teologia para leigos

17 de novembro de 2012

«BEM COMUM» OU CIDADANIA?

CIDADANIA:
PALAVRA MALTRATADA, ESPERANÇAS INTACTAS





A democracia, extraordinária conquista num século XVIII monárquico, assemelha-se a um monumento inacabado cujo arquitecto tenha desaparecido. A representação política torna-se vazia, a abstenção nas eleições aumenta, a crise social fragiliza o cidadão… Uma revisitação da história e de alguns conceitos fundamentais permite identificar as fendas, na perspectiva de obras de renovação.






Alienada pelo «triângulo de ferro»[1] formado pela aliança dos dirigentes políticos, económicos e mediáticos; dividida por esse «ódio à democracia»[2] que separa os cidadãos que se mantêm no interior do «círculo da razão» liberal daqueles que dela estão excluídos; limitada pelas Constituições mas também pelos «constrangimentos externos» da globalização a soberania popular parece já não ser mais do que uma fonte de legitimidade entre outras. Se este desapossamento democrático foi possível, foi porque as formas instituídas de cidadania esse instrumento de soberania já não estavam suficientemente armadas para se lhe oporem. A delegação de poder constitutivo das democracias só permite que os cidadãos controlem os seus representantes a priori, no programa político, e a posteriori, no balanço. Entre os dois termos do mandato, a delegação de poder é um desapossamento.

Como controlar a acção dos representantes se não há mandato imperativo? Como exprimir a revolta se o voto em branco não é levado em conta e se «a rua não governa»?

O controlo da eleição é, ele próprio, mais do que limitado, de tal forma a liberdade do cidadão parece estar pré-determinada por um conjunto de dispositivos cujo objectivo é orientar a sua escolha. O apelo ao «voto útil», apoiado pelo peso de sondagens que enfeitam manipulações com as roupagens da cientificidade, tende assim a anular a possibilidade de se romper o círculo fechado do campo político. Em democracia, o que o povo faz, o povo pode (…)»

Allan Popelard
Geógrafo no Instituto Francês de Geopolítica da Universidade de Paris VIII.



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[1] Expressão do sociólogo norte-americano Charles Wright Mills (1916-1962).
[2] Jacques Rancière, La Haine de la démocratie, La Fabrique, Paris, 2005.