teologia para leigos

17 de fevereiro de 2013

OPÇÃO NÃO-PREFERENCIAL PELOS POBRES [VIGIL]

A Opção pelos Pobres é «Opção pela Justiça»,
(e não é Preferencial)

Para um reenquadramento teológico-sistemático
da
«Opção pelos Pobres»


Os pais da «Teologia da Libertação»



Situação da questão

Sempre dissemos que a Opção pelos Pobres se fundamenta em Deus mesmo, no ser de Deus, e tem, portanto, natureza “teocêntrica”.[1] De alguma maneira, podemos dizer que o próprio Deus é quem faz a opção pelos pobres - Deus “é” opção pelos pobres. Era um consenso universalmente sentido que esta Opção pelos Pobres se baseava, precisamente, no Amor-Justiça do Deus bíblico e cristão.[2]

Entretanto, com o advento da “crise da Teologia da Libertação”, alguns autores suavizaram o seu discurso sobre a “Opção pelos Pobres”, preferindo abandonar a perspectiva do Amor-Justiça,[3] substituindo-a quase completamente pela da “gratuitidade” de Deus como fundamento da Opção pelos Pobres. Neste novo posicionamento, Deus, simplesmente “prefere” os pobres, tem uma “fraqueza” misericordiosa, uma “ternura” incontida para com eles, e não é preciso procurar muitas razões para esse facto, precisamente porque é “gratuito”.

A Opção pelos Pobres resultaria numa espécie de “capricho” de Deus para com os “pequenos”, os “fracos”, os “insignificantes”. É destes que hoje se deveria falar, e já não mais dos “pobres” no sentido forte[4] do discurso clássico, o qual hoje estaria já ultrapassado. A própria teologia da Opção pelos Pobres deveria desvincular-se do tema forte da justiça e ser adjudicada ao tema suave da gratuitidade.

A minha tese é (…)


José María Vigil

[14 pp.]






[1] “Digamo-lo com clareza: a razão última dessa opção está no Deus em quem cremos. (...) Trata-se, para o crente, de uma opção teocêntrica, baseada em Deus”. G. GUTIÉRREZ, “El Dios de la Vida”, Christus 47(1982)53-54, G. GUTIÉRREZ, La fuerza histórica de los pobres, Lima, 1980, pp 261-262.

[2] Apesar de ser uma obviedade, ver a tese doutoral de J. LOIS, Teología de la Liberación: opción por los pobres. Madrid: IEPALA 1986. Aí se estuda a Opção pelos Pobres em vários dos principais teólogos da libertção do período clássico.

[3] Um caso claro pode ser o de Gustavo GUTIÉRREZ. Numa palestra pronunciada diante de Ratzinger, afirma: “A temática da pobreza e da marginalização convida-nos a falar de justiça e a ter presentes os deveres do cristão a respeito. Na verdade é assim, e esse enfoque é sem dúvida fecundo. Mas não se deve perder de vista o que faz que a opção preferencial pelos pobres seja uma perspectiva tão central. Na raiz dessa opção está a gratuidade do amor de Deus. Este é o fundamento último da preferência”. A partir desse momento, já não volta a aparecer a palavra “justiça” na sua dissertação e toda a Opção pelos Pobres gira em torno à “gratuidade”. Cf. G. GUTIÉRREZ, Una teología da liberación en el contexto del tercer milenio, in VÁRIOS, El futuro de la reflexión teológica en América Latina. Bogotá: CELAM, 1996, p. 111. Não se trata de um texto isolado, mas sim, na minha modesta opinião, de uma perspectiva suavizada comum na teologia da Opção pelos Pobres de G. Gutiérrez já há mais de uma década; cfr. G. GUTIÉRREZ, Pobres y opción fundamental, in  Mysterium Liberationis, San Salvador, UCA Editores, 1991, pp. 303ss, 310.

[4] Pobres que eram uma realidade “coletiva, conflitiva e socialmente alternativa”: C. BOFF, ¿Quiénes son hoy los pobres, y por qué?, in J. PIXLEY / C.BOFF, Opción por los pobres, Madrid: Paulinas, 1986, pp. 17ss.