesa de Economia Política

[Le Monde Diplomatique – edição portuguesa, Novembro 2010, p.11]

Segue-se, nos próximos dias, a segunda de 3 partes do Artigo:
2. “Um rasgo de génio… que nos faz voltar a 1931”
3. “Beneficiários do Rendimento Mínimo procuram emprego”


[1] Comunicado de imprensa da Academia Real das Ciências da Suécia, 11 Outubro 2010.
[2] Ler: Hazel Henderson, ‘A Impostura’, Le Monde Diplomatique – edição portuguesa, Fevereiro 2005.