teologia para leigos

8 de setembro de 2013

ORAÇÃO - DESAGRADÁVEL SURPRESA [G.-RUIZ]

A ORAÇÃO FOI ENCAIXOTADA, RECONVERTIDA
(um testemunho pessoal)


Cónego González Ruiz (Málaga)



[…] Há a possibilidade de surgir em cada um de nós duas personalidades: uma pseudo-espiritualidade força-nos a tornarmo-nos esquizofrénicos. Isto aparece dito nas prédicas dos exercícios espirituais: “vem repousar com Deus, deixa na pia da água benta todas as tuas preocupações e, agora, falemos com Deus”. Devo confessar que aquele Deus me repugnava. Por isso, no fim da minha adolescência, procurei avidamente a Bíblia, sobretudo o Novo Testamento. Quando fui capaz de ler bem o grego, pedi a uma livraria de Barcelona (que dista 1200 km de Málaga) uma cópia do Novo Testamento grego, da edição crítica das edições Vogels, porque no seminário, naquele tempo, não havia sequer uma cópia do Novo Testamento na sua língua original. Era o tempo do grande subdesenvolvimento teológico.

Nesse tempo, eu era feliz e levava à Igreja o meu Novo Testamento grego para alimentar a minha meditação religiosa, mas o superior repreendeu-me, dizendo que eu, um ávido intelectual, transformava a oração em estudo. Mas eu pensava: qual é a diferença entre o estudo e a oração? Agradeço a Deus ter superado aquela grande tentação de esquizofrenia. Ainda hoje, muitos amigos me censuram por ter abandonado a mesa das investigações bíblicas (que, apesar de tudo, nunca deixei) para «me sujar» com uma praxis comprometida, revolucionária, não conveniente à dignidade de um padre, sobretudo, se se é um cónego.

Pelo contrário, outros censuram-me uma pretensa manipulação dos textos bíblicos a favor de uma discutível opção revolucionária. Quero dizer a estes senhores duas coisas: primeiro, que não chega dizer que eu tenha manipulado os textos; é preciso demonstrá-lo. Posso dizer que tenho calos causados por tantos anos de estudo paciente na obscuridade das bibliotecas, sobretudo, na do Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Em segundo lugar, a minha praxis comprometida não é anterior ao meu estudo e meditação da Bíblia, mas posterior e, por isso, dela derivada. Foi a Bíblia, aquele Deus incómodo de Abraão, de Isaac, de Jacob, de Jesus, de Pedro, de Paulo, que me empurrou para aquela praxis. Nas minhas orações, quantas vezes me recordei das angustiantes orações de Jesus em Getsemani. Eu via que a vontade de Deus era (…)

J. M. González Ruiz

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