teologia para leigos

22 de fevereiro de 2012

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA E ESPECULAÇÃO FINANCEIRA

Estado paga a padres de Fátima milhões
perdidos em especulação no BPN

Vítimas de burla de 3,5 milhões por gestor que gastou dinheiro na Bolsa



 
Durante um ano, uma instituição religiosa de Fátima entregou 3,5 milhões de euros a um gestor do BPN que prometia juros superiores aos dos depósitos a prazo. Só que, afinal, o dinheiro foi desviado e perdido na Bolsa. O Estado vai agora pagar tudo.

A condenação do BPN foi decidida pelos juízes do Supremo Tribunal de Justiça, numa acção cível. Estes consideram que o Instituto Missionário da Consolata tem direito a receber tudo aquilo que entregou ao gestor bancário Leonel Gordo, de 46 anos, entre 2004 e 2005, em cheques mas também em dinheiro vivo, para investimentos especulativos e de alto risco.

A conta final é de 3,584 milhões de euros, quantia a que se acrescentam juros desde Abril de 2006. Mas – mesmo com a venda do BPN ao banco de origem angolana BIC −,  a factura será paga pelo Estado português, que é quem assume todas as obrigações do banco nacionalizado em 2008.


Enganados com papéis falsos

Em tribunal foi provado que o gestor do BPN burlou o padre responsável financeiro do Instituto. Convenceu-o a resgatar depósitos a prazo e outras aplicações para investimentos «seguros» e com aliciantes rendimentos, dizendo-se «especialista» no mercado de títulos. Numa ocasião, até fez crer ao sacerdote ter sido promovido no banco por causa desses «profundos conhecimentos».

Segundo o acórdão, a maior parte das entregas de dinheiro e os contactos com o padre eram feitos «pessoalmente» em instalações dos Missionários da Consolata, na Cova da iria.

O gestor evitava a deslocação dos padres à agência do BPN explicando que, visitar os clientes poupando-lhes os incómodos, fazia parte do seu trabalho. E assim foi conseguindo ficar com as verbas, depositando-os em contas por si controladas e investindo na bolsa e em «warrants» (altamente especulativa).

Durante meses, a instituição não teve informação oficial do BPN sobre os investimentos. Mas, quando a pediu, recebeu do gestor, em três ocasiões, papéis sem carimbo do banco. Eram falsos. Esta aparente falta de controlo das contas levou a Relação a atribuir culpas aos padres, numa proporção de 25% dos danos. Só que o Supremo não concorda e obriga o BPN a pagar os 3,5 milhões.

A fraude só veio a lume quando, após contacto com outros funcionários do BPN, o padre perguntou ao gestor o que se passava. Este confessou estar «desesperado e perdido» por ter desviado o dinheiro. Não foi perdoado e acabou condenado, em 2008, por burla e falsificação, a quatro anos e meio de cadeia, com pena suspensa.

Jornal de Notícias’, 3 Janeiro de 2012 (p.3)
por Nuno Miguel Maia


[Título de capa: «Vamos pagar 3,5 milhões a padres burlados pelo BPN». No interior, fotos do Instituto Missionário da Consolata e do ‘HOTEL PAX’, Fátima, propriedade do Instituto]

[Os Missionários estão em Portugal desde 1943, exploram o HOTEL PAX, mas também possuem uma conta bancária em nome de «Missões Consolata – Artigos Religiosos». O Hotel dispõe de salão de conferências para 200 pessoas e uma loja de artigos religiosos e regionais]