teologia para leigos

12 de novembro de 2013

EUCARISTIA - 4 [fr. MARCOS]

Dois símbolos de entrega




Mt 13:7
“O que agora faço não o podes entender,
mas dentro de algum tempo compreenderás”


O protesto de Pedro, face ao lava-pés, torna evidente que os discípulos não entendiam nada do que estava a acontecer. Que ninguém critique Pedro, pois até nós, dois mil anos depois, não fomos ainda capazes de desenterrar todo o seu significado mais fundo.

De facto, ainda não sabemos o sentido exacto que Jesus quis dar àqueles gestos e palavras. O próprio Jesus disse a Pedro que ele não poderia “por ora” entendê-los, prova evidente de que os cristãos do final do século I pensavam o mesmo que Pedro.

Sabemos que o lava-pés não era um rito de purificação (antes de comer, estava estabelecido lavar as mãos, mas não os pés). Não correspondia a nenhuma necessidade urgente (os discípulos bem que podiam permanecer por mais algum tempo com os pés sujos). Tão-pouco o podemos reduzir a um acto formal de humildade, pois Jesus dispensava formalismos.

O lava-pés fora uma acção profética, razão pela qual a memória do lava-pés que Jesus realizou na última Ceia se tenha convertido rapidamente no sacramento da nossa fé. E não foi sem razão, pois aqueles gestos e palavras contêm tudo o que Jesus foi durante a sua vida e tudo aquilo em que nos temos de tornar como cristãos.

O grande preâmbulo com que o texto arranca manifesta a importância que, para aquela comunidade, tinham os acontecimentos que ela desejava recordar:

“Ciente de que havia chegado a sua “hora”, a hora de passar deste mundo ao Pai, ele que havia amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao extremo”. (Jo 13:1ss)

Mas não menos surpreendente é o final do relato:

Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também.” (Jo 13:13-15)

Cristo está tão presente neste gesto como está na Eucaristia. Não se trata duma figura de estilo, esta minha frase. Caso percebamos esta correlação, então, estamos em condições para mergulhar no significado dos factos.

Lavar os pés era um serviço que somente os inferiores faziam aos superiores. Era tarefa para escravos.

(…)


Frei Marcos, op