teologia para leigos

9 de novembro de 2013

EUCARISTIA - 3 [fr. MARCOS]

A Realidade Eucarística

Mt 18:20
“Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome
eu estou no meio deles”





Apesar de pertencer à tradição mais antiga, a Eucaristia é uma realidade muito profunda e complexa, talvez, a realidade cristã mais difícil de compreender e explicar. Não pretendo explicá-la nem esgotar todos os seus aspectos: isso seria impossível. Seguiremos o provérbio oriental: «Não precisas alcançar a verdade, basta-te abandonar os teus erros».

A Eucaristia não é magia. Claro que nenhum cristão acha que, quando celebramos a eucaristia, estamos a fazer magia. No entanto, se em qualquer dicionário formos ler a definição de magia descobriremos que essa definição assenta como uma luva naquilo que a maioria dos cristãos pensa da eucaristia:

“Uma pessoa coberta de uma roupagem especial e investida de poderes divinos, realizando gestos e pronunciando palavras «mágicas», que obrigam Deus a realizar uma mudança - «mudança substancial» - sobre uma realidade material, como é o caso do pão e do vinho”.

(…)

Não se trata do sacramento da carne e do sangue físicos de Cristo. Nas palavras da consagração, «corpo» não quer dizer corpo, e «sangue» não quer dizer sangue. Explico-me: (…)

Aquilo que os judeus tinham como a coisa mais horrorosa – apropriar-se da vida (do sangue) do outro – é o que Jesus pretende que aconteça. Tendes de fazer vossa a minha própria vida. Tendes de viver a mesma vida que eu vivi.

Está a dizer-nos que a nossa vida só será cristã se for derramada, se for consumida para benefício dos outros. Na eucaristia confessamos que ser cristão é ser para os outros.

Todas as estruturas que assentam no lucro, pessoal ou de grupo, não são cristãs.

(…)

Frei Marcos, op





Santo «Sacrifício» da Eucaristia
&
«Comunhão» eucarística


«Sobre a Eucaristia como sacrifício investigou-se e discutiu-se com muito fervor e escreveu-se sem limites. A própria importância do tema parece exigi-lo, bem como a dificuldade de explicar em que sentido a eucaristia é sacrifício, em que tipo de inter-relação se cruzam as múltiplas celebrações – todas e cada uma – com o sacrifício único e irrepetível de Cristo na Cruz.

«A minha tarefa é modesta: oferecer algumas reflexões bíblicas sobre o tema, a fim de enriquecer a minha participação.

1.    A comunidade de Israel elaborou um complexo e diferenciado sistema de culto, que originou uma terminologia diferenciada. Antes de mais, há que distinguir entre sacrifício e oferenda (zebah e minha): no primeiro, oferece-se uma vítima animal, no segundo oferece-se pão ou farinha, preparados de modos diversos, e acompanhados, consoante os casos, de azeite, sal, vinho, etc. A partir da ideia do ‘ofertório’, os nossos dons assemelham-se mais a «oferenda» que a sacrifício. A palavra minha” significa tributo, ou seja, a entrega do vassalo ao soberano: reconhecimento e entrega, ao mesmo tempo. (…)

«Toda esta “instituição” é, de algum modo relativizada por uma série de textos que aprofundam este sentido ou o trasladam a outros actos. (…) Se a morte de Cristo é um sacrifício, não segue o ritual do culto, antes o contradiz. Um “criminoso” dependurado dum patíbulo é abominável aos olhos de Deus (Dt 21:23). O estilo parece negar ponto por ponto o ritual; não há templo, apenas uma colina de supliciados; não há altar, apenas cruz ignominiosa; não há animal “sem defeito” (perfeito), apenas um homem condenado; muito menos há combustão (fogo) ou banquete. E, paradoxalmente, diante de tamanha negação do rito, parece salvar-se o sentido autêntico do sacrifício, que é reconhecimento e entrega.» [...]

Luis Alonso Schökel, sj