teologia para leigos

6 de junho de 2011

ASCENÇÃO AOS CÉUS - JESUS VAI VOLTAR?

 Será que Jesus vai voltar?
Sobre a festa da Ascenção





Por volta dos anos 80, muitas comunidades estavam cansadas e tinham uma certa impaciência. Elas se perguntavam: “Será que Jesus vai voltar?” Pois Jesus tinha prometido voltar logo, mas até aquele momento ainda não tinha vindo! Daí a pergunta: “Vem ou não vem?” É também a pergunta de muita gente hoje: quando vai ser o fim do mundo? Quando é que Jesus vai voltar?

 Atos 1,7-8: A resposta de Jesus que vale até hoje

 As últimas palavras de Jesus aqui na terra trazem a resposta que vai servir de rumo para os cristãos de todos os tempos. Também para nós! Jesus diz: Não cabe a vocês conhecer os tempos e as datas que o Pai reservou à sua própria autoridade! Mas o Espírito Santo descerá sobre vocês e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os extremos da terra! Em vez de querer penetrar no segredo de Deus, os cristãos devem deixar-se penetrar pelo Espírito de Deus para que possam ser testemunhas de Jesus. Em vez de ficar olhando para a volta de Jesus no fim dos tempos, a pessoa cristã deve estar atento à volta de Jesus através do Espírito no dia-a-dia da sua vida. O resto, a gente deve deixar por conta do Pai que tem a história em suas mãos.

Em outras palavras, a resposta que Lucas dá às comunidades dos anos 80 é esta: Jesus já voltou no dia de Pentecostes e, agora, ele está presente na comunidade! A comunidade é o próprio Jesus continuando a missão que o Pai lhe deu: “Como o Pai me enviou, assim envio vocês!” (Jo 20,21). “Vocês são a carta de Cristo!” (2Cor 3,3). O que importa não é saber a hora da volta de Jesus no fim dos tempos, mas sim continuar anunciando a Boa Nova de Deus até que ele volte!

Nesta resposta de Jesus, Lucas dá também o esquema do livro dos Atos: dar testemunho de Jesus em Jerusalém (At 2 a 7), em toda a Judéia e Samaria (At 8 a 15), até os confins do mundo (At 16-28).


Atos 1,9: Descrição da ascensão

 Diz o texto: Jesus foi elevado à vista deles e uma nuvem o ocultou a seus olhos. Desta frase vem o que até hoje repetimos no Credo: “Subiu ao céu, onde está sentado à direita de Deus Pai”. A nuvem é um símbolo da presença de Deus. Ela acompanhava o povo no deserto, depois da saída do Egito (Ex 13,21-22; 40,36-38). E quando Salomão inaugurou o Templo, ela encheu o Santo dos Santos para significar que Deus tinha tomado posse (1Rs 8,10-13). Dizendo que uma nuvem ocultou Jesus aos olhos dos discípulos e das discípulas, Lucas afirma que Jesus entrou no mundo de Deus para poder estar sempre connosco. De junto de Deus, ele nos envia o dom do Espírito Santo, a cada momento. Por isso, podemos dizer e gritar durante as nossas celebrações: Ele está no meio de nós!


Atos 1,10-11: O recado dos mensageiros

 Depois que Jesus desapareceu, os discípulos e as discípulas ficaram aí, parados, olhando para o céu. Era o que, no tempo de Lucas, muita gente fazia. Ficavam olhando para o céu, esperando a volta de Jesus, e esqueciam de cumprir aqui na terra seu dever de serem testemu­nhas de Jesus (2Ts 3,11-12).

Neste momento, aparecem dois homens vestidos de branco. São mensageiros que transmitem ou esclarecem a mensagem de Deus que existe dentro dos fatos. Quando alguém faz isto, dizemos que ele ou ela é um anjo ou uma anja de Deus. A palavra anjo significa mensageiro. Os dois dão um recado que deve animar a caminhada das comunidades: “Tão certo como Jesus subiu para o céu e agora se encontra junto de Deus, tão certo ele voltará e se manifestará de novo, do mesmo modo como vocês o viram partir aqui”. Com esta certeza no coração, os cristãos devem continuar o anún­cio da Boa Nova, sem se preocupar com a data e a hora da volta de Jesus (At 1,7; Mc 13,32).

Assim, Lucas adverte as comunidades dos anos 80 (e também as nossas de hoje), para que a demasiada preocupação com a vinda gloriosa de Jesus no fim dos tempos não as impeça de perceber que Jesus já estava aí no meio delas. Esta nova volta invisível mas real de Jesus se deu no dia de Pentecostes e nos muitos outros pentecostes que seguiram depois, até hoje: na Palavra, na Eucaristia, na Comunidade, nos acontecimentos, de tantas maneiras! É preciso ter o olhar de fé para poder percebê-lo. Este olhar se adquire na comunidade.


Carlos Mesters e Francisco Orofino

03 Junho 2011