teologia para leigos

12 de dezembro de 2010

«FAZER»: DISCURSOS DISPENSAM-SE [CASTILLO]

-«Aos Domingos, órfãos?»
Jamais… ‘Impossível adiar o coração’!»

Domingo, dia 12 de Dezembro – Missa: convocação e envio...
Acabo de me dissolver na cidade – estive na assembleia dos que procuram o calor fraterno e uma sílaba que salve o dia, aquilo que só os domingos têm.
Acabamos de cantar:

«Já é tempo de vencermos o medo
Que em seus laços terríveis nos prendeu»

«Povos que caminhais na triste noite,
O dia do Senhor já vai nascer!
Povos perdidos, longe do caminho,
É Deus, o próprio Deus, que vem salvar-nos

Do Profeta Isaías:

«Sêde fortes! Não temais! É a Justiça que chega!
«Então se abrirão os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos – festa sem fim!»

Do Salmo:

«O Senhor ilumina
O Senhor levanta
O Senhor ama»

Do Evangelho de Mateus [11:2ss]:

«Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres. E feliz de quem não encontrar em mim ocasião de escândalo», disse Jesus de Nazaré.


João Baptista ouvira falar das «obras» (v.2) de Jesus, o Nazareno.
Ele não faz menção das «palavras» de Jesus. As «obras», «vêem-se»; as «palavras», «ouvem-se», mas, sem dúvida, o Evangelho nos diz que aquilo que chama a atenção das pessoas é o que cada um faz, não o que cada um diz. Nos ambientes eclesiásticos, fala-se muito, prega-se muito e naquilo que se fala e se prega, dizem-se coisas sublimes. Mas, ao mesmo tempo, acontece que, com frequência, fazem-se coisas vergonhosas que, o melhor, é ocultá-las. Falar é fácil. Para Jesus, trata-se de viver de tal modo que o que fazemos dê que falar.

Que fazia Jesus?
Mas, sobretudo, que fazia Ele para que suas obras fossem a prova de que Ele era a solução e a salvação? O argumento chave que Jesus dá, a prova que ele aduz, não é de carácter sagrado, nem espiritual, nem sobrenatural, nem religioso. É algo humano, muito humano: aliviar as penas, dar vida, dar felicidade e boas notícias. Não nos cabe na cabeça que a solução seja discursos, argumentos, teorias e dogmas. Só a vida é digna de fé, como só o amor merece crédito. Coisas tão simples como ‘pôr boa cara’ em certos momentos, um sorriso acolhedor, um silêncio oportuno, um olhar meigo, saber escutar, ouvir sem pressas, reconhecer que se equivocou… essas são «obras» de salvação e esperança.

O mais chocante, neste Evangelho, é que Jesus termina a dizer aos mensageiros de João: «Feliz aquele que não se escandalize de Mim!»
Mas, como é possível que alguém se possa escandalizar por alguém «fazer feliz os que sofrem»? A questão é que ainda há teólogos e catequistas que continuam a dizer que o sofrimento é uma dádiva divina. Tal como ainda há confessores que nos ensinam que o sofrimento e a dor nos aproximam de Deus. Os que pensam assim estão persuadidos que a missão dos «representantes de Deus» não é «dar felicidade e vida», mas «exigir paciência e esperança na outra vida». É por isso que há gente que se escandaliza quando ouve dizer que Deus está presente na alegria de viver, na felicidade do carinho humano, no gozo de se sentirem bem.

Jesus avisa-nos que há que estar em guarda frente aos «escândalos» de esses insuportáveis «beatos».

[José Mª Castillo]
Graça & Justiça para todos!