Páscoa: como vamos responder?
Vem aí a Páscoa! Com ela, costuma vir também «a corrida à vigarice da absolvição» (P.e Jean Cardonel).
Todos sabemos que existe um Mandamento da Igreja para o cristão se confessar e comungar pela Páscoa. Eu também sei! Mas…
Não entendo Páscoa que não seja libertação humana. E os ajuntamentos de pessoas (sobretudo, mulheres), em longas «bichas», impacientemente à espera da sua vez para dizerem por trás dum «ripo» os seus «pecados» a um «padre» escondido… poderá dizer-se que seja sinal de que está a celebrar-se, ali, uma libertação?
Começa logo por uma opressão à Mulher que, tratada desta maneira, parece querer indicar que ela continua a ser olhada como «perigosa», havendo necessidade de todas aquelas cautelas…
Os «pecados»… também o não são tantas vezes. Para muitos, não passam de «coisas» que vêm fazendo desde a infância e de que nunca se arrependeram e, por isso, as fazem sempre!
Até no pecado somos alienados!...
E também o dizer, com mais ou menos nervos, aquela «lista» de «pecados», por trás dum «ripo», significará uma libertação? Não será antes um fingir que estamos arrependidos para depois se poder ir à «comunhão» e, assim, cumprirmos um fastidioso dever anual?...
Como pároco, estou, seriamente, preocupado com este acontecimento e, por isso, convido a Paróquia a reflectir comigo. É tempo de sermos honestos e leais connosco e uns com os outros. Confessar há-de ser libertar-se do pecado, para se ser capaz de viver em comum, em Fraternidade.
Comungar há-de ser comprometer-se com Cristo para, decididamente, lutar contra todas as consequências do pecado em nós e à nossa volta.
Um Homem que ainda não ama os outros é um oprimido. Se decide confessar-se, não basta que vá dizer que não ama os outros. É urgente, sobretudo, que se liberte e, então, confessar-se significará que ele se dispõe a amar os outros daí em diante.
Comungar não há-de ser somente «receber a Hóstia». Há-de querer significar que descobrimos não poder continuar a viver isolados, separados, para nós! E por isso somos dos que decidiram viver em comum união (comunhão) com todos, para, assim, transformarmos este mundo de selvagem em humano, de humano em divino, onde tudo esteja orientado para a Pessoa Humana.
Se for assim que aceitamos ver a Confissão e a comunhão, então, podemos dizer que vai haver Páscoa entre nós, isto é, vai haver gente que se libertará e por isso começará a Amar.
Gostaria que reflectíssemos todos e fôssemos conversando entre nós ainda sobre mais alguns pontos de interesse:
1. O modo como vem sendo celebrada a Confissão ajuda a que ela seja uma libertação? Não teremos de pensar noutro modo?
2. Que diríamos, se a fizéssemos, calmamente, em diferentes grupos – talvez por idades: crianças, jovens e casais – em dias também diferentes, após uma breve, mas séria preparação?
3. Aceitaríamos já uma Celebração comunitária da Penitência?
4. E como havemos de fazer a Eucaristia para que ela mostre que estamos decididos a viver, daí em diante, em comum união, isto é, em Fraternidade?
JESUS CRISTO quer-nos livres, isto é, quer-nos a viver em Amor Fraterno. Só quem ama é livre, porque já consegue dar-se aos outros. Por isso podemos dizer que ser livre é fazer-se irmão de cada um dos outros, custe o que custar, vivendo, solidàriamente, os problemas e angústias, as alegrias e as esperanças de todos.
Vamos querer, então, que a Páscoa entre nós celebre uma verdadeira libertação? Está apenas em nós responder afirmativa, ou negativamente.
COMO VAMOS RESPONDER?
[excertos de «ENCONTRO – alguns aspectos da religião tradicional discutidos pelo povo de Macieira da Lixa», edição de Mário Pais de Oliveira, presbítero da Igreja do Porto, edição Afrontamento, Porto, s/ data; respeitou-se em tudo a grafia do texto original]