teologia para leigos

26 de junho de 2011

A MISSA DOMINICAL - CRISE DA MISSA OU CRISE DA COMUNIDADE?

E fizeram ninho nas igrejas…






Há muitos anos [décadas, já…] que a minha geração não sente apelo de espécie alguma quando acorda, aos domingos, pela manhã. E, no entanto, os domingos são o que há de mais cortante, no decurso da semana: não se vai ao trabalho, privilegia-se o «fazer outras coisas», os horários invertem-se com um prazer muito especial que criam uma nova ordem nas horas que passam. O hábito da Missa Dominical foi envenenado por variadíssimas razões (mil estudos os estudaram já…).

Diante do texto (abaixo) do padre e teólogo J A Pagola, surgiu-me a vontade de partilhar as duas razões (maiores) de eu próprio não me apetecer a Missa, aos domingos.

Primeira. A ausência de vida comunitária. Na verdade, nas paróquias, mesmo naquelas que se dizem ‘comunidades paroquiais’, as pessoas ‘juntam-se’ aos domingos para ouvir a Missa. Ao domingo ‘junta-se’ gente. Isso é mais que necessário hoje em dia (urgente, diria), caso aquela gente tivesse «vida comunitária»: vida de comunhão e partilha. Mas isso não acontece. Pior: isso não é exigido pela Igreja. A porta está aberta e ninguém acolhe ninguém, nem pergunta nada a ninguém. Entras e já estás… na igreja. É uma questão que tem a ver com a questão da «dimensão humana»: sem nos conhecermos pelo nome, sem sabermos o que fazemos, onde moramos, como vivemos e de que vivemos, que saúde trazemos, que comunhão de bens realizamos, etc., não haverá «dimensão humana» nesse ajuntamento dominical e não poderá haver ‘comunidade’. Sem sermos «família» (cristã), como nos sentirmos em Casa?

Segunda. A vida fica à porta da Missa. O Ritual supõe que entremos ‘em cortejo’ respondendo a uma voz que convoca, mas, depois lá dentro, a vida, com todas as suas vicissitudes religiosas, familiares, sociais, económicas, políticas, geracionais, etc., não ‘entram’ (não são recolhidas, não são enunciadas, não são recolectadas e reunidas, não são depositadas no centro da assembleia). A Vida, que é o centro do que, simbolicamente, ali se vai passar, fica à porta. Se entra é sob a forma de uma linguagem tão metafórica, tão metafórica, tão liturgizada e vestida, tão desactualizada no seu vocabulário que a faz «encolher-se» e definhar em toda a eventual agudeza de actualidade. A igreja tem medo da crueza da Vida da semana: por isso, a adoça de cânticos, linguagem analógica e nuances… logo à entrada. Palavra de ordinário não é palavra viva. Regra geral, as pessoas entram mudas e saem caladas… A Celebração (da palavra e não só) é a morte da Palavra! Há quem ‘bichane’ o papagueado todo da Missa de ponta a ponta… num autismo doentio repugnante.
Sem a actualidade da semana (a vida pessoal/testemunhal só pode ser hebdomadária para não se transformar em ‘discurso sobre’ a vida), sem a actualidade da semana, com que sangue encher o cálice de vinho? E com que suor e alegria encher o cesto do pão?

Ou seja, é naturalíssimo que as razões que levam gente a querer estar com gente, sejam: (1) terem algo afim, terem feito caminho juntas; (2) terem previamente construído laços de comunhão, confiarem; (3) terem algo para dizer uns aos outros, para partilhar; (4) sentirem, ou pressentirem, que vale a pena estar juntos; (5) saberem-se reunidos pelos mesmos critérios, p. ex., os evangélicos das bem-aventuranças (6) e, idealmente, buscarem algo novo e edificante.

A Igreja Católica deve ser a única instituição que nunca se preocupa, de quando em vez, em auto-avaliar-se. Parte-se do princípio de que, se nunca houve ‘queixas’, é porque tudo está bem… No entanto, eu tenho a certeza de que (apenas falando do domingo) ninguém fez NUNCA SEQUER uma catequese (credível, actualizada) sobre os Mistérios que se celebram durante a Missa. Pura e simplesmente, parte-se… do princípio!

Há muitos anos [décadas, já…] que a minha geração não sente apelo de espécie alguma quando acorda, aos domingos, pela manhã. É por razões tão ridículas quanto estas que, há muitas décadas, há cristãos em auto-gestão… aos domingos.

Salvo as andorinhas, que, fiel e regularmente, não param de fazer ninho nos beirais das ermidas.








Reavivar la memoria de Jesús
J A PAGOLA

La crisis de la misa es, probablemente, el símbolo más expresivo de la crisis que se está viviendo en el cristianismo actual. Cada vez aparece con más evidencia que el cumplimiento fiel del ritual de la eucaristía, tal como ha quedado configurado a lo largo de los siglos, es insuficiente para alimentar el contacto vital con Cristo que necesita hoy la Iglesia.

El alejamiento silencioso de tantos cristianos que abandonan la misa dominical, la ausencia generalizada de los jóvenes, incapaces de entender y gustar la celebración, las quejas y demandas de quienes siguen asistiendo con fidelidad ejemplar, nos están gritando a todos que la Iglesia necesita en el centro mismo de sus comunidades una experiencia sacramental mucho más viva y sentida.

Sin embargo, nadie parece sentirse responsable de lo que está ocurriendo. Somos víctimas de la inercia, la cobardía o la pereza. Un día, quizás no tan lejano, una Iglesia más frágil y pobre, pero con más capacidad de renovación, emprenderá la transformación del ritual de la eucaristía, y la jerarquía asumirá su responsabilidad apostólica para tomar decisiones que hoy no nos atrevemos ni a plantear.

Mientras tanto no podemos permanecer pasivos. Para que un día se produzca una renovación litúrgica de la Cena del Señor es necesario crear un nuevo clima en las comunidades cristianas. Hemos de sentir de manera mucho más viva la necesidad de recordar a Jesús y hacer de su memoria el principio de una transformación profunda de nuestra experiencia religiosa. La última Cena es el gesto privilegiado en el que Jesús, ante la proximidad de su muerte, recapitula lo que ha sido su vida y lo que va a ser su crucifixión. En esa Cena se concentra y revela de manera excepcional el contenido salvador de toda su existencia: su amor al Padre y su compasión hacia los humanos, llevado hasta el extremo.

Por eso es tan importante una celebración viva de la eucaristía.

En ella actualizamos la presencia de Jesús en medio de nosotros. Reproducir lo que él vivió al término de su vida, plena e intensamente fiel al proyecto de su Padre, es la experiencia privilegiada que necesitamos para alimentar nuestro seguimiento a Jesús y nuestro trabajo para abrir caminos al Reino. Hemos de escuchar con mas hondura el mandato de Jesús: "Haced esto en memoria mía".

En medio de dificultades, obstáculos y resistencias, hemos de luchar contra el olvido. Necesitamos hacer memoria de Jesús con más verdad y autenticidad. Necesitamos reavivar y renovar la celebración de la eucaristía.

José Antonio Pagola
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26 de junio de 2011
El Cuerpo y la Sangre del Señor
Juan 6,51-58