teologia para leigos

9 de maio de 2013

REINO DE DEUS OU MEDIAÇÕES HISTÓRICAS? [JON SOBRINO]

JESUS E O REINO DE DEUS





(…) O que de positivo deve a Igreja fazer é colocar-se naquele lugar a partir do qual se ilumine a tarefa concreta que tem de realizar numa determinada época: o seguimento de Jesus.

E, a partir daí, aprender a valorizar a sua missão, sem apelar apressadamente à apocalíptica (isto é, à plenitude ainda não conhecida) a fim de ignorar ou desvalorizar o presente histórico, mas seguindo, isso sim, o caminho profético de Jesus. A apocalíptica deve ser, hoje, igualmente o horizonte último para a igreja, mas não – como foi e é tentação frequente − à custa de ignorar o último da história.

A missão da Igreja tem que ser pensada e levada a cabo não só a partir do reino de Deus, mas a partir da aproximação desse reino. Por isso, hoje como no tempo de Jesus, a apocalíptica adquire formas concretas e verificáveis.

E porque a existência escatológica que se oferece à Igreja é o seguimento de Jesus, e não uma mera imitação mecânica de Jesus, a Igreja terá que aprender como é que, historicamente, se põe ao serviço da aproximação do reino.

De Jesus aprenderá o rumo fundamental:

. que Deus é maior do que qualquer configuração histórica da própria Igreja;

. que Deus é também e paradoxalmente menor, posto que o seu rosto surge nos mais pequenos e oprimidos;

. que o pecado tem nomes concretos na história e que ele encarna não só no indivíduo, mas na sociedade;

. que a praxis do amor é o último que pode realizar;

. que esse amor tem que ser eficaz e realmente transformador e, por isso, deve chegar não apenas à pessoa como indivíduo, cônjuge, familiar ou amigo, mas à sociedade como tal, às maiorias oprimidas, isto é, deve ser justiça;

. que o seguimento de Jesus é parcial para com os pobres e oprimidos;

. que há que estar disposto, tal como Jesus, a mudar, a converter-se, a passar por roturas, a deixar Deus ser Deus;

. que há que estar dispostos à entrega, ao sacrifício, à perseguição, a dar a própria vida e não a preservá-la para si.

Dentro deste rumo do seguimento, a Igreja irá aprendendo, a partir de dentro, correndo riscos e equívocos:

. quais são as mediações concretas que hoje mais se aproximam do reino de Deus;

. quais serão os sistemas sociais, económicos e políticos que melhor iluminam a aproximação do reino;

. onde adeja o Espírito de Jesus, se nos centros do poder ou se nos rostos dos oprimidos;

. como deve ser concebida e organizada a Igreja: a partir das alturas institucionais ou a partir da base do povo;

. que pecados concretos devem, iniludivelmente, ser denunciados, etc., etc.[1]

Colocar a questão da escatologia do reino de Deus, torna-se, então, mais simples. Trata-se de aprender, de Jesus, como viver, como ser Igreja na fé do reino que se aproxima. É neste processo de aproximação que o homem e a mulher se devem transformar. Esta aproximação do reino sem nenhum tipo de falsa piedade é entendida a partir da aproximação de Jesus, a qual acontece no seu seguimento. É isto que cremos ser decisivo para a Igreja, pois é a partir daí que melhor se entende o último de Jesus. (…)


Jon Sobrino, sj

[pp. 19]


[1] Como, após a ressurreição de Jesus, elaborar esse discernimento, na história, já o dissemos em «O seguimento de Jesus como discernimento cristão», em Concilium, Novembro 1978, pp. 521-529.