«cortaram as asas ao rouxinol,
rouxinol sem asas não pode voar…»
[Adriano Correia de Oliveira]
a sublevação dos pássaros
Lição das Asas
Nós nascemos para ter asas, meus amigos.
Não se esqueçam de escrever por dentro do peito: nós nascemos para ter asas.
No entanto, em épocas remotas,
vieram com dedos pesados de ferrugem
para gastar as nossas asas
como se fossem tostões.
Cortaram-nos as asas para que fôssemos apenas
operários obedientes, estudantes atenciosos,
leitores ingénuos de notícias sensacionais,
gente pouca, pouca e seca.
Apesar disso, sábios, estudiosos do arco-íris
e de coisas transparentes,
afirmam que as asas dos homens
crescem mesmo depois de cortadas,
e, novamente cortadas, de novo voltam a ser.
Aceitamos esta hipótese,
apesar de não termos dela qualquer confirmação prática.
Por hoje é tudo. Abram as janelas. Podem sair.
(José Fanha)
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