Os nomes das políticas
Falar dos novos ministros só é interessante na medida em que se fala das políticas e das estruturas que as condicionam.
O ministro das finanças, Vítor Gaspar, é o administrador-delegado que a troika precisa para garantir que o seu programa inviável é adoptado com toda a convicção. Com carreira feita no BCE, monetarista e admirador de Milton Friedman, tem o perfil ideal para traduzir em políticas as obsessões de um moralismo das finanças públicas que é incapaz de compreender o que se tem passado na Zona Euro e que vê a crise como uma oportunidade e não como um imenso desperdício.
Álvaro Santos Pereira, por sua vez, poderá meter na gaveta as ideias sobre reestruturação da dívida, que ocorrerá quando der jeito aos credores, mas será incentivado a levar à prática o seu projecto de liberalização das relações laborais, ou seja, de aumento da discricionariedade empresarial e de redução do trabalho a um custo a economizar.
Os sectores mais reaccionários do patronato ficarão gratos.
O desemprego continuará a aumentar, claro, porque é a crise de procura que determina a sua evolução. As parcerias público-privadas permanecerão intactas e serão provavelmente alargadas, na saúde, por exemplo, apesar do cepticismo de um ministro sem peso político. Peso terá Paulo Macedo, ex-administrador da Médis e novo ministro da saúde, que vem do BCP, um dos grupos interessados em capturar este apetitoso sector, onde os lucros se fazem à custa do Estado e da vulnerabilidade dos cidadãos.
Austeridade, desemprego e fragilização da provisão pública. Com estes ou com outros nomes, estas são as políticas.
João Rodrigues
20 de Junho de 2011