teologia para leigos

8 de novembro de 2012

COMPETITIVIDADE:A GRANDE FALÁCIA

O MITO DA COMPETITIVIDADE


Benchmarking, Global City, Competitiveness, BLÁ BLÁ BLÁ…
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Curiosa unanimidade, a que se verificou em França. No passado dia 28 de Agosto, o antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros Alain Juppé revelou na rádio France Inter «o verdadeiro problema da economia francesa»: a sua falta de competitividade. Um mês antes, o anúncio dos oito mil despedimentos feitos pelo grupo Peugeot (PSA) levara Jean-François Copa, secretário-geral da União para um Movimento Popular (UMP), a identificar como «prioridade absoluta» «a competitividade da nossa indústria», antes de o senador e antigo primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin apelar a um «choque de competitividade», o único capaz de estimular a economia do país.

O acordo perfeito das vozes da UMP repetia o que há já algum tempo se ouvia dos lados da Presidência da República e do Governo. Não encerrou o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault a «conferência social» de 9 e 10 de Julho com os parceiros sociais fixando como objectivo fundamental «melhorar a competitividade das nossas empresas»? Neste ponto, não se verifica qualquer cacofonia no governo. Preocupado em justificar a sua participação na Universidade de Verão do Movimento das Empresas de França (Medef), o ministro socialista da Economia e Finanças, Pierre Moscovici, esclareceu: «Estaremos cá para dizer que o governo está totalmente decidido a enfrentar o défice económico da competitividade, porque só reforçando as nossas capacidades de crescimento é que poderemos vencer a batalha do emprego»[1].

Desde a Estratégia de Lisboa, que em 2000 fixou um «novo objectivo» para a União Europeia «tornar-se a economia do conhecimento a mais competitiva e mais dinâmica do mundo» ─, até aos «Acordos Competitividade-Emprego» lançados pelo presidente Nicolas Sarcozy no fim do seu mandato, e desde as injunções à «competitividade fiscal» do patronato britânico até aos planos de «competitividade industrial» do seu homólogo espanhol, a palavra «competitividade» anda na boca de toda a gente. Já não é apenas uma questão de gestão de empresas, uma vez que também as cidades, as regiões e, mais ainda, as nações têm agora de concentrar as suas energias neste objectivo prioritário.

Para o conseguirem, os nossos autarcas e governantes são convidados a inspirar-se nas teorias da gestão desenvolvidas nas escolas norte-americanas[2]: controlo dos custos de produção («competitividade-custo»), benchmarking (os países são comparados e classificados como empresas em meio concorrencial), marketing territorial (os territórios devem «vender-se»[3]), procura de financiamento (atracção dos capitais)… À medida que o uso destas ferramentas se propaga, a competitividade impõe-se como o novo aferidor do desempenho dos territórios na globalização. Mas, como é ela medida?

No sentido mais amplo, a competitividade designa a capacidade de enfrentar a concorrência com sucesso. Aplicado a territórios, este conceito mediria, portanto, o êxito da sua inserção na geografia económica mundial. No entanto, basta consultar as obras e artigos (abundantes) dedicados a esta questão para que surja um primeiro paradoxo: este conceito, apesar do entusiasmo que suscita, revela-se particularmente frágil no plano científico. Com efeito, transpõe uma noção microeconómica (a competitividade dos produtos e das empresas) para a esfera política (a competitividade dos territórios). Esta analogia é denunciada pelo economista Paul Krugman, que recebeu em 2008 o Prémio do Banco da Suécia em Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel:

«A competitividade é uma palavra vazia de sentido quando é aplicada às economias nacionais. A obsessão da competitividade é ao mesmo tempo falsa e perigosa»[4].


Reciclar velhas hierarquias

Muitos especialistas tentaram resolver este problema fazendo emergir uma definição mais consensual. Foi o caso do economista austríaco Karl Aiginger, para quem este termo (…)


Gilles Ardinat
Geógrafo. Este artigo apoia-se na tese de doutoramento do autor, intitulada «Geografia da competitividade», Universidade Paul-Valéry, Montpellier, 2011.


[8 pp.]



[1] Thomas Wieder, «Le flirt discret de l’Élysée avec les patrons», Le Monde, 29 de Agosto de 2012.
[2] Michel E. Porter, L’Avantage concurrentiel des nations, InterEditions, Paris, 1993.
[3] Ler François Cusset, «La foire aux fiefs», Le Monde Diplomatique, Maio de 2007.
[4] Paul Krugman, «Competitiveness: A Dangerous Obsession», Foreign Affairs, Tampa, vol. 37, 
nº 2, Março-Abril de 1994; «The Competition Myth», The New York Times, 23 de Janeiro de 2011.