teologia para leigos

31 de outubro de 2012

PAPADO: «MONARQUIA ABSOLUTA»? [CASTILLO]

Há 50 anos - 11:OUT:1962
Abertura Solene do Concílio Ecuménico Vaticano II


A SOLUÇÃO QUE NÃO PODE MAIS SER ADIADA

Enfrentando os Príncipes e o Imperador: Martinho Lutero_31 Out 1517. «Eis-me aqui!»




«(…) A partir do momento em que as leis canónicas estabelecem que ninguém tem o direito a apelar contra uma decisão da máxima autoridade eclesiástica e que essa autoridade não está (não pode estar) submetida a julgamento ou controlo de espécie alguma, a partir desse momento, na Igreja, ninguém tem direitos adquiridos, pois, mesmo que existam cânones que digam outra coisa, em qualquer momento pode vir «de Roma» um mandato ou uma proibição que, em virtude do supremo princípio da obediência à autoridade suprema, deixe o interessado ou a instituição denunciada, sem armas legais para se defender com eficácia.

Sendo assim, os que aceitarem este tipo de governo institucional não têm outro remédio se não ir por onde o Papa for. E, caso não estejam de acordo, não lhes resta outra saída se não calar-se ou dissentir «em segredo», de forma que tal dissensão não se espalhe e, muito menos, chegue ao conhecimento das autoridades que podem decidir (para o bem ou para o mal) sobre o assunto. Assim se explica o ambiente «rarefeito» de que, às vezes, nos apercebemos nos círculos ou em situações sob influência da instituição eclesiástica. Existe, com frequência, uma «vida dúplice» em pessoas que se movem nos meios eclesiásticos: «oficialmente» está-se de acordo com o que vem de Roma, mas «realmente» dissente-se e criticam-se ordens e proibições. Nada disto é bom para a Igreja, nada disto fomenta a comunhão entre os crentes.

No fundo, o problema está em que, uma instituição, na qual ninguém tem direitos eficazmente adquiridos (excepto o governante supremo), é um colectivo humano no seio do qual lateja constantemente o perigo de os interesses dos indivíduos se sobreporem aos valores que esses indivíduos têm que fomentar e defender.

Desde que os interesses de qualquer pessoa não estejam devidamente assegurados pelos correspondentes direitos, é muito humano e até compreensível que o indivíduo em questão se sinta mais monopolizado pelos interesses que tem que defender do que pelos valores que deveria fomentar. Isto explica o facto de, na Igreja, existir uma quantidade de eclesiásticos mais preocupados (na prática diária da sua vida) com o que deles pensa o bispo ou o Papa do que com o sofrimento das pessoas miseráveis ou com aquilo que o Evangelho diz dessas pessoas. Não se trata de maior ou menor santidade por parte de quem assim se porta. Trata-se duma instituição que funciona assim e desperta, em quem nela trabalha, este tipo de reacções e comportamentos. A pior consequência de tudo isto é a limitação da liberdade a tal ponto do próprio nem se dar conta disso: já não é a instituição que coloca limites, é o próprio que se auto-limita e que, inclusivamente, proíbe a sua inteligência de ponderar as alternativas que são censuradas pela instituição. Bem como é o próprio indivíduo que se deixa bloquear, incapaz de se decidir sobre questões que nem ele é capaz de saber quanto mal lhe podem fazer.

Sem dúvida alguma, o tema do poder na Igreja, concretamente, no que diz respeito ao sujeito que possui o poder supremo e o modo como o gere, é um assunto por resolver na instituição eclesiástica. Porém, é um assunto que não admite mais esperas, porque os problemas que, dia após dia, ele provoca só fazem avolumar a situação e torná-la insustentável.»


José Maria Castillo
La Iglesia que quiso el Concilio’
PPC, Madrid 22002, pp. 68-74.



[6 pp.]


MARTINHO LUTERO:

LINKS: