99% - 1%
IV
PARTE
O CAMINHO PARA A
FRENTE:
- OUTRO MUNDO É
POSSÍVEL
Para a maioria das pessoas, os
salários são a mais importante fonte de rendimento. As políticas monetárias e
macroeconómicas que provocam mais desemprego – e salários mais baixos para os
cidadãos – são uma grande fonte de desigualdade na nossa sociedade actual. Nos
últimos 25 anos, as políticas e as instituições monetárias e macroeconómicas
«correctas» falharam
quanto a produzir estabilidade; falharam quanto a produzir um crescimento
sustentável; e, mais importante ainda, falharam quanto a produzir um crescimento que
beneficiasse a maioria dos cidadãos na nossa sociedade.
À luz destas falhas dramáticas, poderíamos
ter antecipado uma estratégia de enquadramento macroeconómico e monetário
alternativo. Mas, tal como os bancos – que defendem que nenhum sistema é à
prova de acidentes, que têm sido vítimas de uma inundação raríssima, e que a
nossa actual recessão não é motivo para mudar um sistema que funciona – têm
sido notavelmente bem sucedidos em resistir à regulação, muitos dos que
mantinham as erróneas crenças macroeconómicas, que conduziram às defeituosas políticas
monetárias, continuam a mostrar-se impenitentes. Mantêm-se relutantes em mudar
essas crenças. Afirmam que a teoria estava certa:
o que se passou foram algumas falhas na sua implementação. [Cf. Ben S.
Bernanke, «Implications of the Financial Crisis for Economics», discurso na
Conferência co-patrocinada pelo Centro para Estudos de Política Económica e o Bendheim
Center for Finance, Princeton University, 24 de Setembro de 2010]
(…)
Outro mundo é possível
Não vale a pena fingir. Apesar da
crença persistente de que os norte-americanos gozam de maior mobilidade social
que os seus parceiros europeus, os Estados Unidos já não são a terra das
oportunidades.
Nada ilustra tão vivamente o que
aconteceu como a aflição dos jovens de hoje.
Em vez de começarem uma nova vida, cheios de entusiasmo e esperança, muitos
deles confrontam-se com um mundo de ansiedade e medo. Sobrecarregados com
empréstimos estudantis que sabem que terão dificuldades em pagar, e que não
serão reduzidos mesmo que entrem em falência, procuram bons empregos num
mercado deprimente. Se têm sorte de arranjar trabalho, os salários serão decepcionantes,
muitas vezes tão baixos que terão de continuar a viver com os pais.[1]
Os pais cinquentenários têm de se preocupar com
os filhos e ao mesmo tempo com o seu próprio futuro. Perderão as suas casas? –
interrogam-se. Serão forçados a reformar-se mais cedo? – atemorizam-se. As
suas poupanças, bastante diminuídas pela Grande Recessão, chegarão para o resto
da vida? – angustiam-se. Sabem que se enfrentarem dificuldades, não poderão
contar com a ajuda dos filhos. De Washington chegam notícias ainda piores: cortes no Programa Medicare, os quais tornarão
incomportável o acesso à saúde a alguns grupos. A Segurança Social também
parece estar na mesa de corte. Para os norte-americanos que enfrentam a
velhice, uma reforma confortável parece uma miragem. Os sonhos de uma vida
próspera e melhor para os seus filhos podem ser tão antiquadas quanto um filme
da década de 1950.
O que tem acontecido nos
Estados Unidos também tem acontecido em muitos países do mundo. Mas não é
inevitável. Não é inexorável ESTE funcionamento da economia de mercado.
(…)
Durante cerca de 30 anos os
trabalhadores norte-americanos viram o seu nível de vida corroer-se. Para os
que, nas profundezas da Grande Depressão, afirmaram que as forças do mercado
acabariam por triunfar e fariam a economia regressar ao pleno emprego, Keynes
respondeu que sim, a longo prazo, os mercados
podem funcionar – mas a longo prazo estamos
todos mortos.
(…)
Quando pensamos sobre como
fortalecer a nossa economia, é imperativo que não sucumbamos ao fetichismo do PIB. Vimos (nos Capítulos 1 e 4)
que o PIB não é uma boa medida de desempenho
económico. O PIB não reflecte com rigor as mudanças nos padrões de
vida, de um modo geral, da maioria dos cidadãos, e não nos diz se o crescimento
que experienciamos é sustentável.
(…)
Seria importante garantir um maior
acesso a informação objectiva, sem carácter
tendencioso, seguindo o exemplo de vários países escandinavos. Em
vez de terem a comunicação social completamente controlada por magnatas – a maioria deles pertencem aos 1% do topo, e cujos media
reflectem em grande parte as visões dessa elite –, tentaram, com
algum êxito, criar uma comunicação social mais democrática. Podíamos, como
muitos países europeus, dar apoio público a vários grupos de reflexão
independentes, para garantir um debate mais equilibrado sobre a sensatez de
políticas alternativas. (…)
Joseph E. Stiglitz,
Prémio Nobel da Economia de 2001.
RELATÓRIO
DA OXFAM_2014