A «protecção de menores»
ao nível dum call center… católico
de vão de escada
Numa
semana de barbárie noticiosa que chocou o país, o ministro P. Mota Soares (que
destrói o Estado Social e manda para o desemprego numerosos técnicos altamente
qualificados em matéria de «protecção de menores») é apoiado pelas IPSS da
Igreja católica. Estas, dispõem-se a realizar o serviço público que o governo
destrói a troco de uns míseros 116 mil euros, vindos do erário público… A Igreja católica, almofada duma 'política assassina' destruidora
do bem-comum, conseguiu meter o «seu» ministro no Governo, alguém que desvia
dinheiros públicos para instituições privadas/religiosas num Estado
que se diz laico…
Até parece que
regressámos à (vergonhosamente) célebre «Pastoral Financeira» dos finais dos anos 20…
em que os bispos, o arcebispo primaz e o patriarca instavam os fiéis a cooperar
com a obra patriótica de salvação financeira de Portugal, por parte de Salazar!
É
conivência a mais! De dentro da hierarquia católica, tem de haver quem levante
a voz… sob pena do «quem cala consente» com esta descarada desumanidade associal.
Governo corta subsídios
a crianças com deficiência
(Sexta às Nove - 28 Fev. 2014)
TSF – LINK: « O Estado
não pode demitir-se das suas funções»
A IGREJA TEM DE LEVANTAR A VOZ…
«Hoje,
quando se procura, por razões de eficácia, substituir a política democrática
pela tecnocracia, corre-se o risco de resvalar para a ditadura. A sua desumanidade começa quando a cura das finanças não
se importa com a sorte das pessoas.
«Com
aparências democráticas, vários poderes convergem no processo de impor a
ditadura por toda a parte. As maiorias governamentais de pouco servirão se
forem controladas por poderes que não controlam. No momento em que aceitamos a linguagem
perversa de que não há
alternativas, deixamos o campo livre ao determinismo mais imbecil,
optando pelo grau zero do pensamento,
desistindo da condição humana.
«Neste cenário, o que
pode fazer a Igreja? Não é fácil responder porque, à
partida, a opinião pública continua a alimentar um equívoco: quando se fala das
relações entre a Igreja e a Política, pensa-se, exclusivamente, nos
pronunciamentos e atitudes da hierarquia eclesiástica, esquecendo a indispensável
intervenção de mulheres e homens baptizados no Espírito de Jesus Cristo e que
se devem empenhar na reconfiguração de uma nova política, a nível local e
global. (…)
«A relação activa da Igreja com a Política
joga-se à semana e ao domingo na prática diária dos cristãos. (…)
«A Igreja é política e é política de primeira
linha.
Não se refere à hierarquia. (…) muitos dos baptizados assumem responsabilidades
ao nível do Estado, procurando, com o seu saber e segundo a sua consciência,
promover o bem comum.
«Este
modo de ser Igreja não forma um partido confessional. Não faz política de
partido. Dentro ou fora dos partidos, tem de tomar partido pelos mais desfavorecidos, pelos sem
voz, pelos espezinhados na sua dignidade humana, pelos doentes, pelos idosos,
pelos incapacitados, pelos estrangeiros. Reivindica a justiça para
todos como fundamento da paz, empenhando-se por uma justiça e uma protecção
sociais destinadas a toda a gente. Protesta quando alguém enriquece, de forma egoísta, à
custa dos outros. Por estas causas, tem
de levantar a voz na opinião pública.
«Neste
sentido, a
Igreja, enquanto comunidade das cristãs e cristãos, é política e muito política,
como um todo, na diversidade das suas opções partidárias. Jesus não pediu aos
seus discípulos para formarem uma sociedade paralela. Pelo contrário, rezou a Deus
para que não os tirasse do mundo, mas os guardasse do mal. (…)»
Frei
Bento, op [27/11/2011]
«LAICIDADE CRISTû
Buscas [Departamento de Investigação e Acção Penal/PJ
+ Segurança Social] na
OBRA DIOCESANA de PROMOÇÃO
SOCIAL do PORTO
«No aproveitar é que está o ganho» ou «a ocasião faz o ladrão»
A
negociata da caridadezinha must go on…
Passado:
«O
que o Estado Novo salazarista "ofereceu" à Igreja foi sempre
considerado suficiente
pela Igreja oficial para justificar as relações pacíficas entre as autoridades
espirituais e temporais e para garantir a "legitimidade" do regime no
que tocava à sua conformidade com os seus deveres cristãos essenciais.» (…) «… existiu
também uma
genuína comunhão de visões com o Estado Novo, expressa nos avanços práticos
proporcionados à Igreja por Salazar (…) e, em última análise, no empenho comum
na afirmação privilegiada do catolicismo como essência espiritual "natural"
da nação portuguesa (…).» «D. António Ribeiro [nomeado patriarca a 10 de Maio de 1971, 3
anos após a nomeação de Marcelo Caetano] distanciou progressivamente a
Igreja da ditadura. A carta pastoral
coletiva de Maio de 1973 reconheceu os méritos do pluralismo
político. Esta postura combinada com a atitude conciliadora dos "revolucionários"
de 25 de Abril (…), revelou-se suficiente para poupar a Igreja Católica a
qualquer represália política grave depois de 1974 e até para lhe permitir furtar-se a um
exame de consciência pelo papel que desempenhou na era ditatorial. Esta autocrítica continua por
fazer.» [e é com estas palavras que encerra a obra «A Igreja Católica e o Estado
Novo salazarista», por Duncan Simpson, Edições
70, 2014]
Presente:
«Um mundo sem utopias, está inevitavelmente a olhar para o
passado» [Enzo Traverso, "Memórias europeias. Perspectivas
emaranhadas"]. A Igreja católica portuguesa, incapaz de oferecer a
"Utopia de Jesus" (Rubén Dri), opta – como fez no passado da ‘outra senhora’
– por manter-se subordinada aos interesses políticos vigentes, como é o caso da
introdução dum conceito thatcherista para efeitos de cálculo da cobrança dos
idosos nos Lares da igreja católica: as despesas repartem-se, agora, entre o utente, os
familiares (sobrinhos, netos, filhos, etc. etc.) e o Estado!,
independentemente dos descontos já
efectuados. Trata-se de ’pagar a dobrar’… porque o dinheiro da
Segurança Social destina-se aos especuladores e à Banca e não a quem precisa. É a legitimação, por parte da Igreja
católica, dos princípios neoliberais que, desde Reagan, foram
finalmente desacorrentados da legislação que os enquadrava… Com este protocolo
assinado entre as instituições da Igreja católica portuguesa e o Governo
Neo-liberal vigente, assistimos à submissão da Igreja oficial ao mais alto
nível: ao nível da ideologia! O Evangelho de Jesus pode esperar…
«Idosos vão
pagar mais para viver num lar da rede solidária»
Jornal Público,
05-05-2015:
Padre Américo Aguiar, vigário-geral da diocese do Porto [foto CM] |
07.05.2015 – «Correio
da Manhã»
[por Manuel Jorge Bento]
Sacerdote recebe 5 mil euros/mês
Valores
atribuídos ao padre Américo Aguiar por funções diretivas
Entre 2010 e 2013, o vigário-geral
da diocese do Porto, o padre Américo Aguiar, foi remunerado pela Santa Casa da Misericórdia com salários
mensais que oscilaram entre quatro e cinco mil euros. A este valor, acresceram
300 a 400 euros pelas funções na diocese. Os valores constam do extrato de
remunerações emitido pela Segurança Social e que chegou ao Correio da Manhã numa nota de imprensa com a assinatura ‘Ecclesia
Leaks’. O sacerdote diocesano já reagiu. Adiantou que os elementos da Igreja declaram os rendimentos em sede de IRS desde
2005 e fazem os respetivos descontos.
António Tavares, provedor da Misericórdia do
Porto, confirmou ao CM que o capelão-mor da instituição assumiu funções de direção de Cultura, Empreendedorismo e
Comunicação, que já deixou. "Se qualquer padre ganhar 10,
20 ou 30 mil euros noutras funções, deve viver de acordo com o que pode fazer pelos outros,
com os princípios que orientam a nossa vida e ir em subsídio de muitas situações",
diz Américo Aguiar, que lamenta que sejam lançadas "nuvens e trevas sobre
quem é sério".
Ler mais em:
SANTO ANTÓNIO DE LISBOA
Sermão do 4º Domingo depois do Pentecostes
«Mas porque se dá isto? Porque as sentinelas da Igreja são todas cegas, privadas da luz da vida e da ciência; são cães mudos que têm na boca a rãzinha do diabo e por isso não conseguem ladrar contra o lobo. Vêem coisas vãs, porque pregam por dinheiro (...). Ignoram a saciedade, dizendo sempre: Mais, mais e nunca: basta. (...) Não têm força no espírito, não conseguindo resistir às tentações do diabo. Têm, porém, a força máxima da rapina (...); vão atrás das colmeias das abelhas, isto é, atrás das casas dos pobres. Apetecem sobretudo os favos do louvor e da vanglória, a saber, as saudações na praça, os primeiros assentos nos banquetes, as primeiras cadeiras nas sinagogas (Mt 23,6-7), eles que hão-de carecer das segundas. Estes, depois de terem provado as bagas da mandrágora, morrem.»
CALL CENTERS:
- à descoberta da ilha
Por
Fernando Ramalho e Rui Duarte[1]
«Bom
dia, está a falar com R. Tenho o prazer de estar a falar com…? Em que posso
ajudar?» Repetir esta frase entre 60 a 80 vezes por dia é apenas uma das
tarefas a que milhares de operadores de call
centers (centros de atendimento e de contacto) se dedicam.
Trata-se de uma realidade comentada por
muitos, mas apenas conhecida por aqueles que a experimentam. É um território
insular, para onde se vai com o intuito de «passar uns tempos», mas cuja viagem
de regresso nunca está marcada. Ilha,
não só porque o espaço físico onde se desenrola a actividade de um operador de call center tem essa designação, mas
também porque se trata de um território isolado, escondido para o exterior.
Após uns anos na faculdade ou a tirar um curso de formação, a necessidade
aperta e é preciso dinheiro. Olhar para as ofertas de emprego é pôr uns óculos
de lentes afuniladas que muitas vezes nos levam para o desconhecido mundo dos call centers.
Aí chegado, as conversas com os amigos e
familiares não versam sobre essa sua realidade sem interesse e desprestigiante,
pelo menos sob o rigoroso e empreendedor olhar do circuito que nos rodeia. Sendo
assim, a primeira lição é dada socialmente: as oito horas diárias que consomem
um terço do quotidiano não são tema de conversa nem de interesse. Aprende-se,
portanto, a esquecer. As regras básicas são as mesmas que um soldado raso tem
de saber de cor. Começa-se por ouvir do formador que tudo o que ali está a ser
ensinado pode e deve ser imediatamente esquecido, caso algum superior
hierárquico assim o diga, mesmo que possa parecer totalmente despropositado: «a
obediência é o óleo da máquina». Depois aprende-se que nada é feito ao acaso:
uma infernal máquina de produção em série está à espera do operador na sala ao
lado. Essa máquina funciona com um curioso combustível, o objectivo, associado
ao TMA (tempo médio de atendimento) e às NC (não-conformidades) ou seja, erros
ou esquecimentos que põem em causa toda a máquina: «qualquer distração pode ser fatal»,
ouve-se com frequência. Fatal para o cliente, mas também para o operador,
na medida em que os prémios de produção dependem da ausência de erros em todas
as dezenas de chamadas que se fazem ou se recebem diariamente. No entanto, quando
o trabalho se complexifica, há muitos operadores que podem tratar do mesmo
cliente. Por exemplo, um trata do problema do cliente X em sistema informático,
sendo que outro deve contactá-lo a informar da resolução dada. Aí, nem sempre o
todo-poderoso big brother dos
superiores e da gestão consegue actuar para detectar erros. Então, são os
próprios colegas que são instruídos a vigiar e denunciar as faltas dos seus
pares. Nesses casos, há call centers
em que os colegas se transformam em inimigos brutais: perder um subsídio que
ajuda a enganar o magro ordenado pode fazer verdadeira mossa.
Trabalhar num call center durante anos e nem sequer saber o nome de alguns dos
colegas é outra das particularidades do ofício. A Ilha
(posição de atendimento) de cada um está separada dos outros por grossos
vidros, os horários de trabalho são muito diferentes e não há verdadeiro
trabalho de equipa. Devido à sagrada produtividade, é muito raro que os
intervalos sejam gozados em conjunto. Um a um, à vez, na sala de fumo, tenta,
em dez minutos certos, descansar a cabeça das várias horas seguidas ao
computador sem poder mudar de posição.
Quando há avalanches de chamadas e o
trabalho se multiplica, o tempo torna-se o deus da produtividade. Atendem-se
várias dezenas de chamadas e as resoluções, sempre muito semelhantes entre si,
devem ser fornecidas com a maior rapidez possível. Quando um dos sistemas
informáticos (o programa de gere os clientes, ou o que dá ajuda ou ainda o que
activa serviços) bloqueia ou fica lento instala-se o pânico nas chefias. A
resposta passa a ser dada com lentidão e os supervisores começam,
freneticamente, a deslocar-se à posição de cada um dos operadores a pedir
contas pelos atrasos na resolução. Todo este alvoroço é facilmente explicado: as empresas
recebem pelo número de chamadas atendidas ou efectuadas.
Curiosamente, também os tempos mortos podem
ser um verdadeiro tormento. Mesmo sem chamadas, não se pode ler um livro ou aceder à
Internet, restando ficar a olhar para o computador, nem que passem
intermináveis minutos. Os mais audazes arranjam livros de bolso que
tentam camuflar entre o teclado e o monitor, mas, para seguir esta estratégia,
é necessário desenvolver uma avançada técnica de quase estrabismo: um olho nas
letras da página e o outro olho atento a eventuais movimentos de aproximação da
gestão ou da supervisão. Claro que se o «meliante» for um subversivo
reincidente, arrisca-se a ficar mal visto, e a própria renovação de contrato
pode ficar em causa.
Sindicalismo nos call
centers
A luta laboral,
tal como outras realidades existentes fora da ilha,
não têm lugar no call center. Os
activistas sindicais que aparecem são autênticas personagens fellinianas. Está
um dia normal (…)
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