teologia para leigos

10 de janeiro de 2011

MAR MANSO [POESIA]

Mar manso, ó quanto invejo tuas veias…
[trocos de um Diário líquido]



enquanto esperares por mim,
espero,
e valerá a pena





Mergulhei em todas as filosofias.
Cansado, só um grande amor me satisfaz agora.
Caminho na narrativa da Tua mão, apaixonado no Teu segredo.
Em Ti procuro um oculto que brilhe e não prenda.
Só Tu desapareces a cada entrega.
A um grande amor assim me devo confiar.
Cansei-me de ter ideias.




Como estas pedras mitologicamente postas sobre a linha das águas − assim se dispõe minha esperança,
a fabricação hierática da dignidade na perene declinação do humilde som dum ouvido.

Ao longe a língua de areia, a lisura, nenhuma arrebentação…



Olho a linha do horizonte, o ponto nevrálgico
onde o mar se ergue e tomba.
Aí começa a tua inquebrável abertura à liberdade e à culpa.
Nenhum vinco tem em ti contornos de senda
ou rasga impune a vaga.
As ferramentas com que te constróis
são apenas urgências levantadas num olhar.
Atrás de mim, só o Mensageiro dorme
na aparência dum equilíbrio que age por dentro.
O Mensageiro é a água em terra retirada,
um atrevimento sadio,
um sinal de paz algures.

Olho a linha do horizonte. Finco o dorso
a uma pedra.
Como és belo, ó mistério…
Urge morrer em ti, ó mistério.

[poema à escultura de Irene Vilar, ‘O Mensageiro’, na foz do rio Douro, olhando a barra do mar]



mar manso, ó quanto invejo tuas veias…


 pb\