teologia para leigos

7 de dezembro de 2010

O GRITO DO PROFETA ISAÍAS

«urdimos dentro de nós
palavras mentirosas…»

1Não, a mão do Senhor não é curta para salvar,
nem o seu ouvido demasiado surdo para ouvir.
 2Foram as vossas faltas que cavaram o abismo
entre vós e o vosso Deus.
Foram os vossos pecados
que o levaram a esconder a sua face,
para não vos ouvir.
 3Com efeito, as vossas mãos estão manchadas de sangue,
e os vossos dedos, de iniquidade;
os vossos lábios dizem mentiras,
e a vossa língua profere calúnias.
 4Não há quem clame pela justiça,
quem julgue no tribunal conforme a verdade.
As suas provas apoiam-se na confusão
e os seus argumentos na falsidade.
Concebem o crime e dão à luz a maldade.
 5Chocam ovos de serpente
e tecem teias de aranha.
O que comer desses ovos, morre;
se os descascam, saem víboras.
 6As suas teias não servem para fazer roupa,
ninguém se pode cobrir com o que eles tecem.
Fazem obras infamantes,
as suas mãos produzem a violência.
 7Os seus pés correm para fazer o mal,
apressam-se a derramar o sangue inocente.
Os seus projectos são projectos criminosos;
à sua passagem deixam estrago e ruína.
 8Não conhecem o caminho da paz.
Por onde andam, não existe o direito,
abriram para si mesmos caminhos tortuosos;
quem os segue, não conhece a paz.

9Por causa disto, anda afastado de nós o direito,
e não se aproxima de nós a justiça;
esperávamos a luz e vemos apenas trevas,
a claridade do dia, e andamos às escuras.
 10Vamos como cegos apalpando as paredes,
andamos às apalpadelas como os que não vêem;
em pleno dia tropeçando, como no crepúsculo,
estamos cheios de saúde e somos como mortos.
 11Todos grunhimos como ursos,
e gememos como pombas.
Esperamos a justiça, mas não aparece;
a salvação, e ela está longe de nós.
 12Porque os nossos crimes multiplicaram-se contra ti.
Os nossos pecados são os nossos acusadores;
de facto, os nossos crimes acompanham-nos,
e reconhecemos as nossas culpas.
 13Revoltámo-nos e esquecemo-nos do Senhor,
voltámos as costa ao nosso Deus.
Não temos falado senão de opressão e de revolta,
urdimos dentro de nós palavras mentirosas.
 14Assim se engana o direito
e se afasta de nós a justiça,
porque a lealdade tropeça na praça pública
e a rectidão não encontra acesso.
 15A boa fé está ausente,
e quem se afasta do mal é espoliado.

O Senhor vê com indignação
que já não há justiça.
 16Vê que não há nem sequer um homem a reagir,
admira-se de que ninguém intervenha.
Então interveio com o seu poder,
e a sua justiça o susteve.
 17Revestiu-se da justiça como de uma couraça,
e da vitória como de um capacete.
A vingança é a sua veste de guerreiro
e a indignação, o manto que leva para o combate.
 18Retribuirá a cada um conforme o que merece:
a fúria é para os seus inimigos,
e a represália é para os seus adversários;
também as ilhas terão represália.
 19Os do Ocidente temerão o Senhor,
e os do Oriente respeitarão a sua glória.
A sua vinda será como rio impetuoso,
impelido pelo sopro do Senhor.
 20Mas virá a Sião como redentor,
para os que renegam o crime, em Jacob.
- Oráculo do Senhor


Profeta Isaías, filho de Amós [3º Isaías,59:1-20]
(Judeia, sec. VIII ac, pós-exílio da Babilónia)