teologia para leigos

16 de outubro de 2011

O «CIDADÃO DECENTE» É O QUE ROMPE


15_Out_99%_povo coragem…

«e a coragem venceu o medo…»



15_Out_99% - Praça da Batalha, Porto, 2011



ESTA JÁ É UMA VELHA HISTÓRIA…

1.«A situação entre a CDU/CSU e Os Verdes nos anos 90 era tão estúpida como a de Cafarnaum no tempo de Jesus.

«No dia 28 de Agosto de 1994, portanto, seis semanas antes das eleições para o Parlamento Federal de 1994, apresentei o livro de Joschka Fischer intitulado Risiko Deutschland, na representação do Estado de Hessen em Bona. Tinham sido a editora e ele próprio a pedir-me para eu fazer esta apresentação. Mas Fischer teve de fazer uma pequena vénia às cabeças de betão do seu próprio partido, exclamando perante as pessoas reunidas na sala: Isto não é uma reunião entre a CDU/CSU e Os Verdes. Houve muitas reacções críticas na direcção do grupo parlamentar de CDU/CSU. Dizia-se que não era suposto um dos políticos mais conhecidos da União apresentar livros de um adversário político. (…) O administrador do conselho Main-Taunus, Jochen Riebel, que viria a ser ministro de Estado no Governo do estado de Hessen, escreveu-me uma carta que acabava com a seguinte frase: Permita-me que lhe diga que alemães decentes não se portam assim.» (…)

«No final dos anos 90, a relação entre a CDU/CSU [União Democrata-Cristã/União Social-Cristã] e Os Verdes no Parlamento Federal alemão era parecida com a relação que existia entre judeus e cobradores de impostos no tempo de Jesus. Não havia diálogo entre os dois grupos parlamentares, quando muito, apenas alguns encontros secretos. (…) O que é típico para um comportamento farisaico é o afastamento entre a pretensão e a realidade

Vem isto a propósito das palavras de Abertura do padre Anselmo Borges, no Colóquio ‘IGREJA EM DIÁLOGO’, em Valadares, 8-9 Out 2011, sob o tema «Quem foi(é) Jesus Cristo?».

2.Não há dúvida que as necessidades materiais (incluindo seus derivados, a dignidade no trabalho, a propriedade justa e universal e o dinheiro particular) estão na raiz da política, levam à rotura de relações pessoais e ocupam igualmente o centro da polémica trazida por Jesus de Nazaré ao seu tempo.

Hoje, Outubro de 2011, em que «vemos claramente visto» [Luís de Camões] em que consiste o Inferno Economico-Político do Sistema Neo-Liberal em que estamos obrigados a sobreviver, convém (sobretudo os cristãos) voltar a ler aquelas palavras de Abertura do padre Anselmo Borges, no Colóquio de Valadares, em contexto de 15_Out_99%.




A Palavra saiu à rua...

     «Para os crentes, se Jesus não fosse o Cristo, não passava de mais um combatente bom pela Humanidade e um revolucionário crucificado. Há, porém, um outro perigo, mais subtil: o de se ficar apenas com o Cristo Senhor glorificado, esquecendo o Jesus histórico de Nazaré, e o que ele queria, e o que ele fez, numa mensagem e comportamento que o levaram à cruz.»

«Pergunta-se: e entre o nascimento e a morte na cruz, o que se passou? Não aconteceu nada? Ele não fez nada? Este é que pode ser e tem sido o grande esquecimento.

«Pensou-se então que bastava prestar-lhe culto -missas, procissões, adorações ao Santíssimo... -, sem a exigência de segui-lo no seu Evangelho do Reino de Deus, no que ele quis e fez com os pecadores, as mulheres, os estrangeiros, na relação com o dinheiro, com a política, os pobres,(…)»

«Quem lê o Evangelho e não vê que Jesus morreu contra os seus actuais representantes não sabe ler."





«Lactâncio descreve, assim, como no tempo de Jesus, eram feitas as Declarações dos bens sujeitos a impostos. "Os funcionários romanos das finanças apareciam por todo o lado e punham tudo em alvoroço… Ouvia-se por todo o lado os gritos daqueles que eram interrogados sob tortura e a cacetadas… Quando a dor vencia, as pessoas declaravam bens tributáveis que nem sequer existiam."» [Pinchas Lapide, ‘Ist die Bibel richtig übersetzt?’, Vol II, 56]

«Os cobradores de impostos eram as pessoas mais odiadas…».

«Um dia, quando Jesus chegou ao posto de cobrança, encontrou um cobrador chamado Levi. Jesus desafiou-o a segui-lo, o que ele fez. Antes de se desfazer de tudo e de se juntar a Jesus, ofereceu-lhe um grande banquete em sua casa [Lc 5:27-32]. Vieram os cobradores de impostos de toda a cidade e arredores, para se despedirem de Levi.» [esta narrativa arrepia...]


-«Alguém viu Jesus por aí...»



3.Esta história, portanto, já é muito velha. Velha e cheia de desafios («que ando eu a fazer? onde estou? com quê/quem ando comprometido? para que margem remo? qual o turvo das minhas águas? que sonhos habitam dentro de mim?»)!

Um cidadão «decente» é aquele que coloca a questão da «justa repartição da riqueza» acima das regras da boa-educação - isso exige muita coragem.

Hoje, a coragem volta a fazer muita falta… sobretudo para darmos o salto para «a outra margem»!

«Um mundo outro é possível!» [JIG Faus]

Aos Domingos, já não é mais possível continuarmos a «ler» o Evangelho sem a respectiva actualização prática a partir de exemplos concretos, sob pena do Medo continuar a reinar...

O 15_Out_99% não pode ficar retido do lado de fora da porta das Igrejas!


PS: As citações são de: ‘O QUE DIRIA JESUS HOJE’, por Heiner Geissler [1930-], que foi Juiz e ‘Ministro Federal da Juventude, da Família e da Saúde’ alemão. Casa das Letras, Abril 2005, ISBN 972-46-1596-0. Tradução, a partir  do alemão, do casal Teresa e Marian Toldy.