Mar manso, ó quanto invejo tuas veias…
[trocos de um Diário líquido]
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enquanto esperares por mim,
espero,
e valerá a pena
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Mergulhei em todas as filosofias.
Cansado, só um grande amor me satisfaz agora.
Caminho na narrativa da Tua mão, apaixonado no Teu segredo.
Em Ti procuro um oculto que brilhe e não prenda.
Só Tu desapareces a cada entrega.
A um grande amor assim me devo confiar.
Cansei-me de ter ideias.
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Como estas pedras mitologicamente postas sobre a linha das águas − assim se dispõe minha esperança,
a fabricação hierática da dignidade na perene declinação do humilde som dum ouvido.
Ao longe a língua de areia, a lisura, nenhuma arrebentação…
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Olho a linha do horizonte, o ponto nevrálgico
onde o mar se ergue e tomba.
Aí começa a tua inquebrável abertura à liberdade e à culpa.
Nenhum vinco tem em ti contornos de senda
ou rasga impune a vaga.
As ferramentas com que te constróis
são apenas urgências levantadas num olhar.
Atrás de mim, só o Mensageiro dorme
na aparência dum equilíbrio que age por dentro.
O Mensageiro é a água em terra retirada,
um atrevimento sadio,
um sinal de paz algures.
Olho a linha do horizonte. Finco o dorso
a uma pedra.
Como és belo, ó mistério…
Urge morrer em ti, ó mistério.
[poema à escultura de Irene Vilar, ‘O Mensageiro’, na foz do rio Douro, olhando a barra do mar]
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mar manso, ó quanto invejo tuas veias…
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