teologia para leigos

7 de outubro de 2012

REPENSAR A COMUNIDADE - PROPOSTA [X. PIKAZA]

Mediação evangélica:
- igreja, ministérios, reino




«Palavra, serviço e celebração - Como já vimos, na senda que vai das Cartas Pastorais a Ireneu, a igreja desenvolveu basicamente dois ministérios, que em princípio não tinham carácter sacerdotal: bispos e presbíteros. Cumpriram uma função positiva fazendo com que a igreja se estendesse e se consolidasse no império romano e, pouco depois, se consolidasse em todo o mundo. Porém, com o surgimento do sistema neoliberal, o modelo de igreja que eles promoveram entrou em crise.

Não quero dizer que pura e simplesmente [O MODELO EM CRISE]  deva ser abandonado de imediato, mas temos que enraizá-lo novamente na terra do evangelho a fim de descobrir as novas potencialidades da mensagem de Jesus. Não é fácil adivinhar como tudo isto será, mas podemos pegar novamente nos três ministérios (tria munera) que a tradição destacou: ministério profético (proclamação da palavra), do reino (serviço aos pobres) e de festa (celebração cristã, eucaristia, cf. Vaticano II, Christus Dominus, 12-16).


«Estes são alguns dos contributos e conclusões do trabalho precedente que devem inscrever-se na nossa situação religiosa e social. Há quem diga que estamos em crise e há que aguentar: não arriscar e esperar que venham tempos melhores. Outros acrescentam que devemos firmar bem o leme, reforçar a autoridade, acentuar a hierarquia. Penso que ambos os conselhos são valiosos em matéria de sistema e de poder, mas não são conselhos de igreja, isto é, conselhos de perdão e comunhão gratuita entre pessoas que não perseguem outra coisa senão amar-se mutuamente. Numa linha evangélica, só existe uma resposta: ser coerentes e claros a partir da raiz de Cristo, com liberdade criadora e gozo intenso sem procurar soluções numa linha de estrutura.

«Provavelmente, seria conveniente (inevitável) que a grande instituição clerical fosse derrubada, mas nunca derrubar se isso for para erguer uma outra semelhante (que tudo mude para que tudo fique na mesma, como é comum dizer-se) – derrubar, muito bem, se for para descobrir e expressar a novidade messiânica. Neste contexto, regressa a imagem da destruição do templo que Jesus realizou ao expulsar os vendilhões num momento culminante do seu percurso: para que o Reino venha, este templo tem que vir abaixo, não por ódio ao templo, mas por amor a Deus e por entrega aos pobres (Mc 11:12-26 par.).

«Muitos dizem que a destruição do templo era boa já que aqueles sacerdotes estavam a merecê-las: o sistema da comunidade do templo estava mirrado e tinha que nascer (e nasceu) algo novo, quer no plano nacional judaico (federação de sinagogas, sem templo), quer no plano cristão (federação de igrejas). Esses dizem: ‘nós, porém, somos diferentes; do nosso templo, não há que deitar abaixo nada’. Ora bem, contra esta opinião, eu penso que a nossa situação é semelhante, pelo que aquela imagem (destruição do templo) regressa de modo luminoso. Não será conveniente que o nosso templo caia?»


(…)

Xabier Pikaza