teologia para leigos

4 de novembro de 2011

DEUS OU JESUS? «JESUS É SENHOR!»


«Jesus and his friend»_TAIZÉ


Deus ou Jesus?
«Jesus é Senhor»!


Deus não está no centro da pregação de Jesus de Nazaré, mas…
Jesus está no centro da minha Fé na Vida Humana Sem Fim, no centro da Ressurreição no Pai!

Jesus não se preocupou em «pregar Deus», em anunciar Deus, mas em manifestar a Sua preocupação pelo poder do anti-deus no mundo (Satanás= o “pecado programado”). Muitas vezes, Jesus denunciou a estreita ligação entre o “pecado programado” pelo homem e a justificação disso “em nome de Deus”. Ou seja, Deus foi denunciado, por Jesus, por estar a ser usado como “verdade” ao serviço do “poder” religioso-&-político (poder teocrático); ou seja, denunciou Deus ao serviço do “fundamentalismo”. Um simples exemplo: nunca o Vaticano advertiu (ou excomungou) um cristão (ou um teólogo) neo-liberal, mas fê-lo mais de uma vez para com cristãos e teólogos simpatizantes do marxismo… Isto também é pôr Deus ao serviço do fundamentalismo.

[a ‘unção de Betânia’ – Mt 26:6 - denuncia uma forma de fundamentalismo entre os discípulos… fenómeno que também pode ocorrer entre alguns cristãos ditos «de esquerda»]

1.Jesus não colocou no centro da sua actividade profética «a questão-Deus». Jesus não veio para «anunciar Deus». Jesus, antes de tudo, nunca se preocupou em saber se os seus seguidores ou os que O escutavam com atenção acreditavam que Deus existia. Jesus só se preocupou em saber se eles percebiam “de que jeito era o Deus que o inspirava” a Ele. Hoje, os políticos neo-liberais, defensores desse “pecado programado”, em seu ‘fundamentalismo económico’ sublinham que ele é, nas suas agruras, «inevitável». E acrescentam: «austeridade, sim, excepto para as camadas sociais mais pobres» - os neo-liberais [de David Cameron a Assunção Cristas, Isabel Jonet e Pedro Mota Soares] sempre se preocuparam com os pobres… Os «neo-liberais» não se escandalizam por haver pobres – eles precisam dos pobres para haver uma razoabilidade mínima para a austeridade selvagem. «Os pobres» são essenciais para que os neo-liberais subsistam como políticos «não cegos» e sem sensibilidade. Se não existissem «pobres» também não haveria «copo e prato», que são os símbolos encobridores, os bodes expiatórios diferidos e os referentes exteriores para a sua voracidade, rapina e iniquidade internas [Mt 23:23-25]. Se não existissem pobres deixaria de haver «religião» e neo-liberalismo… Para Jesus, pior do que ‘não se acreditar em Deus’ era, tal como no Antigo Testamento, acreditar em falsos deuses, ídolos. E porquê? Porque, - e Jesus sabia-o muito bem -  os ídolos (por serem cegos, surdos e mudos) são deuses compatíveis com jurar falso, mentir, assassinar – são compatíveis e necessários para “capturar Deus” [Os 4:1-2; Mt 23:22] e fazer com que Ele nos justifique a perfídia. A utilidade social da religião prende-se com a necessidade de justificar a rapina de bens e a propriedade privada dos bens só para alguns. Sem religião – com Deus à solta - seria a revolução de Deus! (foi o que começou a acontecer quando Jesus surgiu…) Dirão os neo-liberais: seria a desordem, o fim do mundo, a selva… O Poder cairia na rua! Seria a morte de Deus! Senão, vejamos.

Jesus e o sábado (Mt 12,1-8; Lc 6,1-5) - «Ora num dia de sábado, indo Jesus através das searas, os discípulos puseram-se a colher espigas pelo caminho. Os fariseus diziam-lhe: «Repara! Porque fazem eles ao sábado o que não é permitido?» Ele disse: «Nunca lestes o que fez David, quando teve necessidade e sentiu fome, ele e os que estavam com ele? Como entrou na casa de Deus, ao tempo do Sumo Sacerdote Abiatar, e comeu os pães da oferenda, que apenas aos sacerdotes era permitido comer, e também os deu aos que estavam com ele?» E disse-lhes: «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. O Filho do Homem até do sábado é Senhor.» [Mc 2:23-28]

Para os fundamentalistas, com Deus à solta, é um forró… Não pode ser! Tem que haver regras! O culto e Deus não podem estar reféns das questões humanas e sociais! Há que delimitar bem os territórios – importa saber até onde vai o humano e onde começa o divino. Hoje deveríamos insinuar: não fica bem que os ‘padres’ venham para rua juntar-se aos manifestantes e indignadosque, ainda por cima, estragam o negócio religioso (da Catedral de S. Paulo, em Londres, p. ex.).

2.Ao mesmo tempo, tem que se dizer que Deus não enviou Jesus ao mundo, nem muito menos para falar d’Ele, dum “Deus, Todo-Poderoso”. Deus não enviou, sequer, Jesus ao mundo… Jesus não é o «enviado de Deus». Esta, «o enviado de Deus», é uma categoria filosófica (gnóstica) que esquece o essencial do evangelho de Jesus: Jesus pregou as Bem-aventuranças! [Mt 5; Lc 6:20]

Se Deus, que é omnisciente e imutável, envia Jesus como Seu mensageiro, será intolerável e inaceitável que o envie sabendo (porque Deus sabe antecipadamente tudo) que o envia para um matadouro – omnisciente que é… Ora, eu recuso uma linguagem sobre Deus que assente sobre uma teologia sacrificial e penal – Deus não pode ser indiferente ao destino e ao sofrimento humano de Jesus homem. Portanto, Jesus não é o enviado de Deus, porque a sê-lo seria um enviado pré formatado, contendo, trazendo consigo tudo o que Deus tem e é, o que implicaria que seria a humanidade a ter que encaixar no molde de Deus, na fôrma de Jesus, e não Jesus a rebaixar-se à condição humana e a encarnar para se colocar diante de Deus e correr o risco de ser ou não ser ressuscitado pelo Pai, já que nada de certo lhe fora dado de antemão. Se Jesus fosse o enviado de Deus, o que quer que acontecesse de novo depois desse envio teria apenas que ver com a humanidade e nada com «Jesus-Deus Enviado» – facto que a história do Jesus personagem histórico nega.

Jesus não foi, sequer, enviado a pregar as Bem-aventuranças em nome de Deus – Jesus, aos poucos, foi percebendo que o devia fazer por uma questão de coerência espiritual para com aquilo a que tinha chegado: «toda a justiça da Lei e o ensinamento dos Profetas» [Mt 5:10-12] estão aí contidos. Todas as expectativas messiânicas estão aí pragmatizadas! As Bem-aventuranças resumem a Sabedoria de Deus, aquilo a que Jesus chamou a «justiça do Reino de Deus» [Mt 6:33]. Nem o sábio rei Salomão chegara tão longe… [Mt 12:42; Lc 11:31]

Senão, vejamos: «O Senhor Jesus disse-lhe: “Vós, os fariseus, limpais o exterior(=culto a Deus) do copo e do prato, mas o vosso interior(=compaixão pela humanidade) está cheio de rapina e de maldade. Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? Antes, dai esmola(=compaixão pelo homem) do que possuís, e para vós tudo ficará limpo. Mas ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo(=culto a Deus) da hortelã, da arruda e de todas as plantas e descurais a justiça(=compaixão pelo homem) e o amor de Deus(=culto a Deus na compaixão pela humanidade)!”» [Lc 11:39-42]

Deus «baixou à terra», Deus «desceu à terra», Deus «visitou o seu povo», «o verbo fez-se carne e veio habitar entre nós», «enviou o seu próprio Filho», são expressões que sempre nos ficaram no ouvido da catequese e da liturgia. Foram todas subalternizadas por Jesus: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome (em nome de Jesus) eu estarei no meio e vós». [Mt 18:20] Reunidos, é certo, «no oculto», quer dizer, sustidos no Mistério, mas em nome de Jesus: para Jesus, Deus é reunião de humanos! E «o teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.» [Mt 6:18] – porque, ontologica, cultual e religiosamente, Deus é, essencialmente, ocultação, inacessibilidade, totalidade não-finita, imutabilidade!

Todas as religiões no-lo ensinam. Como disse A. Peteiro Freire, «não podemos pretender que uma religião tenha totalmente a verdade, nem encerrar Deus numa determinada religião. Temos de ‘deixar Deus ser Deus’». O Cardeal Carlo M. Martini também disse: «Não podemos fazer Deus católico». (citados por A. Borges, em ‘Religião e Diálogo Inter-religioso’, 2010) É por isso que é discutível «pedir» coisas a Deus, quando oramos. Jesus tem fundada razão ao afirmar:  «o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de vós lho pedirdes.» [Mt 6:8]. Do ponto de vista ontológico e filosófico, Deus está a anos luz do Homem. O que leva S. Paulo a dizer sabiamente: basta-nos n’Ele «sermos e nos movermos»  [S.Paulo, Act 17:28 – discurso no areópago de Atenas], sem vã glória ou palavreado, na mudez do silêncio que nos junta, na luz do cântico que nos congregue, na metáfora do poema que transmuta a súplica. Só as palavras poderão estar a mais. «Na gaguez quase muda, de Deus só se pode balbuciar algo por cifras, imagens, metáforas, símbolos, afirmando e depois negando.» [Anselmo Borges] Até porque faz algum sentido a pergunta: «pode ou não atribuir-se a Deus carácter pessoal? Não há, de facto, o perigo de, assim, finitizar Deus?» [Anselmo Borges] Falar em «falar com Deus» é quase querer fazer do Mistério Absoluto um Tu acessível a um Eu, ou seja, um outro Eu como eu… o que é, em si, uma enorme pretensão assente na contradição das contradições.

A Deus nunca ninguém o viu com os olhos do espaço e do tempo, nunca ninguém o definiu de modo empírico, nunca ninguém o demonstrou (pela negativa ou pela positivia). Deus nunca «apareceu» a ninguém. «Nunca houve aparições de Deus ou de Nossa Senhora ou do Menino Jesus. Houve, sim, visões! Aparições, não [Andrés Torres Queiruga] «A Deus nunca ninguém o viu; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós. (…) Quem confessar que Jesus Cristo é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele [em Jesus]. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.» [1 Jo 4:12ss]

3.Deus não deve ser a preocupação número um da nossa vida. Jesus é a nossa única ocupação! Porque, se partimos somente de Deus (dispensando o espírito de Jesus de Nazaré), ficamos sós e ainda mais sós, pois Deus é inacessível. Mas se partimos de Jesus de Nazaré, ficamos pelo menos juntos, reunidos, acompanhados, e não mais sós … [Mt 28:20 - «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos»]. Pelo menos, ficamos à espera, acrescentando sempre mais azeite à almotolia «até que o Senhor venha»! [Mt 25:13] Jesus é a única ocupação dos cristãos – seguindo-O, esperando-O. Não Deus.

Em resumo: reunidos em nome de Jesus de Nazaré! – eis a condição dos ‘seguidores de Jesus’ .

Acreditar que ‘Deus existe e que é o sentido último da minha vida’ obriga a responder à pergunta: ‘mas em que Deus é que acreditas?’, porque deuses há muitos… Os cristãos não são os que ‘acreditam que Deus existe’, os que acreditam que Deus ‘habita no nosso coração’, que ‘Deus é transcendência’, que é ‘Ser Supremo, Princípio e Fim’, etc. Os cristãos não são os que acreditam, mas são os que ‘seguem Jesus’ e que, n’Ele, no seu exemplo, no seu modo de viver, nos seus gestos e suas opções, no seu estilo e programa de vida, na sua completude e coerência enquanto um homem judeu diferente «vislumbram Deus». Em Jesus intui-se um «Deus radical e bom», um Deus ‘Abba, ho Pater[nas primeiras cópias do Novo Testamento, a invocação é bilingue: em aramaico e em grego; J. D. Crossan sugere que deve traduzir-se, não apenas como ‘paizinho’ – o que é infantilizador e simplista -, mas ‘Abba, O Pai’, modo de conciliar intimidade com densidade teológica]

«Jesus é Senhor» [1 Cor 12:3] é a primeira formulação de Fé, é o primeiro Credo tentado pelas primeiras comunidades. Para mim, ainda não houve melhor formulação desde esse tempo. Só lucraríamos em regressar a ele.

É grande a tentação de separar Jesus de Deus e Deus de Jesus e de fazer, de Jesus, um deus caído dos céus!

Na verdade, Deus não tropeça nas nuvens… para só parar cá em baixo. Assim, nós também, quando morrermos, não viajaremos lá para cima, para os braços de Deus! Não é no momento da nossa morte que, então, ressuscitamos - ao longo da nossa vida 'vamos ressuscitando' ou não... Há, depois, a 'ressurreição dos tempos finais', «quando Deus for tudo em todos». Como vemos, a nossa mente está conspurcada de categorias de outras épocas e teologias, que só atrapalham. S. Paulo ainda ‘ajudou mais à festa’ (Rom 8): «É por Ele que clamamos: ‘Abbá, ô Pai’!» e «não sabemos o que havemos de pedir para rezarmos como deve ser». De facto, S. Paulo só complicou! O acesso a Deus, hoje, a partir do S. Paulo de ontem tornou-se demasiado palavroso, labiríntico. Condenação, libertação, Lei, carne, Espírito, corpo morto, pecado, justiça, devedores, medo, filhos adoptivos, etc. são expressões de uma tentativa (apesar de tudo, fantástica) de in-culturação da Fé no mundo helénico, mas, hoje, a necessitar de reformulação conceptual.

É por tudo isto que anda muita gente aflita, porque não sabe «como rezar a Deus», «como receber as graças de Deus», «onde encontrar Deus», «como tornar Deus o centro da vida numa sociedade secularizada», porque ouviram dizer que precisam de procurar e achar «o Belo, o Bem e a Verdade» como "o santo & a senha" para chegarem até Deus, porque desesperam por não saberem «como anunciar Deus e a Verdade» e em que é que isso consiste. Eis a questão insistente do actual papado, eis a questão-central da ‘Nova Evangelização’ (que ainda ninguém percebeu o que quer dizer…), a qual também é a proposta dominante da Igreja Oficial para a espiritualidade a desenvolver em Portugal.


[Nota: veja a postura do teólogo da Teologia da Libertação]
«A difícil busca de auto-realização», por L. Boff


[que é feito do conceito REINO DE DEUS, Leonardo?]


E a resposta é tão simples: a partir da vida de Jesus, daquilo a que chamamos ‘o evangelho de Jesus’, podemos iniciar ‘o caminho’ do seguimento, o princípio dum ‘dinamismo novo’.

Se procurarmos a resposta, por exemplo, na ‘apresentação e saudação’ da Carta aos Romanos (S. Paulo) rapidamente ficamos empanturrados e enfastiados… Experimentem.

Mas se a procurarmos nos Evangelhos facilmente percebemos que, tal «como os outros Evangelhos, o de Mateus refere a vida e os ensinamentos de Jesus, mas de um modo próprio, explicitando a cristologia primitiva: em Jesus de Nazaré cumprem-se as profecias; (…) Ele é o Mestre por excelência que ensina com autoridade e interpreta o que a Lei e os Profetas afirmam acerca do Reino do Céu (= Reino de Deus). (…)

«Assim, no coração deste Evangelho o discípulo descobre Cristo ressuscitado, identificado com Jesus de Nazaré, o Filho de David e o Messias esperado, vivo e presente na comunidade eclesial [Bíblia da Difusora Bíblica, «Introdução ao Evangelho de Mateus»]

Os evangelhos, sobretudo os sinópticos, são a porta de acolhimento para uma vida com sentido humano concreto (=«obras de fé»).

Tiago (2:14ss), tal como Paulo, afirma-o sem peias: «De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: «Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome», mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta.»

E isto, mais uma vez, remete-nos para o evangelho de Jesus, o «qual andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com Ele. [Act 10:38] Os evangelhos são o umbral por excelência para uma vida activa com dimensão humanizante, onde Deus se esconde e se revela – onde Deus-Pai fala e se deixa ‘tocar’! [se deixa vislumbrar no seu Mistério de absolutez que Tomé, por fim, 'tocou'/entendeu - Jo 20:27]

A questão não é, pois, a Fé em Deus no mundo actual, mas o seguimento de Jesus hoje. É muito importante recordar o desafio (provocador?) do Apóstolo Tiago a respeito da «questão-Deus»: «Tu crês que há um só Deus? Fazes bem. Também o crêem os demónios, mas enchem-se de terror…» [Tg 2:19]

A questão não é «a questão-Deus», mas a «questão Jesus». A primeira é uma categoria ontológica, a segunda, antropo-teológica. Deus não é uma questão. Deus é questão, frequentemente, por razões débeis. Steve Jobs, fundador da Apple aceitou colocar «a questão de Deus» e da vida para além da morte quando já estava à beira da morte…

Esta questão de Steve Jobs não deixa de ser importante, mas muito mais importante que «a questão Deus» para quem está às portas morte é a questão «proximidade-de-irmão» - esse alguém com quem o frágil já compartilha confiança, esse é que é o Deus em que eu creio, o Bom Samaritano, aquele que me decifra a Lei que está escrita no coração de Deus. «Mestre, que hei-de fazer para possuir a vida eterna?» Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?» [Lc 10:25-26] E quando caímos na atitude da defensiva que consiste em tornar Deus uma «questão» (quando fazemos casuística: «E quem é o meu próximo?», blá-bláblá-blá…), Jesus conta a «Parábola das Fronteiras dissolutas do Amor» («Parábola do Bem Cuidar», a Parábola do Bom Samaritano) insistente tentativa de acentuar que o importante não é discorrer, argumentar, debater ou convencer, mas testemunhar realizando («faz isso e viverás», v. 28).

Há uma certa Igreja que aponta para aí - para essas situações existenciais terminais - todas as suas baterias. Não penso que devam ser desvalorizadas, mas, igualmente e por razões fortes , deve ser privilegiada a questão do «Jesus vivo na Comunidade reunida em Seu nome» – é que é a partir desta comunidade que, então, faz sentido emergir a mão conhecida para o apoio ao doente terminal, e não apenas uma espécie de «funcionário do sagrado» totalmente desconhecido daquele que está só e entregue à angústia do seu próprio fim. Pior: «funcionário» que, às vezes, nem a absolvição e a extrema-unção pode administrar… [como acontece com os diáconos]. A pergunta: «E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?» [Mt 25:39] traz à luz da ‘vida em Deus’ a particularidade da não-institucionalização, da não formalização, da não ordenação da missão, da não intencionalidade, da liquidez insubstancial e não possessiva da salvação, características 'não obsessivas' que, por isso, só podem ser divinas, anti-eclesiásticas, dons que salvam.

Deus não pode ser «a questão obsessiva» em que se está a tornar para muitos cristãos portugueses.
O Credo não é a oração do cristão.

No entanto, - e porque ainda o fazemos no Credo - em que consiste afirmar «creio em Deus»? Josep Vives dá a sua resposta (ver abaixo).


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