A LIÇÃO DA EUCARISTIA
Jo
6:58
«Aquele
que comer deste pão viverá para sempre»
Sobre a Eucaristia,
é muito difícil não cair na tentação de dizer o politicamente correcto evitando
uma verdadeira análise daquele que é o sacramento mais importante da nossa fé.
São tantos os aspectos a analisar, e tantos os desvios a corrigir, que só o facto
de os encarar me assusta.
Após uma vida
inteira a mergulhar na mensagem de Jesus, posso assegurar-vos – sem a mínima
dúvida – que tergiversamos a tal ponto o evangelho que o conseguimos converter
em algo totalmente ineficaz para uma verdadeira vida espiritual.
Não resisto a
contar-vos o relato que ouvi a Tony de Melo.
É o melhor resumo de tudo aquilo que vos gostaria de transmitir sobre a
Eucaristia.
“Numa tribo de
povos primitivos, o mais atrevido deles descobriu um dia a maneira de fazer
fogo. A manipulação do fogo foi a invenção que mais contribuiu para o avanço da
civilização humana.
“O inventor quis
partilhar as suas vantagens com outras tribos. Pegou nos apetrechos e
dirigiu-se à tribo mais próxima.
“Reuniu a
comunidade e explicou-lhe a maneira de fazer fogo, e como o poderiam utilizar
para melhorar a qualidade da sua vida. As pessoas ficaram maravilhadas ao ver o
fogo surgir como que por artes mágicas. Em todos, espanto e agradecimento.
“O visitante deixou
ficar lá os utensílios de fazer fogo e regressou à sua tribo.
“Anos mais tarde
voltou à aldeia e perguntou pelas vantagens que tinham conseguido com a
utilização do fogo.
“Quando o viram
chegar, todos rejubilaram. Conduziram-no a uma pequena colina afastada do
povoado, onde tinham construído uma plataforma e, onde, no ponto mais alto,
tinham colocado uma urna, onde guardavam com devoção os instrumentos de fazer
fogo que ele lhes havia oferecido.
“Toda a tribo
costumava reunir-se, assiduamente, ali, para adorar e incensar aqueles instrumentos
tão preciosos. Mas… nem rasto de fogo em toda a aldeia.
“A vida daquela
tribo continuava exactamente igual ao que era antes. Não haviam extraído
nenhuma vantagem dos seus ensinamentos. Continuavam sem se atrever a usar o
fogo.”
Com os
conhecimentos que hoje tenho, não hesito em dizer que a última coisa que Jesus quereria era pedir às pessoas que
se pusessem de joelhos diante dele e o adorassem. Ele sim,
ajoelhou-se diante dos seus discípulos para lhes lavar os pés, e, no fim dessa
tarefa, que era própria dos escravos, disse-lhes:
“Chamais-me Mestre
e Senhor. Pois, se eu, o Mestre e Senhor, vos
lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros” (Jo 13:14)
Esta lição nunca
nos interessou. É mais cómodo convertê-la num
objecto de adoração, do que usá-la sob a forma de serviço e
disponibilidade para com todos os marginalizados.
Convertemos
a Eucaristia num rito puramente cultual, (…).
Frei Marcos, op