teologia para leigos

2 de fevereiro de 2012

JESUS, AMIGO DAS PROSTITUTAS

Emil Nolde

Jesus, amigo das últimas

As mulheres que se aproximavam de Jesus pertenciam, geralmente, ao estrato mais baixo daquela sociedade.

Muitas delas eram doentes curadas por Jesus, como Maria de Magdala.

Provavelmente, viviam à volta dele mulheres não vinculadas a nenhum homem, como viúvas indefesas, esposas repudiadas e, em geral, mulheres solitárias, sem recursos, pouco respeitadas e de fama duvidosa.

Havia também algumas prostituas, consideradas por todos como a pior fonte de impureza e contaminação. Jesus a todas acolhia. [a «grande prostituta» condenada na Bíblia refere-se ao Imperialismo romano... Apocalipse 19:2]

 Essas mulheres contavam-se entre os pecadores e indesejáveis que se sentavam a comer com ele. Aquela mesa não era a "mesa santa" a que se sentavam os "homens de santidade" da comunidade de Qümran, da qual se excluía toda e qualquer mulher. Também não era a "mesa pura" dos sectores farisaicos mais radicais, que comiam os seus alimentos na observância estrita da pureza ritual dos sacerdotes.

Para Jesus, contudo, essas refeições eram exactamente sinal e antecipação do reino de Deus. Junto a ele já se podia ver como os "últimos" do Povo santo e as "últimas” daquela sociedade patriarcal eram os "primeiros" e as "primeiras" a entrarem no Reino de Deus.

A presença dessas mulheres nas refeições de Jesus era, provavelmente, escandalosa. As que andavam fora de casa, na companhia de homens, eram tidas como mulheres de fácil acesso para qualquer comensal, sobretudo se não estavam acompanhadas pelo seu marido. Por outro lado, os cobradores de impostos tinham fama de viver em contacto com o mundo das prostitutas. Alguns deles até dirigiam pequenos bordéis e disponibilizavam mulheres para os banquetes. Jesus não se assustava nem as condenava. [Mateus 26:6-13] Acolhia-as com o amor compreensivo do Pai.



Emil Nolde_«A mulher adúltera»

Nunca tinham estado, aquelas mulheres, tão perto de um profeta. Jamais tinham ouvido falar assim de Deus. Mais de uma chorava de agradecimento. Aos seus adversários não era difícil desacreditá-lo como homem pouco observante da lei, "amigo de pecadoras". Jesus desafiou-os, em alguma ocasião, de forma provocadora: "Em verdade vos digo: os cobradores de impostos e as meretrizes vão preceder-vos no Reino de Deus".[Mateus 21:28-32]

Também o "código de pureza" [Levítico 11] não constituía para Jesus nenhum obstáculo para estar perto das mulheres. Segundo parece, as prescrições deste código exerciam sobre a vida das mulheres um controlo muito mais rigoroso do que sobre a dos homens. Durante a menstruação, a mulher permanecia em estado de impureza durante sete dias; depois do parto, se tivesse um filho varão, quarenta dias, e oitenta se desse à luz uma filha. Realmente, a situação quase permanente das mulheres era a de "impureza ritual".

 É difícil saber como é que elas suportavam isso e que consequências práticas tinha na sua convivência diária. Talvez o mais gravoso fosse a sua consciência de inferioridade e a sensação de afastamento do Deus santo que habitava no templo. Jesus não demonstrou nenhum interesse em criticar o "código de pureza". Em momento algum se deixou enredar em questões de sexo e de pureza ritual. Não era esse o seu forte. A sua função era agir com liberdade total a partir da experiência que ele tinha do Reino de Deus.


Emil Nolde

Não olhava as mulheres como fonte de tentação [Mateus 5:28], nem de possível contaminação [Lucas 8:43]. Aproximava-se delas sem receio e tratava-as abertamente, sem se deixar condicionar por preconceito algum. Para as mulheres, a aproximação a Jesus tinha de ser motivo de alegria. Para muitas significava, pelo menos momentaneamente, a libertação de uma vida de marginalização e de trabalho a que estavam condenadas em suas casas. Algumas até se aventuraram a segui-lo pelos caminhos da Galileia. [Mateus 27:55] Talvez fossem as mulheres solitárias e as infelizes aquelas que viram no movimento de Jesus uma alternativa de vida mais digna.[P/221-223]