por
José Vítor Malheiros
Texto
publicado no jornal Público a 11 de Setembro de 2012
(Crónica 36/2012)
“Se os
deficientes não tiverem uma família que possa suportar o custo da sua
assistência não se pode atirar o fardo para cima da sociedade”
“Um terço é para
morrer. Não é que tenhamos gosto em matá-los, mas a verdade é
que não há alternativa. Se não damos cabo deles, acabam por nos arrastar com
eles para o fundo. E de facto não os vamos matar-matar, aquilo que se chama
matar, como faziam os nazis. Se quiséssemos matá-los mesmo era por aí um clamor
que Deus me livre. Há gente muito piegas, que não percebe que as decisões duras
são para tomar, custe o que custar, e que, se nos livrarmos de um terço, os
outros vão ficar melhor. É por isso que nós não os vamos matar. Eles é que vão
morrendo. Basta que a mortalidade aumente um bocadinho mais que nos outros
grupos. E as estatísticas já mostram isso. O Mota Soares está a fazer bem o seu
trabalho. Sempre com aquela cara de anjo, sem nunca se desmanchar. Não são os
tipos da saúde pública que costumam dizer que a pobreza é a coisa que mais mal
faz à saúde? Eles lá sabem. Por isso, joga tudo a nosso favor. A tendência já
mostra isso e o que é importante é a tendência. Como eles adoecem mais, é só ir
dificultando cada vez mais o acesso aos tratamentos. A natureza faz o resto. O
Paulo Macedo também faz o que pode. Não é genocídio, é estatística. Um dia lá
chegaremos, o que é importante é que estamos no caminho certo. Não há dinheiro
para tratar toda a gente e é preciso fazer escolhas. E as escolhas implicam
sempre sacrifícios. Só podemos salvar alguns e devemos salvar aqueles que
são mais úteis à sociedade, os que geram riqueza. Não pode haver uns tipos que
só têm direitos e não contribuem com nada, que não têm deveres.
Estas tretas da democracia e da educação e da saúde para todos foram inventados
quando a sociedade precisava de milhões e milhões de pobres para espalhar
estrume e coisas assim. Agora já não precisamos e há cretinos que ainda não
perceberam que, para nós vivermos bem, é preciso podar estes sub-humanos.
Que há um terço que tem de ir à vida não tem dúvida nenhuma. Tem é de ser o
terço certo, os que gastam os nossos recursos todos e que não contribuem. Tem
de haver equidade. Se gastam e não contribuem, tenho muita pena... os recursos
são escassos. Ainda no outro dia os jornais diziam que estamos com um milhão de
analfabetos. O que é que os analfabetos podem contribuir para a sociedade do
conhecimento? Só vão engrossar a massa dos parasitas, a viver à conta. Portanto
são: os analfabetos, os desempregados de longa duração, os doentes crónicos, os
pensionistas pobres (não vamos meter os velhos todos porque nós não somos
animais e temos os nossos pais e os nossos avós), os sem-abrigo, os pedintes e
os ciganos, claro. E os deficientes. Não são todos. Mas se não tiverem uma
família que possa suportar o custo da assistência não se pode atirar esse fardo
para cima da sociedade. Não era justo. E temos de promover a justiça social.
O outro terço temos de
os pôr com dono. É chato ainda precisarmos de alguns operários e
assim, mas esta pouca vergonha de pensarem que mandam no país só porque votam
tem de acabar. Para começar, o país não é competitivo com as pessoas a viverem
todas decentemente. Não digo voltar à escravatura - é outro papão de que não se
pode falar - mas a verdade é que as sociedades evoluíram muito graças à
escravatura. Libertam-se recursos para fazer investimentos e inovação para
garantir o progresso e permite-se o ócio das classes abastadas, que também
precisam. A chatice de não podermos eliminar os operários como aos sub-humanos
é que precisamos destes gajos para fazer algumas coisas chatas e, para mais
(por enquanto) votam - ainda que a maioria deles ou não vote ou vote em nós. O
que é preciso é acabar com esses direitos garantidos que fazem com que eles
trabalhem o mínimo e vivam à sombra da bananeira. Eles têm de ser aquilo que os
comunistas dizem que eles são: proletários. Acabar com os direitos laborais, a
estabilidade do emprego, reduzir-lhes o nível de vida de maneira que percebam
quem manda. Estes têm de andar sempre borrados de medo: medo de ficar sem
trabalho e passar a ser sub-humanos, de morrer de fome no meio da rua. E
enchê-los de futebol e telenovelas e reality shows para os
anestesiar e para pensarem que os filhos deles vão ser estrelas de hip-hop e
assim.
O outro terço são profissionais e técnicos, que produzem serviços essenciais, médicos e
engenheiros, mas estes estão no papo. Já os convencemos de que
combater a desigualdade não é sustentável (tenho de mandar uma caixa de
charutos ao Lobo Xavier), que para eles poderem viver com conforto não há outra
alternativa que não seja liquidar os ciganos e os desempregados e acabar com o
RSI e que para pagar a saúde deles não podemos pagar a saúde dos pobres.
Com um terço da população exterminada,
um terço anestesiado e um terço comprado, o país pode
voltar a ser estável e viável. A verdade é que a pegada ecológica da
sociedade actual não é sustentável. E se não fosse assim não poderíamos
garantir o nível de luxo crescente da classe dirigente, onde eu espero estar um
dia. Não vou ficar em Massamá a vida toda. O Ângelo diz que, se continuarmos a
portar-nos bem, um dia nós também vamos poder pertencer à elite.” (jvmalheiros@gmail.com)
José Vítor Malheiros, Jornalista
Comentários (blog):
JD
disse:
«Rapidamente
lhe deram razão:
O Ministério da Saúde "pode e deve racionar" o acesso a tratamentos mais caros para pessoas com cancro, sida e doenças reumáticas, segundo um parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.
"É uma luta contra o desperdício e a ineficiência, que é enorme na Saúde", explicou o presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Miguel Oliveira da Silva, em entrevista à Antena-1.
Segundo o parecer, a que a Antena 1 teve acesso, o racionamento é aconselhado em exames e meios complementares de diagnóstico, como TACs, ecografias e ressonâncias magnéticas, depois de ouvidos médicos, gestores e doentes.
Os cortes dependerão do custo dos tratamentos e do facto de os tratamentos prolongarem a vida durante tempo suficiente para justificar os gastos.
Esperemos que os membros responsáveis deste parecer e desta eutanásia forçada sejam no futuro julgados.»
(27 Setembro, 2012, 13:54)
O Ministério da Saúde "pode e deve racionar" o acesso a tratamentos mais caros para pessoas com cancro, sida e doenças reumáticas, segundo um parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.
"É uma luta contra o desperdício e a ineficiência, que é enorme na Saúde", explicou o presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Miguel Oliveira da Silva, em entrevista à Antena-1.
Segundo o parecer, a que a Antena 1 teve acesso, o racionamento é aconselhado em exames e meios complementares de diagnóstico, como TACs, ecografias e ressonâncias magnéticas, depois de ouvidos médicos, gestores e doentes.
Os cortes dependerão do custo dos tratamentos e do facto de os tratamentos prolongarem a vida durante tempo suficiente para justificar os gastos.
Esperemos que os membros responsáveis deste parecer e desta eutanásia forçada sejam no futuro julgados.»
(27 Setembro, 2012, 13:54)
alargando horizontes…
O QUE NOS ESPERA! (2 intervenções do Prof. ALEXANDRE ABREU; no
fim da 1ª, saltar para a última intervenção em 21’,30’’)
(A ASTÚCIA NEO-LIBERAL)
ENTRE PÃO, LEGUMES,
CEREAIS E IOGURTES,… UMA UNHA ENCRAVADA TRATADA!