«Porque não morri no seio da minha mãe?
Por que razão foi dada luz ao infeliz,
e vida àqueles para quem só há amargura?»
[Job 3:11.20]
Seja lá onde for
–
− no Alabama com
os escravos negros das plantações de algodão, no garimpo do Cuanbo e de
Xá-Muteba [Lunda-Norte, Angola], no distrito diamantífero de Kono ou na
Mendelândia [Serra Leoa], nos bairros camarários ou nas zonas históricas da cidade
do Porto [Sé, S. Nicolau, Miragaia, Massarelos, etc.] –
− pobre é para encurralar!
Pobre é um
estorvo! Tira-se daqui e põe-se acolá: pobre varre-se da sala para o meio do
caminho. Pouco importa. Ao poder, deu-lhe agora para os perseguir, para odiar
os pobres. Com esta selvajaria neoliberal que nos governa, «declara-se aberta a
época da caça… aos pobres»! Desempregado?
Culpa sua…
Porque não morri eu ao nascer?
«Porque encontrei joelhos que me acolheram
e seios que me amamentaram?
dormiria e teria repouso
que constroem mausoléus para si;
e enchem de dinheiro as suas casas.
eu não teria existido,
como um feto que não viu a luz do dia.
Ali, estão tranquilos os
cativos,
que já
não ouvem a voz do guarda.
e o escravo fica livre do seu senhor.»
[Job 3:12-19]
KIBERA? PORQUE SIM…
LAGARTEIRO ACENDEU À NOITE
A LUZ QUE A EDP CORTOU DE DIA
[gentileza AG] |
Mais
de oito horas depois de os técnicos da EDP terem cortado a luz em 13 Blocos do
[bairro do] Lagarteiro, no Porto, o
bairro voltou a iluminar-se ontem à noite. Muitos moradores recusaram-se a
ficar às escuras e, em pequenos grupos, foram restabelecendo clandestinamente
as ligações que a companhia cortara de manhã por falta de pagamento. Ou de
ligação clandestina.
«Há
muitas pessoas que têm dificuldades, comida guardada, filhos deficientes e
precisam da electricidade para viver. Andamos a ligar, claro. Conforme
conseguimos.», contava Paulo, um morador, ao início da noite. O restabelecimento
de energia, no avesso da legalidade, foi sendo feito ora com cabos que os
técnicos deixaram, ora com o recurso a extensões eléctricas que possibilitaram
a partilha de energia entre vizinhos. «Há aqui quem
deva dois mil e até cinco mil euros de luz. Estes cortes são habituais. Já
ontem estiveram no Bairro do Cerco», acrescentava Paulo.
Alheios
a tudo isto, as crianças do bairro celebravam a Noite das Bruxas, devidamente
mascaradas.
Os
técnicos da EDP chegaram pelas 10h acompanhados por um forte dispositivo da
PSP, o que revoltou os moradores. «Não somos
marginais, nem delinquentes. Três carrinhas e dois carros-patrulha
da PSP para nós? Estavam aqui mais de 40 polícias. Isto foi pior do que uma
rusga», lamentou a presidente da Associação
de Moradores do Lagarteiro, Fernanda Gomes.
Os
técnicos visavam 13 blocos [habitacionais],
mas não foi possível apurar quantas pessoas foram afectadas pelo corte. Nos
últimos anos «tem-se verificado uma tendência de
crescimento das fraudes», pelo que a EDP «tem vindo a reforçar as
acções de combate à fraude e a mobilizar mais meios», comunicou ontem a empresa
à Lusa.
Conceição
Lencastre, e o marido Albano Lencastre, lamentava ao início da noite não terem
energia para carregar a bateria da cadeira-de-rodas eléctrica do filho de 23
anos, deficiente motor. «Vou ter de pedir aos vizinhos para me deixarem
carregar a bateria da cadeira ou que me mandem uma extensão», dizia Conceição,
beneficiária do Rendimento Social. «Já não recebemos uma conta de luz há cinco anos.
Não sei quanto devemos. Ou pagamos a luz, ou comemos. Fomos uma
vez à EDP para pagarmos em prestações, mas a primeira tinha de ser de 500
euros. Não temos.»
Já
Teresa Monteiro, de 54 anos, admitia que esta madrugada seria passada “à luz
das velas”. «Tenho oito pessoas em casa. Com 254
euros por mês como é que pago a luz?,» questionava sentada à porta do
bloco 7, à luz dos candeeiros públicos. «Fui operada há pouco tempo. Não
consigo andar e agora nem luz tenho», lamentava-se, admitindo ter uma «dívida
muito grande de luz, água e renda».
Ao
lado, Maria Arminda voltava das compras preocupada com a mãe de 85 anos que
estava em casa «à luz da vela». «Está sem luz, sem frigorífico e não pode
cozinhar. Como
se faz vida assim? Sei que temos dívidas, mas não temos
como pagar».
“Público”
01:XI:2013,
p. 17
EDP chama a polícia e
corta a luz a dezenas
(…)
Pode a Junta de Freguesia fazer alguma coisa por elas? “Temos orçamentos já
esgotados. Mas, dos 4 mil euros/mês que temos para
acção social, a maioria da verba vai para medicamentos e comida e quase nada
sobra para ajudar nas contas da luz ou da água”. (…)
As
razões do corte e o modo como foi feito, com a escolta de três carros da
polícia de intervenção, indignaram muita gente: “Tive seis polícias à porta
para me cortarem a luz!”, diz Fátima Miranda, 56 anos, moradora no bairro há
32. “Seis
polícias é um desperdício! Não somos nós os
bandidos, nós só somos os pobres”.
Teresa
Monteiro, 51 anos, moradora há 41, (…) confessa-se indignada, diz estar em
curso "uma
caça aos pobres".
“Jornal de Notícias”
01:XI:2013,
p.18
Transferimos dos pobres para os Bancos
[CLICAR PARA AMPLIAR, fonte Eugénio Rosa] |
«RENDAS» BLINDADAS – PPP’s
VÍDEO – PPP’s
“ASSASSINOS, ASSASSINOS…”
O COMPADRIO BEM
PORTUGUÊS…
Eis
alguns nomes:
o Coelho, o António, o Pereira, o Pina, o Valente, o Miguel, o Bagão, o Daniel,
o Couto, etc. etc. tc.
Se estes, que
sempre estiveram bem na vida, sabem como «fazer um gancho» comme il faut,
porque é que os do
Lagarteiro o não hão-de saber?