teologia para leigos

7 de novembro de 2010

[CASTILLO] MOVIMENTO-JESUS: SAÚDE, COMIDA E RELAÇÕES HUMANAS


as 3 preocupações de Jesus de Nazaré…


[Mateus 6: 24-34]

«Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas? Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? Porque vos preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos preocupeis, dizendo: ‘Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?’ Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema.»

  1. O factor económico é determinante na vida. Quer na vida dos indivíduos, quer na vida dos povos. Uma economia bem gerida é decisiva para o bem estar e felicidade, das pessoas e da sociedade. Tal como uma economia mal gerida é fonte de indizíveis sofrimentos individuais e sociais. Assim se entende que Jesus se tenha interessado tão vivamente pelo tema do dinheiro. O problema económico e as crises da economia foram assunto central nas preocupações de Jesus.
  2. No que a isto diz respeito, a ideia central do Evangelho é que o factor decisivo, para o bom funcionamentro da economia, é a rectidão ética. Não há dúvida que Jesus viu claramente que a economia só pode funcionar bem se for gerida por pessoas eticamente incorruptas, intocáveis, transparentes. Pois bem – se falamos de rectidão ética, naquilo que à economia diz respeito, isso pressupõe: (a) apagar das nossas cabeças, de vez, que Deus quer a pobreza; (b) que a ascética cristã é essencialmente ‘produtividade e rendimento no trabalho’; (c) assumir a «profissão» como a própria «vocação», pois a tarefa profisisonal «é o mais nobre conteúdo da própria conduta moral» (M. Weber).
  3. Posto isto: que sentido tem o que Jesus diz neste Evangelho (de Mateus)? Significa que: (a) O que importa na vida não é acumular dinheiro, mas fazer o que Deus quer; (b) O que Deus quer é que tornemos efectiva sociedade, convivência e condições de vida nas quais não haja motivos razoáveis para ninguém sentir-se angustiado com problemas económicos (comer, vestir, etc.). (c) Não ceder nunca ao desejo de acumular, já que toda a acumulação se faz à custa da carência de outros. Importa, aqui, recordar o que Oliver Cromwell enviou ao Parlamento inglês, em 1650: «Rogo-vos que eviteis os abusos de todas as profissões, sobretudo de uma, que a muitos faz pobres para que poucos se façam ricos: isso não beneficia a comunidade». (d) «Buscar o Reino de Deus e sua justiça» é isto.



Lendo os evangelhos com certa atenção rapidamente nos damos conta que as três coisas que mais preocuparam Jesus foram:

  1. a Saúde das pessoas
  2. a Comida do povo
  3. as Relações Humanas de todos para com todos
A prova mais clara de que estas foram de facto as três preocupações fundamentais de Jesus está em que os evangelhos constantemente se preocupam com esses temas. É disso que, os evangelhos, mais falam. Jesus curava doentes, participava em refeições, falava desse assunto com muita mais frequência do que podemos imaginar e referia-se, constantemente, às relações de uns para com outros. Determinante é encaixar esta evidência: os evangelhos falam muito mais destas três realidades do que de oração, religiosidade, culto, etc. Mais: quando Jesus se refere ao Pai do céu é sempre para justificar estas três preocupações. Que significa isto? Ao proceder desta maneira, Jesus revela-nos o modo como Deus é e do que Deus mais gosta. O Deus que se revela em Jesus é o Pai que se preocupa, antes de mais nada, com a saúde e o bem-estar de todos os seres humanos. Que se preocupa, antes de mais nada, com as boas relações de todos com todos. A saúde, a alimentação, as boas relações com os outros são as primeiras preocupações de todo o ser humano. Com isto estou a querer dizer que quando falamos de Encarnação de Deus na verdade estamos a dizer que Deus se fundiu e confundiu com o humano. Pelo que encontraremos a Deus humanizando-nos, isto é, sendo cada dia mais humanos, mais sensíveis a todo o ser humano.

E estas três preocupações terão que ser as três preocupações da Igreja.
Queremos e necessitamos uma Igreja mais humana, mais interessada pelo que preocupa a todos os seres humanos, sejam de que cultura for, de que religião for ou de que mentalidade política for. A Igreja continua obcecada com os seus dogmas e normas, seus poderes e suas cerimónias… Tudo isso é bom com tanto que, mediante essas coisas, a Igreja nos faça a todos mais humanos, melhores pessoas, mais respeitosos, mais tolerantes, mais próximos do sofrimento dos outros. Só uma Igreja assim terá futuro.

[«AS TRÊS PREOCUPAÇÕES DE JESUS», José Maria Castillo, SJ, 27:IX:2009]