teologia para leigos

4 de outubro de 2012

A SOLIDARIEDADE (social ???) NA IGREJA

HISTÓRIAS EXEMPLARES
A Igreja e os bens





O tolhido da Porta Formosa: não tenho ouro nem prata (Act 3:1-10). A partir deste contexto queremos recuperar a tão paradoxal quanto central palavra de Pedro, nos começos dos Actos dos Apóstolos. Lucas havia acabado de dizer que os crentes tinham tudo em comum (Act 2:43-46). Ora, à entrada da Porta Formosa do rico Templo (de Jerusalém), por onde passam muitos bens deste mundo (o imposto do sistema sacral de Jerusalém), jaz um homem tolhido, um coxo, que aguarda a esmola. Passam Pedro e João, que bem lhe podiam ter dado parte do que partilham a partir da caixa comum da igreja, destinada aos pobres do mundo. Ora, Pedro e João não o fazem, não dão como esmola algo que lhes sobejasse, tal como faz o bom sistema religioso que lava a consciência com ajudas marginais enquanto edifica o seu grande Templo (não admira que nada lhe sobre).

Pedro olha o pobre e, então, diz: «Nem prata nem ouro: o que tenho te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda (Act 3:6) Isto quer dizer que a igreja não veio para resolver, no plano da lei e da transformação económica (no plano do sistema), o problema económico dos pobres. Veio para lhes oferecer a sua palavra de libertação, a qual os capacite para «andar» e dialogar a nível comunitário (na linha de Mc 2:1-12, que lemos ao estudar a história de Jesus). O grande sistema económico-sacral do Templo, que Jesus definiu como covil de ladrões (cf. Lc 19:46), deixa do lado de fora da porta os tolhidos-pobres, indignos de andar como pessoas. Eis a razão porque a igreja não pode tornar-se um sistema, edificando novamente um Templo rico, com portas formosas, para manter à sua porta, por «caridade», os tolhidos (como muitas vezes fez), mas deve apresentar-se como caminho partilhado. É assim que deve definir-se: caminho (hodos) aberto a todos que queiram assumi-lo como seu e percorrê-lo (cf. Act 9:2; 19:9; 22:4; 24:14.22). Eis porque não se dá esmola ao tolhido: a esmola faria com que permancesse ali, à margem, no exterior do templo para sempre tolhido. Há que abrir para ele um lugar no caminho dos bens e da vida partilhada, lugar que o texto anterior evocava (Act 2:43-47; «Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum»; «Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração») e o texto seguinte evoca (Act 4:32-37).

Eis a vocação da igreja: (…)

Xabier Pikaza