teologia para leigos

18 de outubro de 2012

QUEM TEM O PODER NA IGREJA? [CASTILLO]

Há 50 anos - 11:OUT:1962
Abertura Solene do Concílio Ecuménico Vaticano II



O PAPA E OS BISPOS


Papa e Bispos portugueses, em Fátima



Quem tem o poder supremo na Igreja?
Donde vem este poder?
Como se há-de organizar e gerir o exercício deste poder?


«(…) Será possível falar de bispos como um colectivo de pessoas independentemente das comunidades que são a razão de existir dos bispos?

Eis um dado surpreendente: no Anuário Pontifício de 1998, 43% dos bispos da Igreja católica não estão à frente de qualquer diocese.

Encontramos, no Concílio, uma teologia do episcopado que não bate certo com a teologia que o próprio concílio estabelecera a propósito do povo de Deus. Com isto quero dizer que os problemas que a relação Papa-bispos coloca devem ser resolvidos harmonizando essa relação dentro de uma totalidade prévia: o Povo de Deus. Sendo assim, o binómio Papa-bispos deveria ser substituído pelos três dados básicos a ter em conta e que são indissociáveis: povo de Deus-papado-episcopado. Isso quer dizer que o problema da potestade do Papa e dos bispos não é solucionável sem que esse problema se integre e se interprete a partir daquilo que é a razão de ser de tal potestade: o serviço do Papa e dos bispos ao povo, à comunidade dos crentes. Portanto, trata-se duma potestade que terá que contar com a comunidade, terá de dialogar com a comunidade e, em todo o caso, terá que estar sempre ao serviço dela. Se a potestade papal ou episcopal não for concebível a partir deste pressuposto, não haverá maneira de resolver os problemas que a relação do Papa com os bispos coloca. Pensar que, por sua conta, o Papa e os bispos podem decidir sem contar com as comunidades, com o que elas pensam e necessitam, isso é imaginar um poder que é impensável na Igreja. Se se quer verdadeiramente harmonizar o capítulo segundo acerca do povo de Deus com o capítulo terceiro acerca da hierarquia, esse modo de ver o poder é impensável.

Finalmente, naquilo que diz respeito ao poder que o Pontífice Romano tem na Igreja, nunca clarificaremos a questão se não tivermos em conta o que acertadamente fez notar H. Legrand e que tem a ver com o Proémio da constituição Pastor Aeternus do Concílio Vaticano I. Como é sabido, foi nesta constituição (…)»


José Maria Castillo

[8 pp]