Há 50 anos - 11:OUT:1962
Abertura Solene do Concílio Ecuménico Vaticano II
OS BISPOS QUE O CONCÍLIO QUIS
(…) Mas antes disso, há que dizer algo sobre os três ofícios ou tarefas em que consiste a missão dos bispos.
A primeira de todas, «a pregação do Evangelho» (LG 25, 1). Os bispos são os «doutores autênticos, ou seja, os que estão dotados da autoridade de Cristo» (doctores authentici seu auctoritate Christi præditi) (LG 25, 1). Mas convém não esquecer que se trata de uma autoridade que existe em função dum fim, e esse fim é a transmissão do Evangelho. Por isso, o próprio Concílio acrescenta que «quando o Romano Pontífice ou, conjuntamente com ele, o corpo episcopal define uma doutrina, fá-lo de acordo com a Revelação, à qual devem sujeitar-se e conformar-se todos» (cui omnes stare et conformari tenentur) (LG 25, 4). Portanto, o ofício de ensinar, que é próprio dos bispos, não consiste em impor às pessoas as teorias ou opiniões que lhes ocorra, nem muito menos o poder de obrigar os fiéis a aceitar as doutrinas que estão envoltas em polémica dentro da própria Igreja.
E muito menos apresentar como algo revelado por Deus coisas que não pertencem propriamente à religião, mas que são questões de carácter filosófico, científico ou, inclusivamente, opções de tipo social, económico ou político. Quando um bispo nos faz sentir culpados por não aceitarmos aspectos que excedem a competência doutrinal dele, mesmo que o bispo o faça com a maior das boas vontades do mundo, na verdade aquilo que ele está a cometer é uma agressão contra o que há de mais sagrado na pessoa, que é a intimidade da sua consciência.
É bom dizer que nem tudo o que os bispos ensinam (incluindo o Papa) é «doutrina de fé». O Concílio pede, aos crentes, que, face ao ensino dos bispos, lhes responda com o «religioso obséquio do espírito» (religioso animi obsequio) (LG 25, 1).
O «acto de fé» só é obrigatório quando se refere a uma verdade que nos seja seguramente transmitida como sendo revelada por Deus ou definida infalivelmente pela Igreja. Porém, essas verdades são infinitamente muito menos do que a maioria das pessoas possa julgar. É por isso que é muito importante que tenhamos uma sólida formação teológica, a fim de sabermos em que coisas estamos obrigados a acreditar e também quais as questões que são de opinião livre.
A segunda é a santificação dos fiéis (LG 26) através da presidência do culto religioso, especialmente, a quando da celebração dos sacramentos, cujo centro é a eucaristia. Neste capítulo sobre a hierarquia, de referir o protagonismo que o Concílio concede ao bispo quanto (…)
José Maria Castillo
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