«Dai-lhes vós mesmos de comer» [Mateus 14:13]
A IDENTIDADE HUMANA ARRANCA D”UM LADO-A-LADO ADOPTIVO” DE DÍVIDAS E FOMES
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Partilhar o que temos com os necessitados
Eram dois os problemas mais angustiantes na Galileia: a fome e as dívidas.
Era o que mais fazia sofrer Jesus.
Quando os seus discípulos lhe pediram para os ensinar a rezar; saíram do mais fundo do coração de Jesus duas petições: «Pai, dai-nos o pão necessário»; «Pai, perdoa-nos as nossas dívidas, pois também nós perdoamos aos nossos devedores».
Que podiam fazer contra a fome que os destruía e contra as dívidas que os levavam a perder as suas terras? Jesus via com clareza a vontade de Deus: partilhar o pouco que tinham e perdoar-se mutuamente as dívidas. Só assim nasceria um mundo novo.
As fontes cristãs conservaram a memória duma memorável refeição com Jesus. Foi num descampado e participou muita gente. É difícil reconstruir o que aconteceu. A memória que ficou foi esta: entre as pessoas só recolheram «cinco pães e dois peixes», mas partilharam o pouco que tinham e, com a bênção de Jesus, todos puderam comer.
No princípio do relato há um diálogo muito esclarecedor. Ao ver que as pessoas têm fome, os discípulos propõem a solução mais cómoda e menos comprometida: «Que vão às aldeias e comprem alimento»; que cada um resolva os seus problemas como possa. Jesus responde chamando-os à responsabilidade: «Dai-lhes vós mesmos de comer»; não deixeis os famintos abandonados à sua sorte.
Não podemos esquecer. Se vivemos de costas voltadas para os famintos do mundo, perdemos a nossa identidade cristã; não somos fiéis a Jesus; às nossas refeições eucarísticas falta-lhes a sua sensibilidade e o seu horizonte, falta-lhes misericórdia. Como se transforma uma religião, como a nossa, num movimento de seguidores de Jesus?
1. Primeiro, é não perder a sua perspectiva fundamental: deixar-nos afectar mais e mais pelo sofrimento dos que não sabem o que é viver com pão e com dignidade.
2. Segundo, comprometermo-nos em pequenas iniciativas, concretas, modestas, parciais, que nos ensinam a partilhar e nos identificam mais com o estilo de Jesus.
J A PAGOLA