MALDITA COMPETITIVIDADE!
Juan Francisco Martín Seco
‘Público’, MADRID
Até agora chamado ‘PACTO PARA A COMPETITIVIDADE’ acaba de ser rebaptizado como ‘PACTO PARA O EURO’, mas o conteúdo é o mesmo. Não pretende tornar as economias mais produtivas mas apenas mais competitivas. Tem sempre, como referência, um outro: competir é coisa para pelo menos dois. Todos os países podem tornar-se mais produtivos (produzir mais recursos idênticos ou conseguir o mesmo com menos recursos) ao mesmo tempo, mas nem todos podem tornar-se simultaneamente mais competitivos.
Um país ganha competitividade desde que outros a percam. A competitividade não aumenta o tamanho do bolo: só tira uma fatia ao vizinho. Daí a enorme contradição de Angela Merkel. Do ponto de vista do conjunto da zona euro, a estratégia de impor a sua política anti-social aos Estados-membros – salários mais baixos, pensões de reforma menores, piores serviços públicos, etc. – dificilmente terá outro efeito que não seja redistribuir o rendimento em prejuízo dos trabalhadores e a favor do capital.
Não tornará as economias mais competitivas. Primeiro, porque não há garantia de que os custos mais baixos se reflictam nos preços e, de qualquer modo, porque, se todos os países aplicarem a mesma política, os efeitos anular-se-ão. O G-20 chegou à conclusão – com a concordância da Alemanha – de que as desvalorizações competitivas não são o mecanismo adequado para obter uma maior quota de mercado. A única coisa que se conseguiria seria o caos nos mercados de câmbios e o gerar dum clima de instabilidade monetária: todos os países iriam lançar-se numa corrida infindável para desvalorizar as respectivas moedas. Então, por que razão não se aplica o mesmo critério, quando se trata de reduzir salários, de regular o mercado de trabalho ou de baixar os impostos e as cotizações sociais?
Também, nestas matérias, os outros governos aplicariam medidas semelhantes e, no final, ficaria tudo na mesma, uma vez que a competitividade é um jogo de soma zero.
Bem, nem tudo: os trabalhadores viveriam infinitamente pior e seriam destruídos muitos elementos desse Estado social que, com tanto esforço, temos vindo a tecer ao longo dos anos.
[in COURRIER International, versão portuguesa, Maio 2011, p.48]
[in COURRIER International, versão portuguesa, Maio 2011, p.48]