Um sinal inequívoco
Jo 13:14
“Se eu ‘o Senhor’ vos lavei os pés,
deveis lavá-los também uns aos outros”
É estranho o facto do evangelista João, ao contrário dos sinópticos, não
mencionar a fracção do pão e que, no seu lugar, nos tenha narrado uma curiosa
acção de Jesus, que nos deixa desconcertados.
Se o gesto do pão e do vinho teve tanta importância
para a primeira comunidade cristã, por que é que João a omite? E, se é verdade
que Jesus lavou os pés aos discípulos, porque é que os três sinópticos não o
referem?
Não é fácil resolver esta questão, mas também não podemos ignorá-la ou
passar por cima dela, levianamente. Enquanto os exegetas não chegam a
conclusões que sejam mais ou menos definitivas, façamos algumas sugestões.
Sabemos que aconteceu uma ceia íntima.
Depois, o carácter de despedida foi-lhe dado pelos primeiros cristãos.
Seguramente que, nela, aconteceram coisas que, depois, se vieram a revelar
muito importantes para a primitiva comunidade cristã.
O gesto de partir o pão e de partilhar a taça de vinho era um gesto normal,
que o chefe de família realizava sempre em todas as ceias pascais. Aquilo que
Jesus lhe acrescentou – ele ou os primeiros cristãos – foi o carácter de símbolo da sua própria vida.
O gesto de lavar os pés é algo totalmente diferente. Era uma tarefa de escravos, exclusivamente de escravos. A
ninguém se lhe lembraria dizer que Jesus tivera tal acção se ela de facto não
tivesse acontecido. É, deveras, uma acção original, mas também de uma
profundidade maior que o partir do pão.
Claro que, nas comunidades primitivas, se privilegiou o partir do pão por
ser um gesto mais simples de executar. No entanto, a
força intrínseca da fracção do pão corria um perigo: convertê-lo num rito estereotipado sem compromisso pessoal.
Para mim, é aqui que reside a razão pela qual (…)
Frei Marcos, op