«Dai-lhes vós mesmos de comer» [Mateus 14:13]
Jesus não multiplicou (não à propaganda-espectáculo)
Jesus deu (democracia) & mandou distribuir (compromisso social/político)
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Criar Fraternidade
Um provérbio oriental diz que «quando o dedo do profeta aponta a lua, o estúpido fica a olhar o dedo». Algo de semelhante se podia dizer de nós, quando nos fixamos exclusivamente no carácter portentoso dos milagres de Jesus, sem chegar até à mensagem que encerram.
Porque Jesus não foi um milagreiro dedicado a realizar prodígios propagandísticos. Os seus milagres são, antes, sinais que abrem uma brecha neste mundo de pecado e apontam para uma nova realidade, meta final do ser humano.
Concretamente, o «milagre da multiplicação» dos pães convida-nos a descobrir que o projecto de Jesus é alimentar os homens e reuni-los numa fraternidade real em que saibam partilhar o seu «pão» e o seu «peixe» como irmãos.
Para o cristão, a fraternidade não é uma exigência ao lado de outras. É a única maneira de construir, entre os homens, o reino do Pai. Esta fraternidade pode ser mal entendida. Com demasiada frequência a confundimos com um «egoísmo vivaz que sabe comportar-se decentemente.» (Karl Rhaner)
Pensamos que amamos o próximo simplesmente porque não lhe fazemos mal, apesar de vivermos num horizonte mesquinho e egoísta, despreocupados de todos, movidos unicamente pelos nossos próprios interesses.
A Igreja, enquanto «sacramento de fraternidade», está chamada a animar, em cada momento da história, novas formas de estreita fraternidade entre os homens. Nós, os crentes, devemos aprender a viver um estilo mais fraterno, escutando as novas necessidades do homem actual.
A luta a favor do desarmamento, a protecção do meio ambiente, a solidariedade com os povos que passam fome, o partilhar com os desempregados as consequências da crise económica, a ajuda aos toxicodependentes, a preocupação pelos idosos sós e abandonados… são outras tantas exigências para quem se sente irmão e quer «multiplicar» para todos o pão de que necessitamos para viver.
O relato evangélico recorda-nos que não podemos comer tranquilo o nosso pão e o nosso peixe enquanto, junto a nós, há homens e mulheres ameaçados por muitas «fomes». Nós que vivemos tranquilos e satisfeitos devemos ouvir as palavras de Jesus: «Dai-lhes vós mesmos de comer».
J A PAGOLA