teologia para leigos

3 de junho de 2013

O ESPÍRITO DE JESUS [PAGOLA]

O Espírito de Jesus

 
«Pentecostes»

Jesus surge na Galileia quando o povo judeu vivia uma profunda crise religiosa. Há muito que Deus se afastara do seu povo. Os céus «trancaram-se por dentro». Uma espécie de muro invisível parecia impedir a comunicação entre Deus e o seu povo. Ninguém ouvia já a sua voz. Já não havia profetas. O Espírito de Deus desaparecera.

Pior que tudo era a sensação de que Deus os esquecera [Lm 5:20-22]. Os problemas de Israel já nada diziam a Deus. Porque é que Deus se mantinha oculto? Porque é que se mantinha tão longínquo? Seguramente que muita gente ainda se lembrava da ardente oração dum profeta antigo que rezava assim a Deus: «Oxalá o céu se rasgue e Tu desças».

Os primeiros ouvintes do evangelho de Marcos seguramente que ficaram surpreendidos. Segundo o relato de Marcos, ao sair das águas do rio Jordão, depois de ter sido baptizado, Jesus «viu rasgar-se o céu» e sentiu que «o Espírito de Deus descia sobre ele». Finalmente era possível o encontro com Deus. Sobre a terra caminhava agora um homem cheio do Espírito de Deus. Chamava-se Jesus e vinha de Nazaré.

Este Espírito que desce sobre ele é o sopro de Deus que cria a vida, a força que renova e que cura os viventes, o amor que tudo transforma. Por isso, Jesus dedica-se a libertar a vida, a curar e a fazer a vida mais humana. Os primeiros cristãos não quiseram ser confundidos com os discípulos do Baptista. Eles sentiram-se baptizados por Jesus através do seu Espírito.

. Sem esse Espírito tudo se apaga no cristianismo, a confiança em Deus desaparece, a fé debilita-se, Jesus fica reduzido a uma personagem do passado, o Evangelho converte-se em letra morta. O amor arrefece e a Igreja não passa de mais uma instituição religiosa.

. Sem o Espírito de Jesus, a liberdade afoga-se, a alegria apaga-se, a celebração converte-se em hábito, a comunicação fractura-se. Sem o Espírito, a missão é esquecida, a esperança morre, os medos crescem, o seguimento de Jesus acaba em mediocridade religiosa.

O nosso maior problema é esquecermo-nos de Jesus e é o descurarmos o seu Espírito. É errado, com organização, com trabalho, com devoções ou estratégias diversas, pretendermos conseguir aquilo que só pode nascer do Espírito. Temos que voltar à raiz, recuperar o Evangelho em toda a sua frescura e verdade, baptizarmo-nos com o Espírito de Jesus.

Que ninguém se iluda. Se nós os cristãos não nos deixarmos reavivar e recriar por esse Espírito nada teremos para oferecer à sociedade actual, tão vazia de interioridade, tão incapacitada de amor solidário e tão necessitada de esperança.

J A PAGOLA
2 de Janeiro de 2012.
O baptismo do Senhor
Marcos 1:7-11